Eduardo Tristão Girão
Estado de Minas: 28/09/2013
Músico sem fronteiras estéticas, Carlos Malta já levou suas flautas para concertos de Hermeto Pascoal, rodas de choro e apresentações da Dave Matthews Band |
Carlos
Malta está no auge. Dominando instrumentos de sopro como flauta,
clarone, pífano, flautas indígenas e o dizi chinês, o artista carioca
acumula experiências musicais tão diversas quanto uma década
acompanhando Hermeto Pascoal e as inesperadas (e imprevisíveis) canjas
nos shows da Dave Matthews Band. Prestes a lançar impressionante disco
de seu projeto Pife Muderno (gravado ao vivo na China), ele está tirando
do forno outro álbum, dedicado à obra de Dorival Caymmi, e promete
gravar os afrossambas de Baden Powell e Vinicius de Moraes. E ainda tem
tempo para compor.
“Eram uns 1,2 mil chineses. A gente ouvia as palmas e elas cresciam à medida que o show ia se desenvolvendo. Os caras iam entendendo o que ocorria no palco e ficavam admirados. Terminamos o show no meio do público, no saguão do teatro. Foi lindo de ver. Fora que a flauta tem um significado muito grande para os chineses, incluindo pop stars deles que tocam dizi e que a gente não faz ideia. É um mundo paralelo, que não chega aqui por YouTube”, conta Malta. Com performances sempre incendiárias, o Pife Muderno, que tem dois discos de estúdio, precisava mesmo de um registro do tipo.
O grupo, formado por ele, Andrea Ernest Dias (ambos tocam pífanos e flautas), Marcos Suzano (pandeiro), Oscar Bolão (bateria), Bernardo Aguiar (pandeiro) e Durval Pereira (zabumba), aposta em leitura instrumental, contemporânea e vigorosa da sonoridade das bandas de pífano comuns no Nordeste. A apresentação em questão foi realizada em setembro de 2011 num teatro localizado na Cidade Proibida, em Pequim, à convite da embaixada brasileira. O repertório mescla músicas dos dois álbuns, sendo que a primeira teve execução prolongada, com nada menos que 15 minutos. O trabalho está sendo masterizado.
Malta, que está completando duas décadas de carreira, lembra que o Pife Muderno chegará à mesma marca ano que vem. “Foi numa tarde de 1994 que fizemos um dos nossos primeiros e únicos ensaios”, diverte-se. De lá para cá, artistas como Lenine, Nicolas Krassik, Bebê Kramer e Hamilton de Holanda já tocaram com o grupo. A ideia de criá-lo foi de Malta, motivado por um produtor cultural que estava à procura de novidades para tocar em um centro cultural então recém-inaugurado no Rio de Janeiro. Na mesma época, criou outro projeto, o Coreto Urbano, com o objetivo de repaginar a estética das bandas de metais – também com o auxílio da percussão.
Coltrane “Tenho muita música autoral pronta, que posso desenvolver para essas minhas várias vertentes. Coisa pronta para chegar, tocar, gravar e montar um novo show”, garante o músico. Algumas delas deverão estar no disco que terá como base os afrossambas de Baden e Vinicius e será gravado com André Siqueira (guitarra), Augusto Mattoso (baixo acústico) e Di Stéffano (bateria). O músico imagina que será algo parecido com o que fez no seu disco Pimenta, dedicado ao repertório de Elis Regina e totalmente instrumental.
“Transportei os solos do Baden e o canto do Vinicius de forma a sustentar uma leitura jazzística, abrir espaço para improvisação. As músicas têm esse caráter modal. Canto de Xangô, por exemplo, poderia ser do John Coltrane, eu não estranharia. Chego a crer que, de alguma maneira, os afrossambas têm a ver com a onda modal do jazz norte-americano da época. Li certa vez que o Coltrane ouvia musica folclórica sul-americana durante as gravações do disco A love supreme. Para nós, seria música andina, mas para os norte-americanos pode ser musica afrobrasileira”, observa. Selecionou, entre outras composições, Tristeza e solidão e Tempo de amor.
Essa variedade de formações ajuda a “oxigenar” o músico, deixando-o mais atento a novas possibilidades. Foi tocando com músicos do Clube do Choro de Brasília, por exemplo, que decidiu gravar outro disco, dedicado a obra do cantor e compositor baiano Dorival Caymmi. “O grupo tem baixo elétrico, bateria, violão de sete cordas e um cavaquinho que não é de fazer levada, mas contrapontístico. A gravação ficou um primor. Usei clarone e flauta baixo, que são instrumentos mais graves, por causa da voz do Caymmi”, conta ele. Batizado de Omaramor, o disco já foi mixado e será lançado depois do álbum do Pife Muderno.
Máquina de som
Malta se mantém ouvindo de tudo um pouco e confessa estar “totalmente viciado” nos discos do grupo norte-americano Dave Matthews Band. Ele e o saxofonista da banda, Jeff Coffin, se conheceram em 2008, quando o segundo veio tocar em São Paulo com Béla Fleck. Ainda no mesmo ano, quando a DMB chegou ao Rio de Janeiro para um show, o carioca reencontrou Coffin: foram juntos para noitada musical no Bar Semente, estreitaram a amizade e, no dia seguinte, Malta recebeu convite para dar canja na apresentação deles. “Quebrei tudo com os caras e, para minha surpresa, esse show virou um disco duplo, Live in Rio”, diz
Em 2010, o grupo voltou a capital fluminense e Malta novamente foi convidado a subir ao palco. Detalhe: na véspera, os integrantes da DMB foram assistir ao seu show do disco Pimenta. A afinidade entre eles foi tão grande que, em julho deste ano, os estrangeiros resolveram levá-lo para três concertos nos Estados Unidos. “Não conhecia nada deles. Aquilo é uma máquina de som, tem uma pegada instrumental pesada. Tem solo meu que dura 20 minutos. É impressionante a quantidade de gente que vai ver os shows. Tenho gostado muito de ouvir o som deles”, finaliza.
