Festival Internacional de Quadrinhos começa amanhã, na Serraria Souza Pinto, com programação que vai permitir acompanhar a criação de histórias em tempo real
Carolina Braga
Estado de Minas: 12/11/2013
Seja profundo conhecedor dos quadrinhos ou iniciante no ramo. Não importa. Quem se propõe a “navegar” pelos mares do Festival Internacional dos Quadrinhos, que vai de amanhã a domingo, na Serraria Souza Pinto, é melhor estar aberto a explorar tudo que o evento propõe. E vá sabendo que, ainda assim, será difícil. Na oitava edição, o FIQ consolida o formato inaugurado na edição de 2011, porém com números mais robustos, variedade de linguagens e muitos convidados internacionais.
A quantidade de lançamentos oficiais, por exemplo, subiu de 50 para mais de 100. Sendo que o dado de 2013 ainda é uma estimativa. “Muita gente que estava publicando de maneira independente começou a ver no FIQ uma data para lançar as coisas. Virou uma data de referência”, diz Daniel Werneck, um dos curadores. Os formatos serão os mais variados possíveis – e os preços também. De fanzines feitos do dia para a noite a álbuns luxuosos, de capa dura e papel sofisticado.
“Pensar no leitor: isso é uma diferença de tudo que está sendo feito agora”, sintetiza Wellignton Srbek, editor da Nemo, selo especializado na publicação de quadrinhos. O número de lançamentos da empresa durante o FIQ saltou de 10 para 55 este ano. Entre eles estão As aventuras do Capitão Nemo: o navio fantasma! além das adaptações de duas peças de Shakespeare –A tempestade e Macbeth. “Na última década, o mercado de quadrinhos mudou muito no Brasil. Saímos de uma situação, nos anos 1990, em que praticamente não existiam editoras publicando quadrinhos e, a partir de 2006, temos um crescimento do mercado voltado para os brasileiros”, completa.
Uma das provas desse incremento é que os limites da Serraria Souza Pinto já não dão conta da dimensão que o FIQ conquistou. Organizado de modo independente pelo grupo Kamelô Gráfico, no Facebook, o FIQ Aqui será uma feira paralela à programação oficial. Um chamado pela rede social convida artistas a ocupar o Viaduto Santa Tereza com a exposição de seus trabalhos. Venda, troca, está tudo liberado.
EM AÇÃO Dentro da serraria, a proposta é fazer do FIQ um catalisador: dar oportunidade para que profissionais conheçam cada vez mais ferramentas para inovar em sua arte ao mesmo tempo em que buscam conquistar novas audiências. É por isso que cada vez mais demonstrações de processo ganham espaço na programação. “Sentia falta de ver os quadrinistas em ação”, comenta Daniel Werneck.
Revelar os bastidores da criação não deixa de ser também um modo de formar novos desenhistas. “Quadrinho não é um tipo de história, é um jeito de contar história”, ressalta o curador. Como explica, a evolução dessa linguagem no Brasil passou por várias fases. Os anos 1990 foram marcados pela descoberta dos quadrinhos pelos adultos, depois da fase dos heróis. Na década seguinte, o crescimento da produção japonesa de mangá marcou a reconquista do público feminino. Tudo isso fez com que o interesse – e a audiência – ampliasse.
“O mangá ajudou a diversificar o mercado. Está mais aberto. Quadrinho hoje é um tipo de entretenimento que tem para todo mundo”, opina Daniel Werneck. O volume de lançamentos na programação do FIQ confirma essa avaliação. Sendo uma linguagem que, em essência, mistura imagem e texto, tem sido usada para comunicar vários temas e de diversas formas.
FESTIVAL INTERNACIONAL DE QUADRINHOS
De amanhã a domingo, das 9h às 22h, na Serraria Souza Pinto. Av. Assis Chateaubriand, 809, Floresta, (31) 3213-3434. Entrada franca.
