quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Eduardo Almeida Reis-Assunto‏

Admiro pessoas que projetam viagens com antecedência de meses e conseguem viajar na data marcada


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 28/08/2013 

Quinta-feira invernal de frio infernal: acordo, tomo café com os remedinhos, que são poucos, ligo o aquecedor elétrico pertinho do computador onde aparece o bem-vindo anunciando o Windows 7 Ultimate, logo seguido pela hora, dia e a notícia de que lá fora os termômetros acusam 6ºC. Confiro os três endereços eletrônicos, um deles com vídeo de 11 MB sobre as estripulias sexuais de uma senhora assistida por dois cavalheiros, outro de 3 MB sobre linda senhorinha sem piercings e tatuagens, dois ou três bilhetes sérios, um dos quais de querido amigo que dá um curso de direito em Boa Vista, capital de Roraima, e se queixa dos 34ºC à sombra, sonhando voltar dali a dois dias para o frio das suas Minas Gerais.

Isto posto e disposto, constato fenômeno raro aqui em casa: estou sem assunto para começar a jornada. Que fazer? Nada, a não ser empurrar o aquecedor para a poltrona da sala e retomar a leitura de um livro de Ruy Castro. Minutos mais tarde chega a comadre com os jornais do dia. Passo a vista em dois deles e volto ao computador. Banho com direito a barba, almoço, segundo charuto do dia e siesta de 40 minutinhos ao sol tímido que invade um canto da sala. No exato momento em que escrevo são 16h25 e resolvo conferir o número de palavras escritas neste dia sem assunto. Vejamos: até agora tenho 1.497 + 549 lexemas alinhados sem esforço – e isso num dia de nenhuma inspiração. Lexema ou lexia, para os esquecidos, é unidade de base do léxico, que pode ser morfema, palavra ou locução.

Projetos


Faz tempo que desisti de fazer projetos para daí a dois ou três dias: comigo não funcionam. Admiro pessoas que projetam viagens com antecedência de meses e conseguem viajar na data marcada. Rapazola, conheci na noite carioca um sujeito muito educado, que tinha brevê de piloto amador e vivia me convidando para voar. Com os seguintes detalhes: me chamava de “amigo Eduardo” e me telefonava aos domingos, sempre muito cedo, perguntando: “Amigo Eduardo, vamos voar?”. Naquele tempo, domingo cedo era sinônimo de ressaca dos álcoois da véspera e de noite maldormida, com ou sem hífen, que deixo a critério do leitor. Telefones fixos daqueles idos só desligavam se a gente tirasse a tomada da parede, coisa complicada pela disposição dos móveis e das tomadas da Companhia Telefônica Brasileira (CTB).

Mal clareava o dia, tocava o telefone preto com o convite para voar. Penitencio-me de ter dito ao rapaz que gostaria de fotografar, do alto, minha granja de galinhas, que demorava uns 20 minutos de voo do aeroporto de Manguinhos, à beira da Avenida Brasil, saída do Rio para Minas. Até que um dia, depois de dezenas de convites, resolvi encarar o teto-teco. De ressaca, tomei um banho rápido, peguei minha Rolleiflex com os filmes e fiquei na esquina à espera carro do piloto amador. Há pouco, procurei seu nome no Google e não encontrei. Antes mesmo de chegarmos à metade da viagem entre minha casa e o aeroporto, o tempo fechou. Chegamos a Manguinhos debaixo de um temporal que impediu o voo. E o projeto aviatório entre convite, banho, café, Rolleiflex e automóvel não envolveu hora e meia. Desde então, prefiro improvisar. Não nasci para projetar absolutamente nada. No exato momento em que componho estas bem traçadas, furou projeto de viagem para quatro dias de estada na roça mineira.

O mundo é uma bola


28 de agosto: faltam 125 dias para acabar o ano, sinal de que faltam 100 dias para o odioso período de férias. Continuo achando que todas as férias deveriam ser proibidas. No ano de 475, nepotismo revoltante: o general germânico Orestes depõe o imperador romano Júlio Nepos, da capital Ravena, e põe no cargo seu próprio filho Rômulo Augusto. Existe uma Ravena mineira, mas a histórica Ravenna fica na Emília-Romana e Rômulo Augusto foi destronado por Odoacro, que o humilhou publicamente fazendo-o desfilar como prisioneiro vestido de camponês. Que se pode esperar de um sujeito chamado Odoacro?

Em 489, Teodorico, rei dos Ostrogodos, derrota Odoacro na Batalha de Isonzo e se instala na Itália. Como é sabido por todos, menos por mim, os ostrogodos eram um ramo dos godos, povo germânico que surgiu na região meridional da Escandinávia, como acabo de aprender com Jordanes, em latim Iordanis, funcionário e historiador do Império Romano do Oriente, que viveu no século 6. Em 1565, os espanhóis fundam St. Augustine, seu primeiro assentamento permanente no atual território norte-americano. Saint Augustine fica na Flórida, norte magnético dos belo-horizontinos ricos. Em 1941, vai ao ar o Repórter Esso, primeiro programa noticioso do rádio brasileiro. Em 1991, a Ucrânia declara sua independência da União Soviética. Em 1023, nasceu o imperador Go-Reizei do Japão, nome que me lembra querido amigo às voltas com uma evangélica, que rezava antes e depois do ato. Nasceu e morreu tanta gente conhecida em 28 de agosto, que vou parando por aqui.

Ruminanças

“Além de exacerbar a libido, o poder sobe à cabeça que fica por cima do pescoço e o mineiro faz os piores papéis.” (R. Manso Neto).

Nenhum comentário:

Postar um comentário