ZERO HORA - 28/08/2013
Da
série “Morro e não vejo tudo”: 165 mil pessoas de mais de 120 países se
inscreveram para participar do programa de assentamento em Marte,
projeto elaborado pela organização holandesa Mars One. Os brasileiros
estão em terceiro lugar em número de inscritos: 8.686 – perdem apenas
para americanos e chineses. No próximo sábado, encerram-se as
inscrições.
A empresa pretende desembarcar quatro voluntários em
2023, e depois novos cosmonautas a cada dois anos, a um custo de US$ 6
bilhões, parte financiada por um reality show sobre os primeiros anos de
existência da colônia. Idade mínima: 18. Taxa de inscrição: de US$ 5 a
US$ 75, dependendo da nacionalidade do cidadão, que deve enviar também
um vídeo de um minuto falando sobre os motivos de querer viver em Marte
para sempre.
Um minuto de motivos? Cronometre aí.
“Desatentos”
que continuam jogando lixo na rua – multa para todos, não só para os
cariocas. O custo de vida. Fraudes em licitações. Corrupção em todos os
setores da sociedade. A demora em concluir obras. A péssima qualidade
dos serviços públicos. Gente levando tiro dentro de hospital. Crianças
sendo violentadas por parentes. Policiais envolvidos em crimes.
Irresponsáveis dirigindo a 150 km/h. Fanáticos religiosos. Impostos que
são verdadeiros assaltos.
Burocracia que impede a agilidade de
novos negócios. Calçadas em péssimas condições. Estradas que ficam
intransitáveis aos primeiros cinco minutos de chuva. Irregularidades em
contratos. Violência urbana sem controle. Professores mal pagos.
Funcionários mal treinados. Ruas sem placas de identificação.
Tornozeleiras eletrônicas que não funcionam. Enchentes a cada temporal. O
quê? Já passou um minuto?
Nem deu tempo de falar do que
acontece fora do Brasil, como utilização de armas químicas na Síria, os
índices de mortalidade na África, o fundamentalismo islâmico, a recessão
europeia etc. etc.
E tem ainda as crises pessoais. O que não
falta por aí são pessoas desmotivadas, devendo dinheiro, administrando
fracassos, sem perspectiva de crescimento, amargando dores de cotovelo,
entediados com a vida, aborrecidos crônicos, sem fé no futuro. A
oportunidade de em 10 anos partirem em uma expedição inédita e
eternizarem seu nome através de um projeto sem precedentes na história
da humanidade daria a eles um sentido pra vida. Colonizar Marte – e com
cobertura da imprensa!
A viagem durará alguns meses. A
espaçonave é estreita. De alimentação, apenas produtos liofilizados e
enlatados. Banho, só com toalha úmida. Desistir no meio do caminho está
fora de cogitação. Pedir para descer, nem pensar. E a passagem é só de
ida.
Ainda assim, 165 mil pessoas se inscreveram, o que me faz
chegar a duas conclusões: que a vida na Terra, definitivamente, não está
para brincadeira. E que Marte deve ter wifi grátis.
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