sexta-feira, 26 de julho de 2013

Novo 'Wolverine' discute imortalidade e solidão - Joana Cunha

folha de são paulo
Estética visual de quadrinhos devolve o herói a suas origens
CÁSSIO STarLING CARLOSCRÍTICO DA FOLHAEm meio a tantos super-heróis sorumbáticos que a cada dia ameaçam converter o cinema de ação numa interminável sessão de psicanálise, o retorno solo de Wolverine é, ainda bem, uma exceção.
Com um pomposo "Imortal" acoplado ao nome do protagonista, o novo título da franquia simula agregar conteúdo "filosófico" à saga, com conversa fiada sobre o peso da eternidade, a fragilidade do herói solitário, a desmesura como caminho para a perda da humanidade e temas afins.
Em cinco minutos, porém, o filme já entrega o que o público busca: ação espetacular. Num campo de prisioneiros em Nagasaki, em 9 de agosto de 1945, dois bombardeiros cruzam o céu, e o apocalipse nuclear põe em movimento o destino de Wolverine.
Após uma breve etapa no meio do nada e na companhia de um urso, o mutante embarca de volta para o Japão, onde enfrenta desde ameaçadores gângsteres yakuza até uma monstruosa criatura toda de adamantium, ou seja, um inimigo à altura para Wolverine testar se suas célebres garras são mesmo indestrutíveis.
As três expressões faciais de Hugh Jackman são o suficiente para não chamar mais a atenção que a montanha de músculos do personagem.
Ao lado dele, a estranha Rila Fukushima desempenha com profissionalismo a função de guarda-costas. Do lado contrário, a russa Svetlana Khodchenkova encarna uma Viper memorável, combinando a imagem sexy com um desempenho de canastrona que torna sua vilã linguaruda uma pitada de humor.
O que mais dá certo, porém, é a exploração do cenário nipônico, com sua mistura de tradicionalismo e "high-tech" que duplica e amplifica a natureza ao mesmo tempo arcaica e mutante de Wolverine.
Nesses cenários, o filme devolve o herói a sua origens, ou seja, uma linguagem visual que parece uma HQ em movimento e faz esquecer as frouxas adaptações de quadrinhos para o cinema.
    DE NOVA YORK

    Um dos mais longevos atores na pele de um mesmo super-herói, Hugh Jackman estreia nesta sexta (26) "Wolverine Imortal". O novo capítulo da saga foi rodado no Japão, onde o personagem experimentará, pela primeira vez em sua vida centenária, a perspectiva de deixar de ser eterno.
    Quando filmou seu primeiro "X-Men", em 2000, o ator tinha cerca de 30 anos. Fora convocado de última hora para preencher a ausência do convidado original, Dougray Scott, impedido de comparecer por atrasos na filmagem de "Missão Impossível 2".
    Hoje, perto dos 45, Jackman encarna o mutante pela sexta vez e acumula o cargo de produtor. "Estar mais velho talvez me ajude a representar alguém que tem centenas de anos a mais do que eu", brincou Jackman, em uma entrevista a jornalistas da qual aFolha participou.

