Selo Discobertas lança pacote com três discos de Moreira da Silva gravados nos anos 1950. Biografia escrita pelo pesquisador Alexandre Augusto resgata o criador do samba de breque
Ailton Magioli
Estado de Minas: 23/11/2013
O sambista Kid Morengueira na época em que lançou os discos que foram reunidos pelo selo Discobertas |
Treze anos depois de sua morte, o carioca Moreira da Silva (1902-2000), também conhecido como Kid Morengueira, tem a discografia original dos anos 1950 reeditada pelo selo Discobertas, que, em 2011, fez o mesmo com a obra posterior do cantor e compositor.
“Considero a segunda fase da carreira dele, já quarentão e à beira de se consagrar como o homem do samba de breque, muito boa. É interessante ouvir os discos de 78rpm na ordem em que foram lançados, periodicamente ao longo da primeira metade dos anos 1950”, avalia Marcelo Fróes, que, além do box de três CDs, que inclui o raríssimo álbum O tal, de 1956, nunca antes reeditado, aproveita para fazer o relançamento casado com a biografia O último malandro, de Alexandre Augusto, devidamente atualizada.
Originalmente lançada em 1994, quando o biografado ainda era vivo, Moreira da Silva – O último malandro foi revista pelo autor, que, atualmente, vive na Inglaterra, onde faz mestrado em comunicação e novas tecnologias digitais. “Para mim ele foi a encarnação da malandragem carioca”, diz Alexandre Augusto. Baiano de Feira de Santana, o jornalista começou a pesquisar a vida de Moreira da Silva em 1992, transferindo-se para o Rio dois anos depois.
“Morengueira foi o pai do samba de breque, influenciou muito mais gente do que se imagina”, admite Marcelo Fróes, cujo Discobertas fez parceria com a distribuidora Índigo para o lançamento conjunto do box Moreira da Silva anos 50 com a biografia. “Ele deixou uma obra vasta e longeva ao viver quase 100 anos e trilhar uma carreira de quase sete décadas”, constata o biógrafo Alexandre Augusto, lembrando que o artista carioca passou por todos os momentos da música brasileira do século 20. “Ele foi do circo aos grandes palcos”, ressalta.
Esta é a primeira fez que o selo carioca promove lançamento casado e a expectativa de Fróes é de boas vendas frente à proximidade das festas de fim de ano. O fato de o raríssimo O tal jamais ter sido reeditado intriga o também pesquisador carioca, ao salientar que nem sequer a família tinha um exemplar do álbum de 1956. “Consegui com um amigo e fizemos a restauração quando a família autorizou a reedição”, revela Fróes, que traz finalmente o material de Kid Morengueira daquele período para a era digital.
Para o proprietário do selo Discobertas, o grande legado de Moreira da Silva para a música brasileira é o humor, até então restrito às marchinhas de carnaval. “Com Kid Morengueira tudo era engraçado o ano inteiro”, atesta o pesquisador carioca. Do novo pacote do selo Discobertas fazem parte clássicos como Acertei no milhar, Falso gaiato, Amigo urso, Turma do funil e Na subida do morro. Na biografia que está sendo reeditada, o leitor vai encontrar a discografia completa de Moreira da Silva.
Três perguntas para
Alexandre Augusto
pesquisador e biógrafo
Por que o relançamento do livro agora?
Quando terminamos a biografia, o Moreira ainda estava vivo. Foi algo que me deixou muito feliz lançar o livro com a presença dele. Foi uma festa linda no MAM do Rio de Janeiro. O relançamento agora se deu por um convite que o Marcelo Fróes me fez no início do ano. Ele passou alguns anos tentando me localizar depois de lançar a excelente caixa com os principais discos do Moreira. Topei na hora, pois acho importante o resgate da obra e da vida do importante artista brasileiro.
O que esta nova edição traz de novidade?
Fiz um posfácio especialmente para esta edição. Conto os bastidores do livro e atualizo os últimos anos da vida de Moreira. Confesso que fiquei bastante emocionado ao me lembrar disso tudo e das minhas histórias com Kid Morengueira.
Como biógrafo, que imagem você guarda de Kid Morengueira?
Moreira, para mim, foi a encarnação da malandragem carioca, do Rio Cidade Maravilhosa. Um cantor, um gaiato, enfim. O último dos malandros.
MOREIRA DA SILVA – O ÚLTIMO DOS MALANDROS
• De Alexandre Augusto
• Editora Sonora
• 304
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