A coruja, o corujinha e o papagaio
Maria Esther Maciel - memaciel.em@gmail.com
Estado de Minas: 12/11/2013
A coruja, tendo
aprendido a lidar com a tecnologia do Skype, ligou para o corujinha, seu
filhote, que está vivendo num outro país. A novidade é que, pela
primeira vez, a mãe-coruja pôde ver a imagem dele na tela do computador,
o que a deixou muito emocionada. Até então eles se falavam (quase todos
os dias, é claro) pelo Viber, um prático e eficaz aplicativo de celular
que dispensa operadoras de telefone e exige apenas acesso à internet.
Mas se a imagem do corujinha foi um alento para a saudade da mãe, não
deixou também de ser motivo de preocupação. Com os olhos sempre
arregalados e atentos, ela notou que o filhote estava com uma levíssima
sombra de tristeza no olhar, e, por causa disso, nem dormiu direito
naquele dia. Moral óbvia da história: o que os olhos veem, o coração
sente.
Sim, se Esopo ou La Fontaine escrevessem nos dias de hoje, os computadores e celulares entrariam em suas histórias. É o que penso ao folhear, com prazer, dois livros de fábulas recentemente publicados pela Editora Cosac e Naify, em novíssimas traduções feitas diretamente das línguas originais: Fábulas completas, de Esopo, e Fábulas selecionadas, de La Fontaine.
Interessante que, até há muito pouco tempo, eu tinha uma certa reserva em relação às fábulas, por causa dos seus exagerados artifícios de antropomorfismo, ou seja, da humanização excessiva dos animais – usados como meras representações do comportamento humano, com seus vícios e (poucas) virtudes. Mas agora já penso de forma um pouco diferente. Elas são histórias que fazem parte de um gênero literário próprio da época em que foram criadas e não deixam de evidenciar, pela força da ficção, as relações de poder e de afinidade entre seres humanos e animais nesses tempos passados. Atestam, desse modo, a importância que os bichos tiveram (e ainda têm) para a nossa imaginação e nossa vida cotidiana.
Etimologicamente vinculada à palavra “fala”, a fábula não tem uma idade certa. Surgiu no Oriente, foi da Índia à China e à Persia, chegando à Grécia graças a Esopo (620-560 a.C.), que reinventou o gênero no mundo ocidental. Mesmo que ainda haja dúvidas quanto à própria existência do autor (há quem diga que ele foi um escravo corcunda, gago e muito talentoso), a ele são atribuídas essas divertidas histórias de feição moralizante que até hoje alimentam a nossa fantasia. Já o francês La Fontaine – que recriou o legado de Esopo no século 17 e restituiu às fábulas o antigo formato em versos – nelas imprimiu um tom fortemente irônico, valendo-se das histórias de animais para criticar a política e os costumes da sociedade francesa do tempo.
As 386 fábulas de Esopo, que compõem a edição recém-publicada no Brasil, foram traduzidas diretamente do grego pela professora Maria Celeste C. Dezzotti, com ousadas ilustrações do artista carioca Eduardo Berliner. Quanto ao volume de La Fontaine, as 36 fábulas que a integram tiveram tradução cuidadosa do poeta Leonardo Fróes e foram ilustradas pelo renomado artista americano Alexander Calder (1898-1976).
Agora, em off: um papagaio me contou, esta manhã, que a tal coruja vai dar esses dois livros de presente ao corujinha, seu filhote, no Natal. Acho que vou fazer isso também.
Sim, se Esopo ou La Fontaine escrevessem nos dias de hoje, os computadores e celulares entrariam em suas histórias. É o que penso ao folhear, com prazer, dois livros de fábulas recentemente publicados pela Editora Cosac e Naify, em novíssimas traduções feitas diretamente das línguas originais: Fábulas completas, de Esopo, e Fábulas selecionadas, de La Fontaine.
Interessante que, até há muito pouco tempo, eu tinha uma certa reserva em relação às fábulas, por causa dos seus exagerados artifícios de antropomorfismo, ou seja, da humanização excessiva dos animais – usados como meras representações do comportamento humano, com seus vícios e (poucas) virtudes. Mas agora já penso de forma um pouco diferente. Elas são histórias que fazem parte de um gênero literário próprio da época em que foram criadas e não deixam de evidenciar, pela força da ficção, as relações de poder e de afinidade entre seres humanos e animais nesses tempos passados. Atestam, desse modo, a importância que os bichos tiveram (e ainda têm) para a nossa imaginação e nossa vida cotidiana.
Etimologicamente vinculada à palavra “fala”, a fábula não tem uma idade certa. Surgiu no Oriente, foi da Índia à China e à Persia, chegando à Grécia graças a Esopo (620-560 a.C.), que reinventou o gênero no mundo ocidental. Mesmo que ainda haja dúvidas quanto à própria existência do autor (há quem diga que ele foi um escravo corcunda, gago e muito talentoso), a ele são atribuídas essas divertidas histórias de feição moralizante que até hoje alimentam a nossa fantasia. Já o francês La Fontaine – que recriou o legado de Esopo no século 17 e restituiu às fábulas o antigo formato em versos – nelas imprimiu um tom fortemente irônico, valendo-se das histórias de animais para criticar a política e os costumes da sociedade francesa do tempo.
As 386 fábulas de Esopo, que compõem a edição recém-publicada no Brasil, foram traduzidas diretamente do grego pela professora Maria Celeste C. Dezzotti, com ousadas ilustrações do artista carioca Eduardo Berliner. Quanto ao volume de La Fontaine, as 36 fábulas que a integram tiveram tradução cuidadosa do poeta Leonardo Fróes e foram ilustradas pelo renomado artista americano Alexander Calder (1898-1976).
Agora, em off: um papagaio me contou, esta manhã, que a tal coruja vai dar esses dois livros de presente ao corujinha, seu filhote, no Natal. Acho que vou fazer isso também.
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