    Wolverine - Imortal

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    Divulgação
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    O filme "Wolverine - Imortal", estrelado por Hugh Jackman, se passa no Japão, que é para onde o super-herói viaja para encontrar um homem cuja vida ele salvou há décadas
    Sua longevidade no papel se reflete no filme, que aborda o tema do homem que pode viver para sempre.
    Nesse episódio, define o diretor, James Mangold (dos filmes "Johnny & June" e "Os Indomáveis"), ele se debate contra sua própria identidade, pelo fato de ser eterno.
    Wolverine é um mutante com o poder de se regenerar com rapidez --por isso envelhece lentamente. Já seu esqueleto, por exemplo, foi substituído por um metal com garras afiadas nas mãos.
    Em luto pela perda da companheira Jean Grey (Famke Janssen), ele se sente um perigo para a sociedade. Está isolado. O ator, por outro lado, não receia o isolamento de uma identidade rotulada, mesmo após tanto tempo desdobrando a franquia.
    "Eu não teria uma carreira sem Wolverine. Me deu oportunidade para fazer muitas outras coisas. Intercalei outros projetos. Rótulo é a pior coisa que pode acontecer a um ator. 'Wolverine' foi onde comecei e foi meu primeiro grande filme nos Estados Unidos", afirma. "Me ajudou a crescer. Estou melhor agora", diz ele, que atualmente filma a sétima produção.
    A versatilidade do ator passa por outros gêneros. Já comandou uma cerimônia do Oscar, viveu papéis na Broadway, foi eleito o homem mais sexy do mundo pela revista "People" e guarda um Tony (o principal prêmio teatral dos EUA) no currículo.
    Ele chega a encontrar pontos de contato entre o super-herói e outras de suas atuações fora da série, como o Jean Valjean de "Os Miseráveis". O musical, segundo ele, também aborda "conflitos antigos e se passa em grandes momentos históricos". "Por sorte, eu não precisei cantar em Wolverine."
    Em "Wolverine Imortal", o herói volta ao cenário japonês onde esteve pela última vez durante a Segunda Guerra, para salvar a nova amante Mariko (Tao Okamoto) em batalhas contra a Yakuza e o gigante Samurai de Prata.
    MEGAPRODUÇÕES
    A produção é mais um exemplo de uma safra recente de estreias megalomaníacas, da qual também faz parte "O Homem de Aço" e outros que se apoiam nos ingressos premium cobrados por projeções em 3D para cobrir os custos milionários.
    Jamie McCarthy/AFP
    O ator Hugh Jackman, que interpreta o herói Wolverine
    O ator Hugh Jackman, que interpreta o herói Wolverine
    Para o diretor, é possível fazer filmes mais baratos, mas a sofisticação que atingiu a produção da TV impôs um novo patamar ao cinema.
    "Os estúdios gostariam que os filmes não fossem mais caros, e sim, mais baratos. Esse, provavelmente, foi um dos menos caros", disse Mangold à Folha. O valor da produção não foi divulgado, mas estima-se ter chegado aos US$ 100 milhões (R$ 225 milhões).
    Preparo físico de ator serve também para entrevistas
    DE NOVA YORKO preparo físico exigido do ator Hugh Jackman a cada vez que inicia a gravação de um novo filme da saga de Wolverine não acaba nas filmagens.
    No último dia 12, das 10h às 17h, Jackman concedeu dezenas de cronometradas entrevistas de 5 a 15 minutos a jornalistas separados em grupos, antes de seguir para a estreia do filme na Coreia do Sul.
    Com outros três repórteres, a Folha participou, em Nova York, de uma dessas "junkets" --como são conhecidos os tradicionais eventos para a apresentação de novos filmes e séries à imprensa mundial.
    O reduzido número de entrevistadores surpreendeu até o ator, habituado às maratonas, que chegam a reunir dez jornalistas de publicações de diferentes continentes na mesma sala.
    A disputa para emplacar as perguntas durante as entrevistas-relâmpago é acirrada.
    No cenário das "junkets" --geralmente hotéis luxuosos--, os jornalistas, cujas passagens e hospedagem geralmente são pagas pelos estúdios, podem ser deixados esperando ou ter as agendas de entrevistas alteradas sem antecedência.
    De acordo com os assessores de imprensa, é preciso ficar à disposição dos "talents", termo que usam para se referir a atores e diretores.
    Dos jornalistas também são exigidas assinaturas de termos de embargo, com datas definidas pelos estúdios para a publicação dos conteúdos (descumpri-los pode levar o veículo a uma lista negra).
    Alguns contratos proíbem perguntas pessoais. Não é o caso de Jackman, um dos únicos que não se incomodam com elas, dizem assessores.

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