Periódicos são suspeitos de 'turbinar' citações de forma irregular
Os afetados foram a revista "Clinics", da Faculdade de Medicina da USP, o "Jornal Brasileiro Pneumologia", a "Revista da Associação Médica Brasileira" e a "Acta Ortopédica Brasileira". Eles fazem parte de um total de 67 publicações suspensas.
Um dos mais populares modos de medir o trabalho científico, o fator de impacto é a média de citação por artigo que um periódico tem em um intervalo de tempo. Apesar das críticas ao modelo, é comum associar o fator de impacto ao prestígio da revista.
A Thomson Reuters, que organiza a lista do JCR, diz que as revistas brasileiras usaram um truque conhecido como "stacking" para inflar o fator de impacto.
A prática é uma espécie de citação cruzada. Uma revista A cita a revista B, enquanto a B cita a revista A. Assim, a média de citações é inflada.
Um dos problemas apontados pela empresa está em dois artigos da revista da AMB que citam 330 trabalhos brasileiros, sendo 127 publicados na "Clinics", o que foi considerado uma distorção.
"As revistas afetadas são boas. Se foi isso o que aconteceu, é uma escorregadela quase infantil", diz Rogerio Meneghini, coordenador científico do SciELO, que indexa periódicos do Brasil.
Os quatro títulos afetados fazem parte dessa plataforma. Segundo Meneghini, haverá uma reunião para discutir possíveis providências.
Os periódicos suspensos do JCR não terão fator de impacto em 2012.
Ontem, o editor da revista "Clinics", Maurício Rocha e Silva, foi afastado temporariamente do cargo até que o caso seja esclarecido.
Carlos Carvalho, editor do "Jornal Brasileiro de Pneumologia", suspenso por citações suspeitas em um artigo de outra revista, disse ontem que pediu revisão do caso.
"O trabalho era uma revisão de pesquisas brasileiras na área respiratória. E é o nosso jornal que publica a maioria delas. É normal uma quantidade maior de referências."
Bruno Caramelli, editor da revista da AMB, afirmou que pode estar havendo uma diferença de tratamento com os brasileiros. "Os editores das revistas científicas do Brasil não são profissionais como os da Europa e dos EUA. Nós somos autores."
A "Acta Ortopédica Brasileira" não respondeu à reportagem.
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