quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Prevenção rosa ao câncer de mama‏

Charles Pádua

Oncologista e diretor do Cetus- Hospital Dia, especializado em medicina oncológica em Betim

Estado de Minas: 02/10/2013 



Outubro é um mês de importância ímpar quando o assunto é o combate ao câncer de mama. O chamado “Outubro Rosa” – campanha mundial de conscientização sobre a doença – joga luz rosa não só sobre monumentos no Brasil e no exterior, mas clareia questões como prevenção, tratamento e os perigos do câncer de mama. Um novo relatório mundial estima que, neste ano, pelo menos 60 mil mulheres a mais que em 2012 sejam diagnosticadas com a doença. A previsão é que o número de novos casos identificados em todo o planeta ultrapasse a marca de 1,6 milhão.

O que mais preocupa é que a incidência da doença tem aumentado. Segundo estimativa do World Breast Cancer Report 2012, do Instituto Internacional de Pesquisa da Prevenção, na França, a ocorrência de câncer de mama tem subido 3,1% a cada ano. Na década de 1980, os registros davam conta de cerca de 640 mil casos anuais. Ou seja, em três décadas, o número mais que dobrou. No Brasil, o câncer de mama é o mais frequente na população feminina e é responsável por cerca de 12 mil mortes por ano.

Mas por que todo o aparato tecnológico no combate à doença, cada dia mais avançado, não reflete na diminuição do número de casos de morte por câncer de mama no Brasil? A resposta é tão simples quanto dolorosa: falta democratizar o acesso ao diagnóstico e ao tratamento. Apenas 25% dos mamógrafos, equipamento primordial para realizar o exame de detecção da doença, estão à disposição da população que utiliza a rede pública.

Na esteira da dificuldade de acesso aos exames como a mamografia vem a falta de informação. Se detectado em estágios iniciais, as chances de cura do câncer de mama chegam a 85%. No entanto, cerca de 1/3 das mulheres brasileiras descobrem que estão com a doença já em situação avançada, quando metástases estão instaladas em outras partes do corpo. O tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento, que no Brasil pode demorar até seis meses, também se configura como entrave para a cura. O ideal seria que o período fosse de, no máximo, dois meses. A detecção e o tratamento tardios fazem com que as chances de cura despenquem para 30%.

No Brasil, a população feminina de cerca de 260 municípios com mais de 100 mil habitantes tem dificuldade de acesso ao exame de mamografia. O problema pode ser determinante para a saúde de mulheres com idade entre 50 e 69 anos, faixa prioritária para as políticas de combate à doença.

Algumas iniciativas nacionais – ainda tímidas se comparadas ao tamanho do problema – podem ser lembradas. Há exatamente um ano, o governo federal lançou o Programa de Mamografia Móvel, que disponibiliza carretas equipadas com mamógrafos que percorrem o país oferecendo exames gratuitos. Dados do Ministério da Saúde indicam que, no primeiro semestre de 2013, foi registrado um aumento de 21% no número de mamografias feitas no Sistema Único de Saúde (SUS) entre mulheres na faixa prioritária em relação ao mesmo período de 2011.

Até 2014, R$ 4,5 bilhões devem ser investidos para fortalecer o Plano Nacional de Prevenção, Diagnóstico e Tratamento do Câncer do Colo do Útero e de Mama. É evidente que não se podem ignorar os resultados de nenhuma ação relacionada ao combate, conscientização e prevenção do câncer de mama. Mas, enquanto as estatísticas forem de aumento no número dos casos, terá que ser feito muito mais para se combater a doença.

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