sexta-feira, 26 de julho de 2013

Eduardo Almeida Reis-Dromomania‏

Preocuparam-me, no estudo do doutor Heloani, o aumento dos casos de depressão e o uso abusivo de drogas 


Eduardo Almeida Reis


Estado de Minas: 26/07/2013 

Impulso incontrolável e mórbido de perambular, de viajar (especialmente de abandonar os lugares onde golpes emocionais foram sofridos), a dromomania me parecia associada às viagens dos feriadinhos e feriadões. Vejo, agora, que a enfermidade se espalha entre respeitados jornalistas, que deram para viajar por qualquer motivo e até sem motivo algum.

Se o sujeito gosta do que faz, está em paz com a sua consciência e não teve a infelicidade de comprar sítio ou casa de campo, não tem motivos para viajar. Caso contrário, diagnóstico sombrio: é delírio ambulatório.

Li no imperdível Jornal da ImprenÇa, do amigo e mestre Moacir Japiassu, transcrição de um trabalho publicado no Portal Imprensa sobre o aumento dos casos de depressão, infidelidade conjugal e uso abusivo de drogas e álcool entre profissionais de jornalismo. Estudo realizado durante 10 anos pelo doutor em psicologia José Roberto Heloani, da Unicamp.

Infidelidade conjugal e fidelidade alcoólica, tudo bem, nunca foram novidade e não acho prejudiciais ao exercício da profissão. Há que respeitar os raros profissionais que não bebem ou bebem pouquíssimo, meu caso de um ano a esta parte.

Preocuparam-me, no estudo do doutor Heloani, o aumento dos casos de depressão e o uso abusivo de drogas. Depressão é um horror e as drogas, sem uso abusivo, infelizmente são velhas como a Sé de Braga. Jovem jornalista minha amiga relatou festa a que compareceu com os colegas do seu jornal. Os festeiros se dividiram em duas salas: a turma do pó e do uisquinho, e a turma do cigarro (tabaco) e do uisquinho. E isso há exatos 20 anos, portanto uma década antes de começarem os estudos do psicólogo da Unicamp.

Heloani trabalhou com amostragem de 250 jornalistas, encontrando grande número de profissionais trabalhando em estados de pré-exaustão e de exaustão na maioria das redações. Falou, também, da vulnerabilidade ao assédio moral e sexual. Presumo que tenha estudado o problema nas grandes cidades em que são editados os jornais, todas elas com trânsito insuportável e violência assustadora.

Tiro&Queda jamais pretendeu solucionar os problemas da humanidade e o seu autor já fica muito satisfeito quando consegue fazer coluna leve e divertida. Por isso, deixo ao leitor, eventualmente interessado, o trabalho de ler o estudo do professor da Unicamp e volto à drapetomania – impulso incontrolável de vagar, errar, de andar ao léu – irmã gêmea da dromomania.

Que levaria os caros e preclaros jornalistas às estradas e aos aeroportos? Estudarei o assunto com calma e prometo contar ao leitor, mas a síndrome é preocupante.


Dicionários
Procurando em português o adjetivo relativo à obra de Huxley, como existe o huxleyan inglês, encontrei no Aulete o espantoso huzuarexe, que a imprensa deveria usar para poupar o leitor do manjadíssimo iraniano, sempre atual com as estripulias dos aiatolás. A partir de hoje, alterno língua iraniana e os adjetivos e substantivos masculinos irânico e iraniano, ambos datados de 1877, com o extraordinário huzuarexe, deixando a critério dos que me leem a procura da etimologia, que não encontrei.

Presumo que um aiatolá huzuarexe acredite muito mais em Alá do que os outros “altos dignitários na hierarquia religiosa dos muçulmanos xiitas”. E aproveito a oportunosa ensancha para dizer que aiatolá vem do árabe áyatolláh, que significa “sinal de Alá na Terra”. Só não dá para entender que o nosso Houaiss tenha escrito “altos dignitários”, quando ele próprio diz que dignitário é aquele que ocupa cargo elevado, que goza de alta graduação honorífica. Se o cargo é elevado e é alta a graduação honorífica, não dá para pensar em baixo dignitário.

E assim se conta como é possível fazer um suelto de 180 palavras, divertido e referto de ensinança, numa fria manhã invernal. Quanto aos dignitários xiitas, screw them!


O mundo é uma bola
26 de julho de 1139: como vimos ontem ou anteontem, Afonso, então conde portucalense, é aclamado rei de Portugal e proclama a independência em relação a Leão, que não deve ser confundido com o grande felino encontrado originalmente na Europa, Ásia e África.

No episódio em tela, vosso philosopho se referia ao Reino de Leão, Reinu de Llión ou Reino de León, um dos mais antigos reinos ibéricos surgidos no período da reconquista cristã, independente durante três períodos: de 910 a 1037 (sob domínio da casa Leonesa), de 1065 a 1072 (casa de Navarra) e de 1157 a 1230 (casa da Borgonha).

Em 1030, Compostela ficava em León, como vejo no mapa da abençoada Wikipédia. Conheço uma porção de gente que fez o Caminho de Compostela. Um amigo, mais inteligente, foi de automóvel bebendo e comendo tudo a que tinha direito.

Em 1788, uma notícia que interessa aos compristas mineiros: Nova Iorque se torna o 11º estado norte-americano, depois de ratificar a Constituição dos Estados Unidos. Nele fica a cidade homônima, destino comprista da mineiridade.

Hoje é o Dia do Arqueólogo, do Moedeiro, do Avô e da Avó.


Ruminanças
“Para a pedra atirada, cair não é um mal, nem subir um bem” (Marco Aurélio, 121-180).

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