Mitos da alergia
Estima-se que 30% da população mundial tenha algum tipo de manifestação, mas há muita desinformação e confusão sobre o mal
Paloma Oliveto
Estado de Minas: 12/11/2013
De repente, as
atenções se voltaram ao glúten. De ingrediente desconhecido à grande
vilã dos rótulos alimentares, a proteína virou bode expiatório para toda
sorte de desconforto gastrointestinal. Mesmo sem nunca ter sido
diagnosticada, muita gente “resolveu” que tem alergia a esse componente
dos grãos e o baniu do cardápio. A vacina contra a influenza também
recebe torcidas de nariz. Como é preparada com vírus inoculados em
embriões de ovo, pessoas que não podem com esse alimento preferem pegar
gripe a enfrentar uma reação. O que poucos sabem, porém, é que a
imunização não provoca nenhum tipo de dano mesmo aos mais sensíveis à
clara. Por sua vez, alergia a glúten é uma condição extremamente rara – o
que existe é intolerância a ele.
Mitos a respeito de alergias alimentares, medicamentosas e respiratórias são comuns. Ainda mais quando cerca de 70% dos usuários de internet buscam, na rede, informações sobre saúde. A falta de filtros que garantam a confiança dos dados faz com que muitas publicações tragam conceitos errados, que acabam compartilhados e reproduzidos em páginas do mundo todo. Essa é uma preocupação do alergologista e imunologista David Stukus, do Hospital Infantil da Nação, em Columbia (EUA). Durante o 70º Encontro Anual do Colégio Americano de Alergia, Asma e Imunologia (Acaai), evento que terminou ontem nos Estados Unidos, o médico advertiu que as informações incorretas levam os pacientes a tomar atitudes perigosas e desnecessárias.
Segundo Stukus, cerca de 30% da população mundial sofre de algum tipo de alergia, o que justifica o grande interesse pelo assunto. Principalmente por parte dos pais, já que, com o sistema imunológico ainda em desenvolvimento, crianças pequenas costumam ser as grandes vítimas dessa reação exagerada do organismo a algum agente externo. O médico, aliás, diz que muitas pessoas não sabem ao certo o que é uma alergia, o que pode aumentar as confusões. “Trata-se de uma resposta do sistema imunológico a uma substância específica, que chamamos de alérgeno. Em contato com essa substância, que pode ser pólen, ácaros e algumas proteínas contidas em alimentos, por exemplo, o organismo responde lançando histaminas e outros agentes químicos”, diz. A reação tem como consequência os conhecidos sintomas: espirro, tosse, coceira na garganta e nos ouvidos, irritação na pele e dor no estômago, entre outros.
Riscos Com controle, é possível levar uma vida normal, mesmo rodeado por substâncias irritantes. Para isso, porém, David Stukus alerta que a informação de qualidade é fundamental. “O mesmo vale em relação a pessoas saudáveis. Muitas alteram suas dietas e deixam de consumir coisas de que gostam porque leem sobre alergias alimentares e acham que sofrem daquilo. Essa história da alergia a glúten é uma das mais disseminadas. Quanta gente deixa de comer pão e diz que é porque é alérgica a glúten, sem que médico algum tenha dito isso a ela. Agora, tudo é culpa do glúten”, observa.
Stukus esclarece que a proteína encontrada em grãos pode desencadear efeitos adversos, como diarreia, perda de peso, cansaço e distenção abdominal. Mas isso em pessoas que sofrem de doença celíaca, um mal autoimune, no qual o organismo interpreta que o glúten é uma ameaça e passa a atacá-lo, provocando danos na superfície do intestino. “A doença celíaca é uma condição digestiva relativamente comum e não deve ser confundida com alergia”, afirma. “Quem acha que tem problemas ao ingerir alimentos com glúten precisa ir ao médico e fazer exames, em vez de mexer na dieta por conta própria”, alerta.
Outra preocupação do médico é com a vacina da gripe. Temendo reações extremas, pessoas alérgicas a proteínas da clara do ovo evitam a imunização, ficando suscetíveis aos males da influenza. “Nos últimos anos, foram feitos diversos estudos para avaliar se a vacina desencadearia reações em alérgicos a ovo. Ficou constatado que não há o que temer. A dose é única e muito baixa para provocar qualquer problema”, esclarece o alergologista John Kelso, integrante da Acaai e autor de um estudo sobre a segurança da vacina, publicado na edição do mês passado da revista Annals of Allergy, Asthma and Immunology.
“Pessoas que sofrem de asma e alergia respiratória costumam apresentar sintomas mais severos quando estão com gripe, e isso pode levar a um alto índice de complicações. Nos Estados Unidos, mais de 20 mil crianças com menos de 5 anos são internadas anualmente por causa da influenza”, conta Kelso. “Os benefícios da vacina são maiores que qualquer risco associado. Embora crianças alérgicas a ovo possam até morrer caso comam o alimento, elas não estão em perigo por tomarem a vacina injetável”, garante.
Enquanto alguns deixam de se proteger por medo de reações alérgicas, outros se expõem ao risco, pensando que estão seguros. É o caso de quem é hipersensível a enzimas liberadas por animais domésticos e, por isso, compram cães e gatos “hipoalergênicos”. Um exemplo é Bo, o cão da família Obama. Como uma das filhas do presidente americano é alérgica, ao escolher a mascote da Casa Branca, ele levou para casa um cão d’água português, raça que não tem subpelo e, por isso, não desencadearia reações. Cachorros antialérgicos, contudo, são ficção, pois não é o pelo que causa alergia, mas uma enzima que é secretada pela glândula anal e pela saliva.
