Gosto de conversar com pensadores do Brasil e do mundo contemporâneo, como na roda de conversa desta semana, promovida pelo Instituto Democracia e Sustentabilidade, ou no contato com o filósofo Renato Janine Ribeiro, que ele relatou esses dias. Alguém pode supor um mero objetivo eleitoral. É muito mais: o diálogo sempre será tão essencial quanto o ar e o alimento.
Ora, direis, ouvir filósofos, por certo não queres capitalizar o clamor das ruas, os resultados das pesquisas, as possibilidades do marketing. Mas insisto na ideia de que a política não deve ser reduzida ao cálculo de perdas e ganhos.
Senão, vejamos. Na pressa de escapar à rejeição das ruas, o governo anunciou pactos, constituinte e plebiscito, em nervosa gesticulação que o Congresso já tratou de acalmar. Tudo resulta numa minirreforma feita para garantir o monopólio dos partidos, a manutenção de antigos esquemas e um "centrão" dominante há décadas, seja qual for o governo.
O que sobra em pragmatismo, falta em compreensão das causas profundas, da necessidade de democratizar a democracia com a participação direta e os aplicativos das novas tecnologias. Despreza-se boas propostas, como as listas independentes, por falta de reflexão sobre o sentido da ação política na civilização em crise.
Tivessem ouvido os pensadores, suportariam o rumor das ruas sem a ansiedade de abafar um possível grito das urnas.
Que ouvissem, então, o povo, que é filosófico por natureza e tem sabedoria no humor. A minirreforma me lembra um saboroso causo nordestino que meu pai costumava contar.
Havia um pregador que disfarçava seu despreparo teológico com o que chamaremos de exageros para evitar a palavra mentira, que o povo do vilarejo usava para justificar seu afastamento da congregação. Vendo a perda de fiéis, o pregador achou um meio de se controlar: amarrou-se num barbante que um auxiliar, oculto, puxaria quando ele se excedesse.
Assim preparado, foi pregar na Sexta-Feira Santa e narrou o episódio da prisão de Jesus, em que Pedro corta a orelha do soldado romano. Disse que o apóstolo usou uma espada de doze metros. Sentindo a sacudida do ajudante, reduziu: digamos, irmãos, que a espada tivesse seis metros. E eis que longe da vista de todos, o ajudante é atacado por um credor, exigindo a quitação de uma dívida. Discutem e trocam socos. Quando consegue livrar-se, o ajudante vê que mantivera o barbante na mão durante a refrega. Corre para o salão, onde o pregador, ajoelhado, jurava pelos cravos da Paixão que a tal espada não passava de um canivetezinho.
Se os chefes da República ouvissem a sabedoria popular, fariam uma reforma do tamanho do Brasil. Ou, pelo menos, entregariam o barbante de seu comando político a auxiliares menos endividados.
Ora, direis, ouvir filósofos, por certo não queres capitalizar o clamor das ruas, os resultados das pesquisas, as possibilidades do marketing. Mas insisto na ideia de que a política não deve ser reduzida ao cálculo de perdas e ganhos.
Senão, vejamos. Na pressa de escapar à rejeição das ruas, o governo anunciou pactos, constituinte e plebiscito, em nervosa gesticulação que o Congresso já tratou de acalmar. Tudo resulta numa minirreforma feita para garantir o monopólio dos partidos, a manutenção de antigos esquemas e um "centrão" dominante há décadas, seja qual for o governo.
O que sobra em pragmatismo, falta em compreensão das causas profundas, da necessidade de democratizar a democracia com a participação direta e os aplicativos das novas tecnologias. Despreza-se boas propostas, como as listas independentes, por falta de reflexão sobre o sentido da ação política na civilização em crise.
Tivessem ouvido os pensadores, suportariam o rumor das ruas sem a ansiedade de abafar um possível grito das urnas.
Que ouvissem, então, o povo, que é filosófico por natureza e tem sabedoria no humor. A minirreforma me lembra um saboroso causo nordestino que meu pai costumava contar.
Havia um pregador que disfarçava seu despreparo teológico com o que chamaremos de exageros para evitar a palavra mentira, que o povo do vilarejo usava para justificar seu afastamento da congregação. Vendo a perda de fiéis, o pregador achou um meio de se controlar: amarrou-se num barbante que um auxiliar, oculto, puxaria quando ele se excedesse.
Assim preparado, foi pregar na Sexta-Feira Santa e narrou o episódio da prisão de Jesus, em que Pedro corta a orelha do soldado romano. Disse que o apóstolo usou uma espada de doze metros. Sentindo a sacudida do ajudante, reduziu: digamos, irmãos, que a espada tivesse seis metros. E eis que longe da vista de todos, o ajudante é atacado por um credor, exigindo a quitação de uma dívida. Discutem e trocam socos. Quando consegue livrar-se, o ajudante vê que mantivera o barbante na mão durante a refrega. Corre para o salão, onde o pregador, ajoelhado, jurava pelos cravos da Paixão que a tal espada não passava de um canivetezinho.
Se os chefes da República ouvissem a sabedoria popular, fariam uma reforma do tamanho do Brasil. Ou, pelo menos, entregariam o barbante de seu comando político a auxiliares menos endividados.
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