Futebol tipo exportação
A transferência do jogador Neymar da Silva Santos Júnior para a Espanha reitera o padrão que caracterizou o futebol brasileiro por décadas. Clubes endividados, mal administrados e submetidos a torneios e calendário bizantinos, se desfazem de talentos que poderiam gerar ganhos capazes de elevar o esporte todo ao nível de excelência alcançado pelos jogadores.O processo é análogo ao que se observa em economias subdesenvolvidas. Vende-se matéria-prima para ser transformada e ganhar valor em centros mais avançados.
É verdade que, no caso de Neymar, sua agremiação, o Santos, moveu esforços e usou de criatividade para alongar por tempo inusual a permanência do atleta no país. Criou-se um projeto financeiro, com o concurso de marcas e patrocinadores, para permitir que o principal jogador brasileiro seguisse no clube paulista até a Copa do Mundo de 2014.
Não foi, porém, o que aconteceu. Com apenas 21 anos, o craque da seleção brasileira tornou-se atleta do Barcelona. A tentativa dos dirigentes santistas, apesar de apenas parcialmente bem-sucedida, não deixa de ser um sinal de que algo se move para modificar o quadro atual. O momento, de fato, é propício.
Sede do próximo Mundial, o Brasil, com todos os atrasos e problemas, passa a contar com infraestrutura atualizada --estádios do melhor nível internacional-- para o futebol. Se a Copa, ao que tudo indica, vai falhar em parte considerável do legado urbanístico prometido, não há dúvida que deixará arenas de qualidade --uma das condições indispensáveis para a exploração econômica eficiente do fenômeno popular do futebol.
Além disso, o fato de estar no centro das atenções do mundo esportivo envolve o país num ambiente mais propício ao investimento e à modernização.
Alguns de nossos dirigentes têm demonstrado, ademais, que estão atentos às novas oportunidades que se oferecerão. O quadro, no entanto, ainda é marcado por anacronismos --a começar pela direção da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), na figura de seu atual presidente, José Maria Marin.
Os clubes obtiveram considerável aumento de receitas (de R$ 2,24 bilhões, em 2011, para R$ 3 bilhões, em 2012), mas continuam a depender em demasia da TV. Paralelamente, apenas os compromissos dos cinco maiores devedores atingem mais de R$ 2 bilhões.
A Copa representa uma oportunidade para subir de patamar. É cedo, porém, para saber se ganharemos esse jogo de profissionais.
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EDITORIAIS@UOL.COM.BR
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Tigres latinos
Chile, Colômbia, México e Peru aprofundam integração comercial, enquanto Brasil marca passo com Argentina no emperrado Mercosul
Reunidos na Colômbia, os líderes de Chile, Colômbia, México e Peru reforçaram acordos de liberalização comercial. O grupo, que forma a Aliança para o Pacífico, decidiu pela isenção total de tarifas para 90% dos produtos comercializados entre si. Resta discutir detalhes, mas as novas regras devem vigorar a partir de 30 de junho.
Não é pouca coisa. A Aliança soma 209 milhões de habitantes e PIB próximo de US$ 2 trilhões. Não fica longe, assim, do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela), que tem 279 milhões e PIB de US$ 3,3 trilhões.
Se a Aliança avança para se tornar uma área de livre comércio, o Mercosul patina, tolhido pelo lastro de problemas econômicos dos protagonistas (Brasil e Argentina), além do caos venezuelano.
Noticia-se que a Aliança pode também atrair novos países. Dois membros do próprio Mercosul --Paraguai e Uruguai-- são observadores. Além disso, o bloco se alinha naturalmente com a estratégia para o Pacífico lançada pelos EUA.
É fato que o Brasil errou em sua estratégia comercial ao privilegiar o multilateralismo --que não teve avanços na última década, por conta da paralisia da Rodada Doha-- e negligenciar acordos regionais ou bilaterais de liberalização. Mas tais diretrizes não são excludentes. O problema principal do Brasil deriva da falta de visão estratégica e de barreiras ideológicas ao conceito de livre comércio.
Na última década, o país permaneceu preso a uma visão antiquada e ineficaz de protecionismo, ainda pautada pela substituição de importações.
O governo não se dá conta de que o comércio internacional --e a própria conquista da competitividade-- se pauta pela integração nas cadeias produtivas globais, para ganhar escala e incorporar tecnologia, nem de que a integração ocorre mais entre firmas, isto é, cada empresa com suas próprias redes. Isso pressupõe abertura tarifária e menos barreiras técnicas.
Tal é a agenda perseguida pelos membros da Aliança, cujo avanço conta com o apoio entusiasmado de suas lideranças empresariais. É flagrante o contraste com o desânimo do setor privado brasileiro diante do Mercosul.
Está mais que na hora de o Brasil reavaliar seu modelo de inserção global, hoje incompatível com sua dimensões e sua estrutura econômica diversificada. No entanto, como na política econômica, esse tipo de pensamento estratégico não parece vicejar no governo.
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