Estado de Minas: 02/10/2013
Lembro-me de ouvir
casos, na infância, de coronéis que mandavam e desmandavam em suas
terras. Eram chefes políticos que se sentiam donos do território e das
pessoas. Exerciam um poder quase absoluto. Existiam também mulheres
nessa condição, caso da famosíssima Joaquina de Pompéu, cujos
descendentes influíram por décadas na política dos vários partidos
mineiros. Os privilégios eram defendidos a bala. O Chapadão do Bugre, de
Mário Palmério, faz uma descrição exemplar do que ocorria. Essa é uma
realidade que aos poucos foi desaparecendo no Sudeste do país.
Mas o progresso foi tão lento que, ainda hoje, em estados nordestinos, o coronelismo continua à solta. As histórias narradas pelos grandes escritores da região aqueceram minha fome de leitura na juventude, a ficção criando uma verdade dura, real. Os autores se foram e os livros permanecem. Mas o mais lamentável é que o mandonismo e a exploração desumana da gente humilde e ignorante continuam firmes em nosso horizonte.
Lembro-me, a propósito, do hoje senador Sarney. Ele deve ser uma pessoa simpática, capaz de não atrair críticas do poeta Ferreira Gullar e tantos outros artistas nascidos e criados no Maranhão. E ele já foi jovem um dia. Político desde cedo, fazia parte da chamada bossa nova da UDN e questionava os velhos caciques daquele partido radicalmente reacionário.
O governador e coronel maranhense do período era Vitorino Freire, contra quem o jovem Sarney discursava, vituperava, ofendia e se opunha. Nesse tempo, eu prestava atenção em outro jovem, Luiz Fernando Freire, que tecia canções de bossa nova, letrista muito bom das melodias dos jovens compositores que estavam surgindo. Luiz Fernando era filho de Vitorino Freire.
A bossa nova musical ganhou o país e o mundo, até hoje é orgulho para os brasileiros. Já a dos jovens udenistas dos anos 1960, o tempo tornou ridícula e pequena. Pois o rebelde anticoronelista se amigou com os militares da ditadura militar e foi-se transformando, ou no fundo já era, o mandachuva de sua terra, repetindo em doses cavalares o que lhe repugnava no adversário local. Virou um mestre na função de coronel. Trabalhou 50 anos para que os seus se dessem bem e para condenar seus conterrâneos à miséria e ao analfabetismo.
Soube entender que, mantendo seu povo na ignorância e no desamparo, o caminho de constantes reeleições estava seguro. Serve de exemplo para outros jovens políticos nordestinos, que seguindo sua forma de agir e pensar, vão galgando os degraus da democracia rumo ao coronelato que subjuga os semelhantes.
Os coronéis não são mais marca registrada da direita. A chamada esquerda agora os recebe muito bem. Os coronéis pensam que o poder é eterno. Mas chega um dia em que ninguém mais escreve aos coronéis.
Mas o progresso foi tão lento que, ainda hoje, em estados nordestinos, o coronelismo continua à solta. As histórias narradas pelos grandes escritores da região aqueceram minha fome de leitura na juventude, a ficção criando uma verdade dura, real. Os autores se foram e os livros permanecem. Mas o mais lamentável é que o mandonismo e a exploração desumana da gente humilde e ignorante continuam firmes em nosso horizonte.
Lembro-me, a propósito, do hoje senador Sarney. Ele deve ser uma pessoa simpática, capaz de não atrair críticas do poeta Ferreira Gullar e tantos outros artistas nascidos e criados no Maranhão. E ele já foi jovem um dia. Político desde cedo, fazia parte da chamada bossa nova da UDN e questionava os velhos caciques daquele partido radicalmente reacionário.
O governador e coronel maranhense do período era Vitorino Freire, contra quem o jovem Sarney discursava, vituperava, ofendia e se opunha. Nesse tempo, eu prestava atenção em outro jovem, Luiz Fernando Freire, que tecia canções de bossa nova, letrista muito bom das melodias dos jovens compositores que estavam surgindo. Luiz Fernando era filho de Vitorino Freire.
A bossa nova musical ganhou o país e o mundo, até hoje é orgulho para os brasileiros. Já a dos jovens udenistas dos anos 1960, o tempo tornou ridícula e pequena. Pois o rebelde anticoronelista se amigou com os militares da ditadura militar e foi-se transformando, ou no fundo já era, o mandachuva de sua terra, repetindo em doses cavalares o que lhe repugnava no adversário local. Virou um mestre na função de coronel. Trabalhou 50 anos para que os seus se dessem bem e para condenar seus conterrâneos à miséria e ao analfabetismo.
Soube entender que, mantendo seu povo na ignorância e no desamparo, o caminho de constantes reeleições estava seguro. Serve de exemplo para outros jovens políticos nordestinos, que seguindo sua forma de agir e pensar, vão galgando os degraus da democracia rumo ao coronelato que subjuga os semelhantes.
Os coronéis não são mais marca registrada da direita. A chamada esquerda agora os recebe muito bem. Os coronéis pensam que o poder é eterno. Mas chega um dia em que ninguém mais escreve aos coronéis.
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