Desconfio que Bruno Barreto seja lésbico
Imoral é roubar 30% em obra pública, não a quebra de patente ou de propriedade intelectual
Nesta semana foi como se uma bigorna tivesse caído sobre o pedal do acelerador da máquina do tempo. Tudo tomou a velocidade da ação de uma comédia antiga de Harold Lloyd.
Primeiro vieram as demissões em massa na imprensa tapuia. Em seguida foi a vez do anúncio de que "The Washington Post" fora vendido por troco de pinga. O "Post", meu Deus, uma das publicações mais importantes desde que Gutenberg inventou a prensa tipográfica, passado nos cobres por três Neymares ou, vá lá, seis Bernards do Atlético Mineiro. Minha matemática não é nenhuma Bruna Marquezine, mas, comparado ao que vale o Facebook ou o seguro dos grandes lábios da Ângela Bismarchi (refiro-me ao seu mais recente preenchimento facial), o valor foi modestíssimo.
O jornalismo tradicional anda mais perdido do que pum em bombacha (a elegante frase de minha lavra, aliás, foi colocada por Bruno Barreto na boca da Lota de Macedo Soares logo no início de "Flores Raras", filme que o redime de todas as trivialidades cometidas nos últimos séculos e que você não pode perder. Nele, o cineasta consegue captar a verdadeira mecânica da neurose de um relacionamento amoroso entre duas mulheres de inteligência privilegiada --Glória Pires arrasa!).
Mas, enfim, eu tergiverso. Estamos aqui para falar sobre um mundo novo e mal compreendido pelos ditos conservadores, que opera sob uma lógica que pretende fragmentar a produção e que não quer mais ver a informação ser tratada como commodity.
Babado são crowdfunding e mix de sustentabilidade que desafiam a lógica de quem usa o desenho quadradinho dos modelos de negócio de escolas de administração.
O que valia antes servia para a Revolução Industrial. Hoje não há mais ambiente para revolução. O que temos são hordas de tradicionalistas que não se renderam ao fato de já faz 30 anos da transição para a Era da Informação. Pois a beleza do capitalismo é que ele consegue se perpetuar por estar constantemente se reinventando a partir de seus colapsos, certo biscoito?
E deixa ver se aprendi algo assistindo ao "Roda Viva" desta semana com os entrevistados Bruno Torturra e Pablo Capilé, o jornalista e o produtor cultural que dirigem o Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação).
Olha só: eles encaram o jornalismo como modelo de negócio ou "indústria". E, assim sendo, como instituição desacreditada. Para a geração Z (1995-2007), a lógica de mercado não pode mais reger todas as relações. Ela gera desconfiança e corrói valores. O que eles querem ver acontecer com a informação (seja utopia ou não) é o caminho percorrido pela indústria fonográfica, que ruiu com a pirataria Napster da vida e conseguiu achar um novo rumo a duras penas.
Há um certo frescor na lógica do mundo compartilhado de quem nasceu na frente da tela do micro. Imoral é roubar 30% em obra pública e não a quebra de patente ou de propriedade intelectual.
Quem continua a invocar o Código Penal para argumentar que o Black Bloc pratica vandalismo não capta o ponto: a exasperação de que não existe defesa possível contra um agente tão insidioso quanto o mercado --capaz de nos fazer continuar a sorrir enquanto nos estupra.
Veja a explicação dada por Torturra no "Roda Viva". "Prefiro o pacifismo, claro. Mas o Black Bloc, usa uma estética, uma tática que tenta quebrar símbolos do capitalismo", diz. "Não ficamos tão escandalizados vendo um jovem sofrer uma injustiça quanto ao vê-lo quebrar a vidraça de um banco, temos de entender que são jovens que deixaram de confiar no Estado."
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