O empresário Eike Batista veio a público hoje pela primeira vez se manifestar sobre a derrocada do seu império por meio de um artigo escrito para o jornal "Valor". Aconselhado por assessores de imprensa e marqueteiros, escolheu a forma mais fácil. Escreveu o que quis e evitou perguntas que o expusessem ao contraditório.
No artigo, Eike se coloca no lugar de vítima, da mesma maneira que todos aqueles que perderam dinheiro ao comprar suas ações ou investir em seus bônus. Ele não usa a palavra vítima, mas é o que dá entender ao afirmar que estava "extasiado com as informações que me chegavam". Chega a dar pena: pobre Eike!
Eike se coloca como vítima de "consultorias de renome", que estimaram as reservas de petróleo da OGX, de "auditorias de renome", que falharam em prever que havia algo de errado com suas empresas, e de "executivos de renome", que "reafirmavam dia após dia" os prognósticos otimistas para a companhia.
Ele sugere que o mercado não teve paciência em esperar os resultados da OGX e de suas demais empresas ao dizer que "se pudesse voltar no tempo não teria recorrido ao mercado de ações", mas "estruturado um private equity que permitisse criar do zero e desenvolver ao longo de pelo menos 10 anos cada companhia".
"O texto de Eike é uma tentativa patética de se vitimar e se eximir de responsabilidade pelo fracasso operacional de suas empresas e pela conduta inconsequente diante do mercado de capitais nos últimos anos", disse à coluna Ricardo Lacerda, sócio da BR Partners e um dos banqueiros mais experientes do mercado.
Eike levantou a espantosa quantia de US$ 26 bilhões em abertura de capital de empresas e venda de participações para sócios. Desde a estreia da OGX na bolsa, em 2008, o mercado esperou quatro anos para cobrar a fatura. E só começou a penalizar Eike no ano passado, quando a OGX não respondeu às expectativas de produção.
O mercado exagera na subida e na descida. Ajudou a inflar de forma irracional as empresas do grupo EBX lá atrás, e, provavelmente, está projetando para as companhias hoje um valor inferior ao que realmente valem. Mas o fato é que, sem o mercado de capitais, Eike não teria ido tão longe.
No artigo, Eike se esquece de seus deveres de administrador. Caberia a ele desconfiar das previsões otimistas e confrontar seus executivos o tempo todo para saber quais eram as chances reais daqueles prognósticos darem certo. Caberia a ele fazer o "papel de advogado do diabo", afinal os investidores confiaram nele para tirar aqueles sonhos do papel.
Mas, pelo contrário, os relatos de executivos que trabalharam com Eike é que ele não gostava de más notícias e desafiava aqueles que vinham com previsões pessimistas, chamando-os de "calças curtas". Segundo esses relatos, Eike já contava que o mercado iria dar um desconto para suas previsões, aceitando alguma frustração.
O empresário, no entanto, tem méritos. Efetivamente apostou em projetos que o Brasil precisa e tirou dinheiro do próprio bolso para colocar em suas empresas. No texto, ele afirma que "quem mais perdeu com a derrocada no valor da OGX foi um acionista: Eike Batista". É verdade. Ele também promete que "não deixará de pagar um único centavo de cada dívida que contraiu". Menos mal. Tomara que consiga.
p.s: Aos leitores que possam ter dúvida por causa da coincidência de sobrenomes. Não tenho nenhum parentesco com Rodolfo Landim, executivo que foi o braço direito de Eike e que teve uma disputa milionária na Justiça com o empresário
Raquel Landim é repórter especial da Folha e escreve para o site, às sextas-feiras, sobre economia, negócios e comércio exterior. Formou-se em Jornalismo pela Universidade de São Paulo (USP) e tem mestrado em Jornalismo pela London School of Journalism e em Negociações Internacionais pelo convênio PUC/Unesp/Unicamp
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