Dilma precisa evitar que se repita com
ela o que ocorreu com José Serra em 2002: o PMDB integrou a coligação
tucana, mas boa parte das seções apoiou Lula
Estado de Minas: 04/06/2013
O tema imediato da
reunião de ontem entre a presidente Dilma Rousseff e os cardeais
peemedebistas era a rebeldia da base governista, que tem seu maior foco
na bancada do PMDB. Mas o problema candente e correlato, e que pode ter
consequências mais danosas, é o esgarçamento da aliança PMDB-PT, que não
se replicará na maioria dos estados. Quando isso começou a ficar
evidente, os dois lados diziam não haver nada demais na existência de
dois palanque pró-Dilma, situação já ocorrida em 2010. Mas agora surgem
os primeiros sinais de que algumas seções peemedebistas flertam com o
pré-candidato do PSB, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
Preservar a aliança, para Dilma, tornou-se agora tão ou mais importante
do que garantir o apoio parlamentar.
Em 2010, Dilma foi eleita
pela maior coligação já construída nos tempos democráticos, composta por
nove partidos. Nem Lula, que ajudou a costurá-la, contou com tal leque
de apoios. A força e a amplitude de uma aliança não garantem nenhuma
eleição, mas têm seu peso. Cada fragmento perdido tem seus custos
eleitorais. Saindo candidato, e tirando o PSB da coligação, Eduardo
Campos levará boa parte dos votos que Dilma conseguiu no estado onde
obteve a maior vantagem sobre Serra, em 2010, na Região Nordeste, que
praticamente lhe assegurou a vitória. O outro concorrente, senador Aécio
Neves, do PDSB, sem dúvida fará um arrastão de votos em Minas. Por
isso, Dilma não pode se dar ao luxo de perder o apoio do PMDB em estados
que devem compensar as prováveis perdas. O Rio é um deles. Ali, ela
teve uma grande votação em 2010, subindo ao palanque do governador
Sérgio Cabral (PMDB), que disputava a reeleição. Agora, o PT terá seu
candidato, Lindbergh Farias, e o governador é um dos que ameaça não
apoiar Dilma. Garotinho, do PR, também concorrerá. E, para completar, o
ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB), vem sendo incensado a se
lançar também. Por ora, ele defende apenas o direito do PT à candidatura
própria, num sinal de que pode apoiar Lindbergh.
No Rio Grande
do Sul, o PMDB não apoiará a reeleição do governador, Tarso Genro (PT), e
existe o flerte com Campos, situação que se repete em Rondônia e Bahia,
onde o vice-presidente da Caixa, Geddel Vieira Lima, articula uma chapa
para disputar com o PT a sucessão do governador Jaques Wagner.
A
costura da aliança vem sendo feita pelo presidente do PT, Rui Falcão,
que passou a contar com a ajuda do ministro da Educação, Aloizio
Mercadante. Estão praticamente fechados os entendimentos com o PP, o
PSD, o PR e o PDT. O acordo com o PTB vem avançando. O PRB apoiará Dilma
para presidente e Alckmin para governador. São apoios importantes, que
agregarão tempo de televisão e palanques para a candidata. Mas é o PMDB,
por sua força no Congresso, capilaridade no país, número de prefeituras
e força eleitoral das lideranças locais, que fará o papel de pilar
forte da coligação.
Os problemas no Congresso e a fragmentação da
aliança não são coisas distintas. Um problema alimenta o outro. A
cúpula do PMDB não tem a menor disposição para virar oposição ou romper
com o governo. Ontem mesmo, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo
Alves (RN), brindou Dilma com o pedido de um minuto de palmas no evento
de Natal. Mas a presidente precisa evitar que se repita com ela o que
ocorreu com José Serra em 2002: o PMDB integrou a coligação tucana, mas
boa parte das seções apoiou Lula. Essa, certamente, era sua maior
preocupação ontem.
Dois mundos
Nos
próximos dias, o governo começará a liberar R$ 2 bilhões em emendas
parlamentares. Ajuda, mas não resolve. A base governista quer também
atenção e gentileza. Quer que o governo compreenda, por exemplo, a
importância das audiências com autoridades para os deputados.
Especialmente, para o chamado “deputado resolutivo”, aquele que recebe
um problema do prefeito que o apoia e vai em busca da solução federal,
quando ela é possível. Ou, pelo menos, de uma resposta. O Planalto não
compreende o mundo do Congresso, dizem eles. Por isso, parece inexorável
a aprovação da execução obrigatória das emendas. Se o governo achar que
isso é mesmo inconstitucional, baterá às portas do Supremo Tribunal
Federal (STF). Mas isso tornará as coisas ainda piores com os aliados.
Razões da baixa
Beto
Vasconcelos está deixando a secretaria executiva do Gabinete Civil
oficialmente para fazer capacitação no exterior. Na verdade, Beto pediu
para sair há quatro ou cinco meses, porque tentaram lhe atribuir
responsabilidade por equívocos na elaboração da MP do Setor Elétrico. No
governo Lula, ele foi o radar jurídico do Planalto, no cargo de
secretário de Assuntos Jurídicos do Gabinete Civil. Trabalhando
diretamente com Dilma, não teve problemas. No governo dela, passou a ser
subordinado da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e a química não
foi boa. Dilma, que aprecia a competência de Beto, lamentou, mas nada
pôde fazer.
Viés de baixa
A
presidente não está com vontade de trocar ministros agora, mas é certo
que Gleisi está com viés de baixa. Até os índios protestaram contra ela
ontem. A cotação caiu forte perante os partidos da base aliada depois
que eles souberam de críticas que ela teria lhes feito numa reunião
petista, dizendo que são todos fisiológicos.
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