Carlos Herculano Lopes
carloslopes.mg@diariosassociados.com.br
Estado de Minas: 09/08/2013
Se não me falha a
memória, quem pela primeira vez me falou sobre o romancista espanhol
Javier Cercas, chamando-o de extraordinário, foi a escritora e
professora de literatura Maria Esther Maciel, com quem tenho o prazer de
dividir este espaço semanal aqui no Estado de Minas. No número 16 da
Revista Metáfora, de fevereiro, li uma entrevista concedida por ele, que
discorre sobre seu processo criativo e Soldados de Salamina, livro no
qual traça, num misto de ficção e realidade, o perfil de Sánchez Mazas,
um dos principais ideólogos da Falange, grupo que deu sustentação
política a Francisco Franco. Em 1936, esse ditador tomou o poder na
Espanha, depois de uma guerra civil com milhares de mortos. Foi a partir
daí, com encantamento, que me iniciei em sua obra.
Até então, tenho de confessar, conhecia muito pouco da literatura espanhola contemporânea, com leituras esparsas de autores como Susana Fortes, Enrique Vila-Matas, Gabi Martínez, Justo Navarro e Rosa Montero. Há alguns anos, por ocasião de uma bienal do livro em São Paulo, tive a oportunidade de entrevistar Rosa em conversa regada a vinho e água mineral, que entrou tarde adentro em um restaurante dos Jardins. Colaboradora do El País, um dos principais jornais espanhóis, ela escreveu, entre outros, os romances A louca da casa e Instruções para salvar o mundo. Desde então, sempre que posso, venho acompanhando seu trabalho.
Voltando a Javier Cercas, que também é colaborador do El País, aproveitei as férias, que por coincidência terminaram ontem, para ler, de um fôlego só, outro livro seu: Anatomia de um instante (2009), lançado no Brasil pela Editora Globo, com tradução de Ari Roitman e Maria Alzira Brum. Há muitos anos um texto não me prendia tanto, tal foi a maneira engenhosa como o autor narrou como se deram – ou ele imaginou como se deram – os fatos que, já no distante 23 de fevereiro de 1981, fizeram com que um tenente-coronel do Exército espanhol chamado Tejero de Molina invadisse a Câmara dos Deputados, em Madri, onde se discutia a renúncia do então presidente Adolfo Suárez, e tentasse, com a ajuda de um bando de tresloucados seguidores, dar um golpe de Estado.
Na minha memória a respeito daquele episódio, por meio do qual setores reacionários do Exército espanhol, tendo Molina como instrumento, quiseram abortar a então recente democracia instalada no país logo depois da morte de Franco, em 1975, haviam permanecido, até a leitura de Anatomia de um instante, apenas as cenas chocantes da invasão da Câmara dos Deputados, gravadas pelas redes de televisão e que ficaram para a posteridade. Javier Cercas, escritor extraordinário, como disse Maria Esther Maciel, mostrou-me, no entanto, que um golpe de Estado e as situações que levam às tentativas de golpe, como aquela na Espanha – e como tantas outras que já ocorreram mundo afora, inclusive no Brasil –, são muito mais complexas e envolvem muito mais pessoas e interesses do que conseguimos imaginar. Mesmo que nem sempre, como também ocorre na vida, as coisas saiam como foram previstas, e, às vezes, como neste caso, possam se definir em instantes.
Até então, tenho de confessar, conhecia muito pouco da literatura espanhola contemporânea, com leituras esparsas de autores como Susana Fortes, Enrique Vila-Matas, Gabi Martínez, Justo Navarro e Rosa Montero. Há alguns anos, por ocasião de uma bienal do livro em São Paulo, tive a oportunidade de entrevistar Rosa em conversa regada a vinho e água mineral, que entrou tarde adentro em um restaurante dos Jardins. Colaboradora do El País, um dos principais jornais espanhóis, ela escreveu, entre outros, os romances A louca da casa e Instruções para salvar o mundo. Desde então, sempre que posso, venho acompanhando seu trabalho.
Voltando a Javier Cercas, que também é colaborador do El País, aproveitei as férias, que por coincidência terminaram ontem, para ler, de um fôlego só, outro livro seu: Anatomia de um instante (2009), lançado no Brasil pela Editora Globo, com tradução de Ari Roitman e Maria Alzira Brum. Há muitos anos um texto não me prendia tanto, tal foi a maneira engenhosa como o autor narrou como se deram – ou ele imaginou como se deram – os fatos que, já no distante 23 de fevereiro de 1981, fizeram com que um tenente-coronel do Exército espanhol chamado Tejero de Molina invadisse a Câmara dos Deputados, em Madri, onde se discutia a renúncia do então presidente Adolfo Suárez, e tentasse, com a ajuda de um bando de tresloucados seguidores, dar um golpe de Estado.
Na minha memória a respeito daquele episódio, por meio do qual setores reacionários do Exército espanhol, tendo Molina como instrumento, quiseram abortar a então recente democracia instalada no país logo depois da morte de Franco, em 1975, haviam permanecido, até a leitura de Anatomia de um instante, apenas as cenas chocantes da invasão da Câmara dos Deputados, gravadas pelas redes de televisão e que ficaram para a posteridade. Javier Cercas, escritor extraordinário, como disse Maria Esther Maciel, mostrou-me, no entanto, que um golpe de Estado e as situações que levam às tentativas de golpe, como aquela na Espanha – e como tantas outras que já ocorreram mundo afora, inclusive no Brasil –, são muito mais complexas e envolvem muito mais pessoas e interesses do que conseguimos imaginar. Mesmo que nem sempre, como também ocorre na vida, as coisas saiam como foram previstas, e, às vezes, como neste caso, possam se definir em instantes.
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