“Não há bases científicas para afirmar que determinadas raças são menos alergênicas que outras”, garante Christine Cole Johnson, pesquisadora do Departamento de Saúde Pública do Hospital Henry Ford. Há dois anos, ela publicou um estudo sobre o potencial de animais domésticos desencadearem crises alérgicas. “Posso dizer que a exposição a cães no início da vida fornece proteção contra substâncias alergênicas lançadas por esse animal. Mas a ideia de que você pode comprar certas raças que vão causar menos problemas a uma pessoa já alérgica não encontrou apoio na pesquisa”, conta.
Mitos a respeito de alergias alimentares, medicamentosas e respiratórias são comuns. Ainda mais quando cerca de 70% dos usuários de internet buscam, na rede, informações sobre saúde. A falta de filtros que garantam a confiança dos dados faz com que muitas publicações tragam conceitos errados, que acabam compartilhados e reproduzidos em páginas do mundo todo. Essa é uma preocupação do alergologista e imunologista David Stukus, do Hospital Infantil da Nação, em Columbia (EUA). Durante o 70º Encontro Anual do Colégio Americano de Alergia, Asma e Imunologia (Acaai), evento que terminou ontem nos Estados Unidos, o médico advertiu que as informações incorretas levam os pacientes a tomar atitudes perigosas e desnecessárias.
Segundo Stukus, cerca de 30% da população mundial sofre de algum tipo de alergia, o que justifica o grande interesse pelo assunto. Principalmente por parte dos pais, já que, com o sistema imunológico ainda em desenvolvimento, crianças pequenas costumam ser as grandes vítimas dessa reação exagerada do organismo a algum agente externo. O médico, aliás, diz que muitas pessoas não sabem ao certo o que é uma alergia, o que pode aumentar as confusões. “Trata-se de uma resposta do sistema imunológico a uma substância específica, que chamamos de alérgeno. Em contato com essa substância, que pode ser pólen, ácaros e algumas proteínas contidas em alimentos, por exemplo, o organismo responde lançando histaminas e outros agentes químicos”, diz. A reação tem como consequência os conhecidos sintomas: espirro, tosse, coceira na garganta e nos ouvidos, irritação na pele e dor no estômago, entre outros.
Riscos Com controle, é possível levar uma vida normal, mesmo rodeado por substâncias irritantes. Para isso, porém, David Stukus alerta que a informação de qualidade é fundamental. “O mesmo vale em relação a pessoas saudáveis. Muitas alteram suas dietas e deixam de consumir coisas de que gostam porque leem sobre alergias alimentares e acham que sofrem daquilo. Essa história da alergia a glúten é uma das mais disseminadas. Quanta gente deixa de comer pão e diz que é porque é alérgica a glúten, sem que médico algum tenha dito isso a ela. Agora, tudo é culpa do glúten”, observa.
Stukus esclarece que a proteína encontrada em grãos pode desencadear efeitos adversos, como diarreia, perda de peso, cansaço e distenção abdominal. Mas isso em pessoas que sofrem de doença celíaca, um mal autoimune, no qual o organismo interpreta que o glúten é uma ameaça e passa a atacá-lo, provocando danos na superfície do intestino. “A doença celíaca é uma condição digestiva relativamente comum e não deve ser confundida com alergia”, afirma. “Quem acha que tem problemas ao ingerir alimentos com glúten precisa ir ao médico e fazer exames, em vez de mexer na dieta por conta própria”, alerta.
Outra preocupação do médico é com a vacina da gripe. Temendo reações extremas, pessoas alérgicas a proteínas da clara do ovo evitam a imunização, ficando suscetíveis aos males da influenza. “Nos últimos anos, foram feitos diversos estudos para avaliar se a vacina desencadearia reações em alérgicos a ovo. Ficou constatado que não há o que temer. A dose é única e muito baixa para provocar qualquer problema”, esclarece o alergologista John Kelso, integrante da Acaai e autor de um estudo sobre a segurança da vacina, publicado na edição do mês passado da revista Annals of Allergy, Asthma and Immunology.
“Pessoas que sofrem de asma e alergia respiratória costumam apresentar sintomas mais severos quando estão com gripe, e isso pode levar a um alto índice de complicações. Nos Estados Unidos, mais de 20 mil crianças com menos de 5 anos são internadas anualmente por causa da influenza”, conta Kelso. “Os benefícios da vacina são maiores que qualquer risco associado. Embora crianças alérgicas a ovo possam até morrer caso comam o alimento, elas não estão em perigo por tomarem a vacina injetável”, garante.
Enquanto alguns deixam de se proteger por medo de reações alérgicas, outros se expõem ao risco, pensando que estão seguros. É o caso de quem é hipersensível a enzimas liberadas por animais domésticos e, por isso, compram cães e gatos “hipoalergênicos”. Um exemplo é Bo, o cão da família Obama. Como uma das filhas do presidente americano é alérgica, ao escolher a mascote da Casa Branca, ele levou para casa um cão d’água português, raça que não tem subpelo e, por isso, não desencadearia reações. Cachorros antialérgicos, contudo, são ficção, pois não é o pelo que causa alergia, mas uma enzima que é secretada pela glândula anal e pela saliva.
“Não há bases científicas para afirmar que determinadas raças são menos alergênicas que outras”, garante Christine Cole Johnson, pesquisadora do Departamento de Saúde Pública do Hospital Henry Ford. Há dois anos, ela publicou um estudo sobre o potencial de animais domésticos desencadearem crises alérgicas. “Posso dizer que a exposição a cães no início da vida fornece proteção contra substâncias alergênicas lançadas por esse animal. Mas a ideia de que você pode comprar certas raças que vão causar menos problemas a uma pessoa já alérgica não encontrou apoio na pesquisa”, conta.
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