Médicos cubanos, engenheiros alemães
Ronaldo Gusmão
Presidente do Instituto de Educação Tecnológica (Ietec)
Estado de Minas: 12/11/2013
O Brasil vive hoje um
momento delicado em relação à classe médica e ao não atendimento das
necessidades básicas de saúde da população mais necessitada: estamos
importando profissionais por negligência ou falta de planejamento do
governo, por falta de recursos ou má administração de governos
municipais. Na engenharia, a situação poderá ser pior. Qualquer médico
atende as necessidades básicas do ser humano, mas na engenharia isso não
acontece. A formação de um engenheiro eletricista é completamente
diferente da de um engenheiro ambiental, nuclear, etc. Atualmente,
existem mais de 30 modalidades básicas de engenharia, e outras tantas
surgirão nos próximos anos.
Em 2011, o número de matrículas na engenharia superou as de direito: foram 227 mil em engenharia e 198 mil em direito, mas ainda distante da quantidade de matrículas em administração: 508 mil. O crescimento é motivo para comemoração, porém, com algumas preocupações: qual o nível de qualidade das escolas, dos estudantes, e em quais modalidades da engenharia eles irão se formar? A distribuição de vagas das engenharias é preocupante, pois somente quatro modalidades respondem por mais de 65% das vagas: civil (24%), produção (18%), mecânica (11%), e elétrica (11%). Hoje existem 49 especialidades de engenharia autorizadas no MEC e essa concentração nas quatro áreas pode criar uma falsa expectativa de que iremos formar profissionais em quantidade suficiente para atender as necessidades de um país desenvolvido.
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), somente 28% dos profissionais formados em engenharia exercem efetivamente a função típica de engenheiro. Na Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho e Emprego de 2011, consta que a profissão de engenheiro é exercida no país por somente 232 mil profissionais.
A qualidade dos engenheiros formados, segundo dados do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes 2005 a 2008 (Enade), é questionável, pois 42,3% dos formandos nesse período obtiveram seus diplomas em instituições de baixo desempenho, 29,6% obtiveram desempenho mediano e somente 28,1% das instituições de ensino de engenharia obtiveram alto desempenho.
Precisamos proporcionar a união da teoria acadêmica avançada dos pesquisadores com a prática profissional dos engenheiros de campo, formando assim profissionais com base conceitual sólida associada à necessidade empresarial. É assim que se faz num dos países que mais exportam tecnologia: a Alemanha. Em 2013 é comemorado o Ano da Alemanha no Brasil e o país é uma referência a ser seguida por nós. A formação do engenheiro alemão tem contato muito íntimo com as empresas, num processo misto, isso é, escola-empresa. Diferentemente de outros países, o estudo lá é fundamentalmente voltado para a aplicação prática e industrial. A receita do sucesso da formação alemã de engenheiros é a combinação de uma base ampla de conhecimento matemático teórico com know-how prático.
Hoje, há no Brasil 6 engenheiros por cada mil trabalhadores; nos Estados Unidos e Japão esse número é de 25, e na Alemanha há 39 engenheiros por cada mil trabalhadores. Não há como comparar. O Brasil tem cerca de 668 mil engenheiros registrados nos conselhos regionais de Engenharia e Agronomia (Creas). Em 2010, o Brasil tinha 1,4 doutores para cada mil trabalhadores, já na Alemanha eram 15,4. Além de termos menos doutores que a Alemanha, no Brasil somente 7,1% desses doutores estão na indústria, enquanto na Alemanha são 26,7%. Em 2007, somente 5% dos formandos em cursos superiores no Brasil eram de engenharia, na Alemanha, 12,4%. Conclusão: temos que ser mais ousados.
Como despertar os jovens para os estudos de engenharia? Os estudantes de nível médio não se apaixonam por equações matemáticas, derivadas e integrais; mas são loucos por computadores, aviões, carros e smartphones. Como formar engenheiros, e principalmente bons engenheiros, se não conseguimos sequer ensinar matemática no nível médio? Devemos ter como objetivo nacional melhorar substancialmente o ensino da matemática nas escolas de nível fundamental e médio
É necessário subsidiar intensamente as atuais escolas de engenharia, a flexibilização dos currículos e, principalmente, a internacionalização de nossas escolas por meio de intercâmbio com as melhores escolas mundiais (aproveitar este momento de grande desemprego na Europa). O programa Ciência sem Fronteiras pode contribuir para a melhoria da qualidade na formação desses futuros engenheiros.
