ARNALDO VIANA »
A moça e o maxixe
Estado de Minas: 14/12/2013
Restaurante, serviço self-service. Meio-dia, meio-dia e pouco. Ou um tanto para as 13h. A moça, bem vestida. Calças pretas, blusa branca estampada de flores amarelas. Cabelos alourados, presos. Um metro e sessenta e alguma coisa. Sapatos de salto de altura moderada. Pega o prato, encaminha-se às gôndolas de alimentos. Olha paras as bandejas com jeito de curiosa. Parece mesmo cuidadosa. Para diante do arroz integral. Examina-o. Decide se servir de meia colher. Ainda com o talher na mão direita, pensa um pouco, um pouco mais, antes de pegar outra meia colher. E segue contornando as gôndolas.
Para diante do feijão roxinho. De novo, o exame. Decide fazer o casamento culinário preferido do brasileiro: arroz com feijão. É tão cuidadosa ao se servir que parece contar os grãos. Evita o caldo. Devagarinho, dirige-se às saladas. Pega duas folhas de alface. Não sem antes levantar uma a uma, com o pegador, até a altura do peito, e examinar. Não viu a temível lagarta. Na bandeja adiante, algo vermelho, em cubos. Com o pegador, levanta um dos cubos. Não tanto quanto a alface. Vira de um lado, do outro. É moranga. Devolve-a.
Caminha lateralmente à gôndola, prato na mão esquerda, olhando as bandejas assim meio de esguelha. E vê algo meio verde, um tanto cascudo. Nem pega. Aproveita a chegada da funcionária que faz a reposição dos alimentos, e pergunta:
– O que é isso?
– É maxixe!
– Maxixe de quê?
– Como assim, maxixe de quê?
– Uai, como assim? Se fosse costela, poderia perguntar se seria de boi ou de porco, não? Moela não é de frango?
– Bem, maxixe é um vegetal!
– É mesmo? É gostoso?
– Há quem goste.
– E de onde vem o tal maxixe?
– Do mato. É nativo, meio selvagem. Dá muito no Norte de Minas, Vale do Jequitinhonha.
– No mato?
– É assim. O boi o come, mas o organismo bovino não digere a semente. Assim, o boi, quando faz o chamado número dois, deixa a semente no chão, já adubada. Em pouco tempo nasce a rama.
– No esterco do boi? Eca!
– No esterco. A alface no seu prato também cresce adubada com esterco. Esterco de boi, de galinha, de porco…
– E esse negócio de rama?
– É no chão.
– No chão?
– Quando o maxixe é colhido, vem sujo de terra, assim como a alface.
A moça, com cara de espanto, entrega o prato à funcionária do restaurante e diz:
– Sempre gostei mesmo da comida que minha mãe sempre faz: arroz, feijão, bife e batata frita. Obrigada, querida. Vou comer um hambúrguer.
– E você sabe de que é feito o hambúrguer?
– Não. Mas sei de uma coisa: não leva maxixe nem alface.
Estado de Minas: 14/12/2013
Restaurante, serviço self-service. Meio-dia, meio-dia e pouco. Ou um tanto para as 13h. A moça, bem vestida. Calças pretas, blusa branca estampada de flores amarelas. Cabelos alourados, presos. Um metro e sessenta e alguma coisa. Sapatos de salto de altura moderada. Pega o prato, encaminha-se às gôndolas de alimentos. Olha paras as bandejas com jeito de curiosa. Parece mesmo cuidadosa. Para diante do arroz integral. Examina-o. Decide se servir de meia colher. Ainda com o talher na mão direita, pensa um pouco, um pouco mais, antes de pegar outra meia colher. E segue contornando as gôndolas.
Para diante do feijão roxinho. De novo, o exame. Decide fazer o casamento culinário preferido do brasileiro: arroz com feijão. É tão cuidadosa ao se servir que parece contar os grãos. Evita o caldo. Devagarinho, dirige-se às saladas. Pega duas folhas de alface. Não sem antes levantar uma a uma, com o pegador, até a altura do peito, e examinar. Não viu a temível lagarta. Na bandeja adiante, algo vermelho, em cubos. Com o pegador, levanta um dos cubos. Não tanto quanto a alface. Vira de um lado, do outro. É moranga. Devolve-a.
Caminha lateralmente à gôndola, prato na mão esquerda, olhando as bandejas assim meio de esguelha. E vê algo meio verde, um tanto cascudo. Nem pega. Aproveita a chegada da funcionária que faz a reposição dos alimentos, e pergunta:
– O que é isso?
– É maxixe!
– Maxixe de quê?
– Como assim, maxixe de quê?
– Uai, como assim? Se fosse costela, poderia perguntar se seria de boi ou de porco, não? Moela não é de frango?
– Bem, maxixe é um vegetal!
– É mesmo? É gostoso?
– Há quem goste.
– E de onde vem o tal maxixe?
– Do mato. É nativo, meio selvagem. Dá muito no Norte de Minas, Vale do Jequitinhonha.
– No mato?
– É assim. O boi o come, mas o organismo bovino não digere a semente. Assim, o boi, quando faz o chamado número dois, deixa a semente no chão, já adubada. Em pouco tempo nasce a rama.
– No esterco do boi? Eca!
– No esterco. A alface no seu prato também cresce adubada com esterco. Esterco de boi, de galinha, de porco…
– E esse negócio de rama?
– É no chão.
– No chão?
– Quando o maxixe é colhido, vem sujo de terra, assim como a alface.
A moça, com cara de espanto, entrega o prato à funcionária do restaurante e diz:
– Sempre gostei mesmo da comida que minha mãe sempre faz: arroz, feijão, bife e batata frita. Obrigada, querida. Vou comer um hambúrguer.
– E você sabe de que é feito o hambúrguer?
– Não. Mas sei de uma coisa: não leva maxixe nem alface.
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