domingo, 27 de outubro de 2013

Tereza Cruvinel - Relatividades‏

É preciso relativizar as pesquisas precoces, que captam humores do eleitorado sujeito a fortes oscilações nos próximos 11 meses


Tereza Cruvinel

Estado de Minas: 27/10/2013 



Pesquisas eleitorais a 11 meses do pleito captam humores do eleitorado que ainda serão afetados por muitos fatores. Afora os econômicos, inclua-se, entre os de natureza propriamente política, o nível de conhecimento de cada candidato e a empatia criada com o eleitorado, suas propostas e prioridades, as alianças partidárias, as disputas estaduais. No curso da campanha, pesará o dinheiro e a eficiência dos programas de televisão. No fim da novela, o eleitor decidirá, pesando satisfação ou frustração, entre mudar ou manter no poder um governante ou seu partido. Por tudo isso, é preciso relativizar as pesquisas precoces, apuradas na ausência de ventos fortes sobre a opinião pública, como foram as manifestações de junho. É o caso da última pesquisa Ibope/Estadão, divulgada na semana passada, suscitando leituras precipitadas em todos os quadrantes.

Em relação à presidente Dilma, por exemplo, é açodado dar como certa sua vitória no primeiro turno, que só não ocorreria, segundo a pesquisa, se Marina Silva e José Serra, numa grande reviravolta, fossem candidatos. O PT trombeteou o resultado, mas trabalha mesmo é com o cenário de dois turnos. Mas é também precipitada a conclusão dos adversários de que Dilma já “bateu no teto” e não cresceria mais. A recuperação pós-junho de fato desacelerou-se, mas, em 11 meses, muitas águas rolarão, a favor e contra sua reeleição. No programa de TV da semana passada, o PT mostrou que irá com gana para a disputa, reivindicando o legado de 12 anos no governo, especialmente no social, e com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no papel de grande eleitor. Não é pouco, mas os ofendidos com Dilma também são uma legião, que inclui boa parte do empresariado.

Outra leitura apressada foi a de que o provável candidato do PSDB, Aécio Neves, teve sua candidatura ferida pela emergência da dupla Campos-Marina. Para começar, os tucanos estranharam os 14% de referência do candidato, comparados aos 21% obtidos pela Vox Populi 10 dias antes, e aos 21% do Datafolha, 12 dias antes. Discrepâncias entre institutos podem reforçar a posição dos que, no Congresso, defendem o projeto que proíbe a divulgação de pesquisas nos 15 dias anteriores ao pleito. Aliados de Eduardo Campos (PSB) registraram também a diferença entre os 15% obtidos há 15 dias no Datafolha e os 10% apontados pelo Ibope, invertendo sua tendência de alta. Mas a primeira foi realizada em cima do lance de sua união com Marina, o que pode explicar a diferença. Mas, voltando a Aécio no Ibope, apressaram-se também os socialistas a prever que ele será ultrapassado por Campos até o fim do ano, situação em que poderia ser substituído por José Serra. A ultrapassagem, mesmo que ocorra, não muda o fato de que Aécio tem hoje pleno controle sobre o PSDB. Na hora H, a estrutura, a capilaridade e os palanques que o PSDB terá nos estados farão diferença. Hoje, o PSB/Rede é deficitário nesses quesitos.

Eduardo e Aécio têm espaços semelhantes para se tornar mais conhecidos e crescer. Ainda não está devidamente avaliado o grau de transferência de apoios de Marina para ele. Certo é que, doravante, a camaradagem inicial entre Aécio e Eduardo dará lugar à disputa pela segunda posição. Reflexo disso, a retração na tendência anterior de montarem palanques duplos nos estados. Eduardo, neste momento, viaja tentando montar uma palanque de terceira via para as disputas locais.


Agora vai?
Eleições presidenciais e insatisfações federativas nunca foram uma boa combinação. Na semana passada, depois de longa peleja, prefeitos e governadores viram finalmente aprovado o projeto que altera os juros e o indexador de suas dívidas. O governo comemorou e a medida deve beneficiar governadores e prefeitos de todos os partidos, inclusive os da oposição. Não será o bastante, entretanto, para garantir o desenvolvimento regional sem recurso à predatória guerra fiscal. O Senado retomará agora o esforço para aprovar a unificação das alíquotas do ICMS, que só acontecerá se o governo concordar com outras três medidas: a homologação dos incentivos atuais pelo Confaz, a criação do fundo de compensação para os que tiverem arrecadação reduzida, e o fundo de desenvolvimento regional para projetos estratégicos, que podem custar R$ 40 bilhões à União. “É agora ou não será no ano eleitoral de 2014. Os estados estão no limite”, avisou o senador Walter Pinheiro (PT-BA) a um faminto Guido Mantega, na sexta-feira, após quatro horas de debate. O ministro da Fazenda, porém, não se comprometeu com os fundos. Logo depois, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), anunciou a votação do projeto sobre a autonomia do Banco Central. Pode ser um bode, a ser retirado se o governo sentar para negociar os termos da minirreforma tributária.

Agenda da Rede
Amanhã e depois, os recém-casados Rede e PSB começam a discutir a plataforma política comum. Só então o acordo pragmático passará a ser programático. Marina Silva destacou o deputado Alfredo Sirkis (PSB-RJ) para representar a Rede na simultânea Conferência RioClima, preparatória da 19ª Conferência sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em novembro, em Varsóvia. Em pauta, os temas da verdadeira agenda nova do mundo, como uma política tributária que favoreça a economia do baixo carbono e a atribuição de valor econômico aos serviços prestados pelos ecossistemas de cada país. Por exemplo, quanto vale o benefício proporcionado ao mundo pela floresta amazônica? Sua preservação não devia ser obrigação de todos?

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