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Bactéria causa mortes
Minas e Paraná investigam surto de infecção por bactéria em pacientes que usam gliconato de cálcio. Anvisa vetou lote
Patricia Giudice
Estado de Minas: 23/11/2013
Starling diz que provavelmente empresas compraram produto infectado |
As secretarias de Saúde de Minas Gerais e do Paraná investigam um surto de infecção por bactéria em pacientes que usam nutrição parenteral. Oito pessoas morreram contaminadas, todas medicadas com o gliconato de cálcio 10%, de aplicação intravenosa que, associada a outras substâncias, substitui a alimentação de um adulto com sistema digestivo comprometido ou bebês prematuros. Em BH, ocorreram duas mortes. Ao todo, 24 pessoas foram infectadas no estado (14 em BH, 1 em Betim, 7 em Uberlândia, 2 em Araguari) e aguardam resultados dos exames feitos pela Fundação Ezequiel Dias (Funed). A análise apontará a bactéria presente na substância.
Ontem, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspendeu o lote 33336501 do produto, fabricado pela Isofarma, com sede no Ceará. A comercialização está suspensa em todo o país e três laboratórios foram interditados: Nutro Soluções Nutritivas (PR), Fampa-Nutrição Parenteral e Grupo Aporte - Produtos Nutricionais, ambos de Minas Gerais. A Citopharma Manipulação de Medicamentos Especiais, que fornece insumos para as indústrias, também passará por inspeção. Em Minas, os hospitais foram alertados.
No Paraná, a secretaria informou que 80 pacientes receberam a nutrição parenteral da Isofarma. Vinte tiveram quadro agravado e seis morreram. A nutrição, segundo a secretaria paranaense, foi distribuída para 13 hospitais do estado e serviços de saúde de São Paulo e Santa Catarina. Se confirmada a contaminação, a empresa responsável poderá sofrer sanções administrativas e criminais.
Segundo o infectologista e epidemiologista Carlos Starling, outros casos semelhantes já foram descritos na medicina e a bactéria teve origem nos insumos. “São bactérias de vida livre que acabam contaminando durante a produção dos nutrientes. Provavelmente, as empresas daqui adquiriram um produto já infectado”, explicou.
PRESCRIÇÃO O assessor da Comissão de Farmácia Hospitalar do Conselho Regional de Farmácia, Vander Campos, explicou que o gliconato de cálcio é apenas um dos componentes da alimentação do paciente. A solução é feita para cada pessoa e prescrita diariamente. Conforme a receita, são manipulados cálcio, sódio, potássio, magnésio, zinco, outras vitaminas que o paciente precisar, carboidratos, proteínas, gorduras, entre outras. “É uma alimentação prescrita para um público que já está mais sensível e muito comum para neonatos”, afirmou.
Vander é diretor técnico do Grupo Aporte e informou que as três empresas fechadas preventivamente cruzaram as informações e chegaram à conclusão de que a falha pode estar no lote interditado pela Anvisa. “Estamos fazendo um processo de investigação no laboratório e acreditamos que ainda pode ser outra substância contaminada”, explicou.
A Isofarma informou diversos insumos são usados na solução. “Até que a análise dos componentes e do ambiente seja finalizada, não há como afirmar que o causador da contaminação foi o lote descrito”, afirmou o gerente de Garantia da Qualidade, João Paulo Costa.
Gliconato de cálcio
Indicação e aplicação do medicamento
» Indicado a pacientes que não têm mais como digerir o alimento e precisa de nutrição venosa
» É injetado com outras soluções que vão levar ao paciente, além do cálcio, proteínas, gorduras, carboidratos, vitaminas
» As substâncias caem diretamente na corrente sanguínea
» Produto é muito usado em bebês prematuros ou que nasceram com alguma patologia e não conseguem se alimentar
» Paciente normalmente ingere uma bolsa por dia, que é manipulada para juntar todas as substâncias necessárias
» Medicamento é perecível e, após manipulado, deve ser ingerir em no máximo 48 horas
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