MOÇA DE SEGUNDA-FEIRA
Com as māos
em prece,
olhos inteiros,
a moça borralheira
agradece
a segunda-feira.
Sabe-se tristinha,
sabe-se humilde,
sabe-se calada.
Por hoje,
sabe que está salva
pois que achou escape
na segunda-feira.
É uma moça
de segunda-feira.
Hoje é o dia
em que lhe admiram o tailleur,
a maquiagem discreta,
a voz de quem pede deculpa,
por perdurar na semana.
Hoje é o dia
em que todos invejarāo
(Uns com flagrante horror)
seu decantado vigor,
sua gaveta arrumada,
seus suspiros adequados,
sua voz assombreada
com tom de segunda-feira.
Hoje é o dia dela:
até as janelas
aguardam a visita
dos seus cotovelos,
quando a moça,
com desvelo,
for consultar o tempo,
debruçando-se pra rua.
Meio corpo a vacilar,
no balé tāo esperado,
antes do fundo suspiro
e do real constatado:
que só os muito tristes
(quase sempre esperançosos)
mapeiam a segunda-feira.
Fonte
Nenhum comentário:
Postar um comentário