sábado, 16 de novembro de 2013

Eduardo Almeida Reis - Dízima periódica‏

São centenas, milhares de baladas todas as noites. Só vendo para acreditar que aquilo existe e lá está para ser visto pelos que não acreditam


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 16/11/2013


Cheguei a uma idade, digamos, provecta, sem saber que bufa é ventosidade anal silenciosa, geralmente fétida. Ora, bolas, se pode eventualmente não ser fétida, que mal existe numa ventosidade silenciosa? Quando estrepitosa e fétida, a ventosidade cria situações curiosas, como numa noite em que voltávamos debaixo de muita chuva, da então distante Barra da Tijuca, no Skoda de um primo. Três primos e três belas moças. O Skoda cinzento, fabricação tcheca, comportava quatro pessoas; éramos seis rapazes e moças de estatura acima da normal. Havia uma curva, na subida para o Joá, exigindo primeira marcha que no Skoda engatava com dificuldade. Talvez não fosse sincronizada. Naquele tempo, tive um fusca alemão e a primeira não era sincronizada.

Temporal indescritível, vidros fechados, calor, sem ar-refrigerado, seis jovens apertados no Skoda e o primo às voltas com o engate da primeira, quando atroou os ares habitáculo a ventosidade mais estrepitosa de que há notícia na história da medicina mundial. Ainda por cima, demorada. Junto com ela inenarrável fetidez.

Educadíssimos que sempre fomos, abrimos os vidros do carro, deixando entrar a chuva que encharcou o habitáculo e os seis jovens. Levamos as moças para suas casas. Desembarcada a última, começou o inquérito: “Foi você? Foi você?”. Sob palavra de honra, os três garantimos que a explosão fétida não partiu de nenhum de nós.

Naquela emergência gravíssima para os nossos planos matrimoniais, rompemos com as respectivas namoradas. Se um de nós resolvesse levar adiante o namoro, correria risco percentual muito alto, de 33,3333333333333333%. Acho que o nome é dízima periódica.


O que é?
Maior cidade brasileira e capital do estado mais rico do país, São Paulo pode ser a síntese do que vai pelos nossos 8,5 milhões de quilômetros quadrados. Daí a preocupação que me permito dividir com o caro, preclaro e pacientíssimo leitor de Tiro&Queda.

Uma de minhas filhas, quando muito pequena, sempre que procurava explicação para alguma coisa perguntava “quisso é?”. O Google tem 34 mil entradas para quisso, uma delas no Dicionário In-Formal: “Aglutinação da expressão ‘o que?’ e da palavra ‘isso’. Logo, quando falamos ‘quisso’ é como se perguntássemos ‘o que é isso?’.

– Maria, você já ouviu falar em diplópodes?

– Quisso?

– É uma classe de animais, Maria!”.

Para o espanhol quiso o Google tem mais que 33 milhões de entradas. O buscador, impende notar, inteirou 15 aninhos há poucos meses. Dá para imaginar o Google de 2028, se o mundo ainda existir. Aí é que está: os telejornais noturnos me dão a impressão de que o planeta estertora, verbo estertorar, emitir (moribundo) respiração ruidosa, agonizar, bruxulear, extinguir-se.

Vejamos: telejornal supostamente sério. Repórter paulista faz matéria de cinco minutos na casa dos artistas que cantariam na última noite do Rock in Rio. Entrevista um cavalheiro tatoo color, como se alguém, com mais de três neurônios, pudesse ter interesse pelo que pensa e diz um cidadão inteiramente tatuado em cores.

Pouco antes, reportagem da série “Noites insanas” em São Paulo. São centenas, milhares de baladas todas as noites. Só vendo para acreditar que aquilo existe e lá está para ser visto pelos que não acreditam. Que será daqueles milhares de jovens – dezenas, centenas de milhares... – que estão nas baladas?

Enquanto isso, o PCC, Primeiro Comando da Capital, executa os bandidos que mataram o menino boliviano de cinco aninhos. Quer dizer: nem o crime organizado suporta o nível de violência e a barbaridade de certos crimes cometidos na capital paulista. É o PCC mostrando aos legisladores e à Justiça que tudo na vida tem limites. Vale notar que os índices de violência paulistana são menores que os de outras capitais.

Não bastasse isso, há o Islã. Marco Pórcio Catão terminava todas as suas intervenções no Senado romano com a frase: Ceterum censeo Carthaginem esse delendam (Aliás, sou de opinião que Cartago deve ser destruída). Minha preocupação com o Islã é maior e mais justificada que a de Catão, o Velho.


O mundo é uma bola
No dia 16 de novembro de 1908, como acabo de ler na Wikipédia, o médium Zélio Fernandino de Moraes incorpora o Caboclo das Sete Encruzilhadas, dando início ao culto de umbanda, religião nascida no Rio de Janeiro, que originalmente congeminava elementos espíritas e bantos, estes já plasmados sobre elementos jeje-iorubas, e hoje se apresenta segmentada em variados cultos caracterizados por influências muito diversas: indigenistas, catolicistas, esotéricas, cabalísticas etc.

Em 1945, fundação da Unesco. Deve ter sido a quarta ou quinta fundação da Unesco que transcrevo nos últimos dias, sinal de que a Unesco foi mesmo fundada. Em 1980, Louis Althusser, filósofo francês, estrangula sua mulher. Houve quem achasse que Louis teve um surto psicótico, mas há que tomar todo o cuidado com os filósofos, sobretudo com aquele bagulho que se apresenta como filósofa petista. Bons, mesmo, são os philosophos que não estrangulam suas companheiras e nunca acreditaram no PT.


Ruminanças
“A cisterna contém, a fonte transborda” (Blake, 1757-1827).

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