“Eram uns 1,2 mil chineses. A gente ouvia as palmas e elas cresciam à medida que o show ia se desenvolvendo. Os caras iam entendendo o que ocorria no palco e ficavam admirados. Terminamos o show no meio do público, no saguão do teatro. Foi lindo de ver. Fora que a flauta tem um significado muito grande para os chineses, incluindo pop stars deles que tocam dizi e que a gente não faz ideia. É um mundo paralelo, que não chega aqui por YouTube”, conta Malta. Com performances sempre incendiárias, o Pife Muderno, que tem dois discos de estúdio, precisava mesmo de um registro do tipo.
O grupo, formado por ele, Andrea Ernest Dias (ambos tocam pífanos e flautas), Marcos Suzano (pandeiro), Oscar Bolão (bateria), Bernardo Aguiar (pandeiro) e Durval Pereira (zabumba), aposta em leitura instrumental, contemporânea e vigorosa da sonoridade das bandas de pífano comuns no Nordeste. A apresentação em questão foi realizada em setembro de 2011 num teatro localizado na Cidade Proibida, em Pequim, à convite da embaixada brasileira. O repertório mescla músicas dos dois álbuns, sendo que a primeira teve execução prolongada, com nada menos que 15 minutos. O trabalho está sendo masterizado.
Malta, que está completando duas décadas de carreira, lembra que o Pife Muderno chegará à mesma marca ano que vem. “Foi numa tarde de 1994 que fizemos um dos nossos primeiros e únicos ensaios”, diverte-se. De lá para cá, artistas como Lenine, Nicolas Krassik, Bebê Kramer e Hamilton de Holanda já tocaram com o grupo. A ideia de criá-lo foi de Malta, motivado por um produtor cultural que estava à procura de novidades para tocar em um centro cultural então recém-inaugurado no Rio de Janeiro. Na mesma época, criou outro projeto, o Coreto Urbano, com o objetivo de repaginar a estética das bandas de metais – também com o auxílio da percussão.
Coltrane “Tenho muita música autoral pronta, que posso desenvolver para essas minhas várias vertentes. Coisa pronta para chegar, tocar, gravar e montar um novo show”, garante o músico. Algumas delas deverão estar no disco que terá como base os afrossambas de Baden e Vinicius e será gravado com André Siqueira (guitarra), Augusto Mattoso (baixo acústico) e Di Stéffano (bateria). O músico imagina que será algo parecido com o que fez no seu disco Pimenta, dedicado ao repertório de Elis Regina e totalmente instrumental.
“Transportei os solos do Baden e o canto do Vinicius de forma a sustentar uma leitura jazzística, abrir espaço para improvisação. As músicas têm esse caráter modal. Canto de Xangô, por exemplo, poderia ser do John Coltrane, eu não estranharia. Chego a crer que, de alguma maneira, os afrossambas têm a ver com a onda modal do jazz norte-americano da época. Li certa vez que o Coltrane ouvia musica folclórica sul-americana durante as gravações do disco A love supreme. Para nós, seria música andina, mas para os norte-americanos pode ser musica afrobrasileira”, observa. Selecionou, entre outras composições, Tristeza e solidão e Tempo de amor.
Essa variedade de formações ajuda a “oxigenar” o músico, deixando-o mais atento a novas possibilidades. Foi tocando com músicos do Clube do Choro de Brasília, por exemplo, que decidiu gravar outro disco, dedicado a obra do cantor e compositor baiano Dorival Caymmi. “O grupo tem baixo elétrico, bateria, violão de sete cordas e um cavaquinho que não é de fazer levada, mas contrapontístico. A gravação ficou um primor. Usei clarone e flauta baixo, que são instrumentos mais graves, por causa da voz do Caymmi”, conta ele. Batizado de Omaramor, o disco já foi mixado e será lançado depois do álbum do Pife Muderno.
Máquina de som
Malta se mantém ouvindo de tudo um pouco e confessa estar “totalmente viciado” nos discos do grupo norte-americano Dave Matthews Band. Ele e o saxofonista da banda, Jeff Coffin, se conheceram em 2008, quando o segundo veio tocar em São Paulo com Béla Fleck. Ainda no mesmo ano, quando a DMB chegou ao Rio de Janeiro para um show, o carioca reencontrou Coffin: foram juntos para noitada musical no Bar Semente, estreitaram a amizade e, no dia seguinte, Malta recebeu convite para dar canja na apresentação deles. “Quebrei tudo com os caras e, para minha surpresa, esse show virou um disco duplo, Live in Rio”, diz
Em 2010, o grupo voltou a capital fluminense e Malta novamente foi convidado a subir ao palco. Detalhe: na véspera, os integrantes da DMB foram assistir ao seu show do disco Pimenta. A afinidade entre eles foi tão grande que, em julho deste ano, os estrangeiros resolveram levá-lo para três concertos nos Estados Unidos. “Não conhecia nada deles. Aquilo é uma máquina de som, tem uma pegada instrumental pesada. Tem solo meu que dura 20 minutos. É impressionante a quantidade de gente que vai ver os shows. Tenho gostado muito de ouvir o som deles”, finaliza.
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