Engenheiros brasileiros, fiquem tranquilos! Pelo menos quanto à concorrência dos engenheiros alemães. O mercado alemão tem atualmente aproximadamente 1,5 milhão de engenheiros (o que é considerado baixo por eles) e havia 111 mil vagas disponíveis para engenheiros em abril de 2012 no país. Quanta precisão!
Em 2011, o número de matrículas na engenharia superou as de direito: foram 227 mil em engenharia e 198 mil em direito, mas ainda distante da quantidade de matrículas em administração: 508 mil. O crescimento é motivo para comemoração, porém, com algumas preocupações: qual o nível de qualidade das escolas, dos estudantes, e em quais modalidades da engenharia eles irão se formar? A distribuição de vagas das engenharias é preocupante, pois somente quatro modalidades respondem por mais de 65% das vagas: civil (24%), produção (18%), mecânica (11%), e elétrica (11%). Hoje existem 49 especialidades de engenharia autorizadas no MEC e essa concentração nas quatro áreas pode criar uma falsa expectativa de que iremos formar profissionais em quantidade suficiente para atender as necessidades de um país desenvolvido.
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), somente 28% dos profissionais formados em engenharia exercem efetivamente a função típica de engenheiro. Na Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho e Emprego de 2011, consta que a profissão de engenheiro é exercida no país por somente 232 mil profissionais.
A qualidade dos engenheiros formados, segundo dados do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes 2005 a 2008 (Enade), é questionável, pois 42,3% dos formandos nesse período obtiveram seus diplomas em instituições de baixo desempenho, 29,6% obtiveram desempenho mediano e somente 28,1% das instituições de ensino de engenharia obtiveram alto desempenho.
Precisamos proporcionar a união da teoria acadêmica avançada dos pesquisadores com a prática profissional dos engenheiros de campo, formando assim profissionais com base conceitual sólida associada à necessidade empresarial. É assim que se faz num dos países que mais exportam tecnologia: a Alemanha. Em 2013 é comemorado o Ano da Alemanha no Brasil e o país é uma referência a ser seguida por nós. A formação do engenheiro alemão tem contato muito íntimo com as empresas, num processo misto, isso é, escola-empresa. Diferentemente de outros países, o estudo lá é fundamentalmente voltado para a aplicação prática e industrial. A receita do sucesso da formação alemã de engenheiros é a combinação de uma base ampla de conhecimento matemático teórico com know-how prático.
Hoje, há no Brasil 6 engenheiros por cada mil trabalhadores; nos Estados Unidos e Japão esse número é de 25, e na Alemanha há 39 engenheiros por cada mil trabalhadores. Não há como comparar. O Brasil tem cerca de 668 mil engenheiros registrados nos conselhos regionais de Engenharia e Agronomia (Creas). Em 2010, o Brasil tinha 1,4 doutores para cada mil trabalhadores, já na Alemanha eram 15,4. Além de termos menos doutores que a Alemanha, no Brasil somente 7,1% desses doutores estão na indústria, enquanto na Alemanha são 26,7%. Em 2007, somente 5% dos formandos em cursos superiores no Brasil eram de engenharia, na Alemanha, 12,4%. Conclusão: temos que ser mais ousados.
Como despertar os jovens para os estudos de engenharia? Os estudantes de nível médio não se apaixonam por equações matemáticas, derivadas e integrais; mas são loucos por computadores, aviões, carros e smartphones. Como formar engenheiros, e principalmente bons engenheiros, se não conseguimos sequer ensinar matemática no nível médio? Devemos ter como objetivo nacional melhorar substancialmente o ensino da matemática nas escolas de nível fundamental e médio
É necessário subsidiar intensamente as atuais escolas de engenharia, a flexibilização dos currículos e, principalmente, a internacionalização de nossas escolas por meio de intercâmbio com as melhores escolas mundiais (aproveitar este momento de grande desemprego na Europa). O programa Ciência sem Fronteiras pode contribuir para a melhoria da qualidade na formação desses futuros engenheiros.
Engenheiros brasileiros, fiquem tranquilos! Pelo menos quanto à concorrência dos engenheiros alemães. O mercado alemão tem atualmente aproximadamente 1,5 milhão de engenheiros (o que é considerado baixo por eles) e havia 111 mil vagas disponíveis para engenheiros em abril de 2012 no país. Quanta precisão!
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