Patrimônio fantasma
RIO DE JANEIRO - Pela coluna de Ancelmo Gois, no "Globo", ficamos sabendo que Zeca Pagodinho descobriu-se parente (primo distante, talvez, ou sobrinho-neto?) de um belo compositor brasileiro, hoje quase esquecido: Arlindo Marques Junior (1913-1968). E o quase vai por conta dos versos iniciais de um samba de Arlindo, "Abre a Janela", sucesso de Orlando Silva no Carnaval de 1938 --"Abre a janela, formosa mulher/ E vem dizer adeus a quem te adora..."--, que podem ter ficado na memória de alguns.Ou pela malícia da marchinha "Nós, os Carecas", estouro do conjunto vocal Os Anjos do Inferno no Carnaval de 1942: "Nós.../ Nós, os carecas/ Com as mulheres somos maiorais/ Pois, na hora do aperto, é dos carecas que elas gostam mais...". Nestas e em muitas outras, o parceiro de Arlindo é o também ignorado Roberto Roberti. Eles formavam uma parceria ideal: ambos faziam música e letra.
Arlindo e Roberti foram os primeiros compositores que Carmen Miranda, com o Brasil a seus pés, escolheu para gravar quando trocou a Victor pela Odeon, em abril de 1935: a cativante marchinha junina "Foi Numa Noite Assim" e um samba-choro de respeito, "Queixas de Colombina". E foi neles também que Orlando Silva, em seu apogeu, apostou no Carnaval de 1939, ao gravar o sólido samba "O Homem Sem Mulher Não Vale Nada".
Arlindo (cujo centenário de nascimento passou em branco em agosto último), Roberti e tantos sambas e marchinhas daquele período integram o patrimônio musical brasileiro. Um patrimônio maravilhoso, mas fantasma, ectoplásmico, cada vez menos lembrado e discutido, embora --por ironia-- esteja fartamente disponível no YouTube. Há quantas décadas não se grava Arlindo Marques Junior?
Ele merecia ser relançado por um cantor sensível, de grande público e prestígio. Alguém como --hei, boa ideia!-- Zeca Pagodinho.
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