sábado, 31 de agosto de 2013

TRAVESSIA » Momento de celebrar‏

Milton Nascimento comemora 70 anos com lançamento de CD duplo e DVD, que marcam também os 50 anos de carreira. Wagner Tiso e Lô Borges fazem participações especiais 


Ailton Magioli

Estado de Minas: 31/08/2013 


Com voz em excelente forma, Milton passa em revista sua trajetória, revisitando clássicos em novos arranjos (Marcos Hermes/Divulgação)
Com voz em excelente forma, Milton passa em revista sua trajetória, revisitando clássicos em novos arranjos

Os mais próximos diriam que, aos 50 anos de carreira e 70 de vida, Milton Nascimento está com tudo e não está prosa. Como, aliás, é do feitio discreto do cantor, compositor e instrumentista de origem carioca, que liderou o movimento musical moderno mais importante de Minas Gerais, o Clube da Esquina.

Depois de disponibilizar acervo pessoal, via portal do Instituto Antonio Carlos Jobim e de ter lançada a biografia musical, de autoria do compositor e saxofonista Chico Amaral, Bituca, como o artista é carinhosamente chamado pelos amigos, manda para as lojas o registro em disco (nos formatos CD duplo e DVD) da turnê com a qual já percorreu mais de 100 cidades do Brasil, Europa e América Latina, para comemorar sua travessia rumo ao estrelato.

A dificuldade de locomoção em cena, diante do tipo de diabetes rara que acometeu o artista, continua perceptível. Assim como o timbre de voz cristalino que, na noite de 25 de novembro, quando o projeto foi gravado, ao vivo, no Vivo Rio, com casa lotada. Wagner Tiso, o amigo de Três Pontas, quando ainda sequer sonhavam vir para Belo Horizonte, na década de 1960, e Lô Borges, o caçula da família belo-horizontina da qual se tornou uma espécie de filho mais velho, são os convidados especiais.

No mais, estão em cena com ele os fiéis companheiros de banda: Gastão Villeroy (baixo), Kiko Continentino (piano e teclado), Wilson Lopes (guitarra e violão) e Lincoln Cheib (bateria), além dos sopros de Widor Santiago (sax e flauta), que adotou desde o disco Pietá. Com repertório de clássicos como Vera Cruz, Canção do sal, Promessas de sol, Raça e Maria Maria, Bituca encontrou a formação perfeita para o acompanhar em show, rico em detalhes audiovisuais.

É a partir da genial Cais, no entanto, que o cantor abre o espetáculo, encerrado, naturalmente, com Travessia. Um dos belos momentos em meio a tantos? Canção da América, entoada em uníssono pela plateia, com Milton dando-se ao luxo de apenas segurar o microfone para os fãs. Por mais que a ausência de novidades de repertório deixe parte da crítica incomodada, Milton Nascimento – Uma travessia – 50 anos de carreira justifica-se pela data, marco na vida do artista.

Além do mais, ao próprio Bituca, com o auxílio luxuoso do parceiro Lô Borges, coube atualizar alguns arranjos, tais como os de Para Lennon e McCartney, O trem azul e Um girassol da cor do seu cabelo. Uma das mais recentes criações de Bituca, coincidentemente, inaugura a parceria do cantor com o diretor do show. Trata-se de Sofro calado, de Milton Nascimento e Régis Faria, filho de família historicamente ligada ao cinema brasileiro. Produção requintada, bem ao gosto da ocasião, o show – que será exibido na íntegra pelo Canal Brasil – cativa pelo bom gosto e musicalidade. Mas, a bem da verdade, as novidades fazem falta.

Milton Nascimento – Uma travessia – 50 anos de carreira
Canal Brasil, 15 de setembro, às 17h. A exibição no canal pago traz também bate-papo com a cantora Roberta Sá e exibição do making of da produção.

No lugar merecido


Em A música de Milton Nascimento, a biografia musical que o músico Chico Amaral publicou recentemente, Bituca é, enfim, conduzido ao lugar aonde tantos de sua geração, como Edu Lobo, Chico Buarque e Caetano Veloso, já haviam conseguido chegar.

A influência das cantoras, o conflito (resolvido) com o maestro Tom Jobim e a relação com os parceiros de Clube da Esquina estão em pauta na publicação. Repleto de entrevistas, além de análise de discografia e estudo de partituras, não faltam revelações para o leigo, mesmo que a obra peque, às vezes, pela carência de uma edição jornalística. Afinal, escrita por um músico, acaba se detendo mais nos detalhes musicais e técnicos, como define o próprio título.

Autor de letras memoráveis do Skank, como Garota nacional, Chico Amaral prova que tem tudo para ajudar a resolver a carência do gênero literário nas Minas Gerais, onde talentos para serem biografados não faltam. Estão aí, por exemplo, os irmãos Paulinho (contrabaixista, já falecido) e Toninho Horta, aguardando que a história faça jus ao talento já reconhecido. Com A música de Milton Nascimento, Chico Amaral recebe passaporte para novas empreitadas do gênero.

em.com.br
Ouça Faixas do disco
Milton – Uma travessia

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