SAIBA MAIS
FIQ
Criado em 1999 e organizado pela Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, o FIQ substituiu a antiga Bienal dos Quadrinhos. Começou pequeno, na casa de shows Matrix, no Terminal Turístico JK, e hoje é considerado o maior evento de quadrinhos das Américas. A edição de 2011 superou o público da Comic-con, de San Diego: recebeu 148 mil visitantes, quase o dobro do público de 2009. Desde 2007, o FIQ é realizado na Serraria Souza Pinto. Este ano, o cartunista Laerte é o homenageado e baterá um papo com o público no domingo. Todas as atividades são gratuitas.
FIQ em números
85 convidados
18 artistas internacionais
32 mineiros
28 estandes
100 lançamentos
Os quadrinistas se encontram
Carolina Braga
Laerte é o homenageado do FIQ e é tema de mostra especial na Serraria Souza Pinto |
Este ano, a grade do FIQ se divide em pelo menos 10 atividades diferentes. Demonstrações de processos estarão no Estúdio ao vivo, com a apresentação de técnicas e também o OuBaPo, uma rodada de improviso. A ideia vem da França e funciona assim: cinco desenhistas ocupam a mesa e recebem uma página em branco dividida em seis quadros. Cada um começará uma história e, a cada oito minutos, os trabalhos trocam de mão. De vez em quando, novos desafios aparecem no percurso dos artistas.
Serão cinco exposições, entre elas uma dedicada à obra do homenageado, Laerte, outra com 100 interpretações de personagens clássicos por quadrinistas do mundo inteiro. O quadrinista e ilustrador mineiro Marcelo Lélis, do Estado de Minas, também terá 50 obras originais expostos.
“Existem várias ações para mostrar o quanto a linguagem é importante em termos de formação e de entretenimento. Tudo gira em torno disso”, observa João Marcos, de Governador Valadares, que participou de todas as edições do evento. “É um ponto de convergência, vem gente do Brasil inteiro”, destaca João Marcos. O intercâmbio proporcionado pelo festival é destacado por vários participantes. “O FIQ foi se modificando ao longo de suas edições para tentar atender essa variedade e ampliar o leque de público”, observa o quadrinista e professor Erick Azevedo.
No quesito troca de experiências, outro salto. Serão 18 convidados internacionais e, entre eles, figuras de peso como o norte-americano George Pérez e o italiano Ivo Millazo. Referência no gênero western, Ivo, criador do Ken Parker, participará de uma mesa sobre o tema. “É um dos três melhores da história dos quadrinhos”, ressalta Erick Azevedo. Outro nome que desperta atenção é o do africano Jérémie Nsingi. “É uma característica do FIQ trazer pessoas de certa forma desconhecidas do grande público. Tenho curiosidade em conhecer gente nova”, revela João Marcos, quadrinista e pesquisador.
PROGRAMAÇÃO
Amanhã
9h30 – Conversa em quadrinhos com a Chantal e mediação de Samanta Coan
18h – Debate sobre mercado atual com Jal, Mitie Taketani, Ricardo Tokumoto (Ryot) e Sidney Gusman e mediação de Afonso Andrade
20h – Por que quadrinhos?, com Erick Azevedo, Lucas Ed e Sônia Luyten e mediação de Paulo Ramos.
Quinta-feira
9h30 – Desenhe sua palestra, com João Marcos
11h – Qualquer um pode fazer quadrinhos!, com Luís Felipe Garrocho (Gomba) e Ricardo Tokumoto (Ryot) e mediação de Eduardo Damasceno
13h30 – Conversa em quadrinhos, com Peter Kuper e Jéremie e mediação de Felipe
14h – Conversa em quadrinhos, com Jérémie Nsingi e mediação de Sonia Luyten
14h30 – OuBaPo, com Becky Cloonan, Boulet, Daniel Werneck, Fabio Cobiaco, Magenta King e Paulo Crumbim
16h – Quatro cores que valem por 1 milhão, com Cris Peter e Rod Reis e mediação
de Giovanna
18h – Webfunding crowdcomics, com Fábio Coala, Luis Otávio Ribeiro, Rodrigo Maia e Paulo Crumbim, mediação de Ricardo
Tokumoto (Ryot)
20h – HQ & rock, com Lu Cafaggi, Marcatti, Pedro Cobiaco, Raphael Fernandes e mediação de Sérgio Luiz.
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