Mais recursos não bastam para a educação dar um salto de qualidade; é necessário corrigir graves problemas de método e gestão
A onda de protestos de junho reavivou o sentimento de que é necessário fazer algo para melhorar a educação no Brasil. A insatisfação, porém, ainda é vaga.
Sabe-se muito bem que o ensino é ruim e carece de recursos. Mas há incerteza ou polêmicas ásperas a respeito das causas da má qualidade da escola.
Reportagem do jornal "Valor Econômico" mostrou que, embora a proporção do PIB dedicada pelo governo brasileiro à educação seja semelhante à de países ricos, as despesas por estudante equivalem a 30% do gasto de tais nações.
Uma das expressões da falta de recursos é o baixo salário dos professores. Como consequência, não há incentivo para a seleção de profissionais mais ambiciosos nem condições de trabalho adequadas. Quem opta pelo magistério, se quiser melhorar a remuneração, precisa se dispersar entre vários empregos, em prejuízo da qualidade.
No entanto, dados a engessada estrutura de gastos do setor público, o nível de endividamento do governo e a carga tributária excessiva, não é possível despender mais em educação a não ser por meio de incrementos modestos. Reforça-se, assim, a necessidade de aproveitar melhor os recursos existentes.
O diagnóstico é conhecido, mas não trata do problema essencial. Falta o debate básico sobre o que se passa na sala de aula. Esse assunto não respeita apenas ao ensino público --alunos de escolas privadas também têm desempenho ruim nas provas internacionais.
Não se discutem a conduta dos professores, os assuntos a serem ensinados, o imenso currículo, o conteúdo dos livros didáticos e seus usos. Tampouco se definem os métodos mais eficazes ou o que deve ser padronizado.
Tanto pior, esses temas são mais relevantes se o contingente de professores é despreparado --o que, em boa medida, é o caso do Brasil.
A lista de deficiências continua. Em vez de guias nacionais de desempenho e metas de ensino, há uma confusão de redes escolares e dispersão de esforços e recursos em programas propagandísticos.
Escolas de excelência, com diversos computadores ou laboratórios exemplares ilustram o ponto --além de tais medidas não serem prioritárias, a escassez orçamentária impede que sejam replicadas.
Isso para nada dizer de questões mais pedestres: salas de aula em bom estado de conservação e limpeza, cadeiras, giz e livros.
Mais dinheiro para o setor dará conta apenas de parte desses problemas. Um plano continuado para a educação, no entanto, exige visão de longo prazo e uma reforma de alcance nacional.
Sem isso, a grita por mais recursos para melhorar o ensino pode resultar apenas em mais desperdício de verbas públicas.
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