sábado, 7 de dezembro de 2013

Eduardo Almeida Reis - Helicópteros‏

Helicópteros
 
Milionários são danados para inflacionar o mercado de trabalho rural


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 07/12/2013

Na definição do terreireiro de nossa fazenda fluminense, helicóptero era “aquele trem que avoa para cima”. Houaiss grafa terreirista, mas é a tal história: o gourmet Antônio Houaiss entendia muito de diplomacia, filologia e lexicografia, sem que fosse versado em sítios e fazendas. Quando as fazendas vizinhas foram tomadas de assalto pelos ricos do Rio, era um tal de trem avoando para cima, que o leitor nem pode imaginar. Aproveitei a embalagem para vender a fazenda e cair fora. Milionários são danados para inflacionar o mercado de trabalho rural. Na manhã de terça-feira, 12 de novembro, me lembrei da revoada na roça fluminense. Diversos e-mails e telefonemas de amigos repercutindo a matéria do Correio Braziliense sobre o avoar para cima da senhora Ideli Salvatti Garcia, ministra de Relações Institucionais. Denúncia que partiu da Comissão de Ética da Presidência da República, pois o helicóptero em que avoou a ministra pertence à Polícia Rodoviária Federal (PRF), normalmente usado para atendimento médico e resgate de vítimas.

Releva notar que o senador Lobão Filho, não faz muito tempo, retirou a palavra “ética” do novo código de conduta do Senado, argumentando: “O que é ética para você pode não ser para mim”. Portanto, o conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade, varia, di-lo o honrado filho do ministro Lobão. Donde se conclui que a ética não foi inventada para prejudicar ninguém. Gravíssimo, no meu entendimento de philosopho voltado apenas para as altas cousas do espírito, é o fato de uma atraente jovem senhora ocupar o cargo de ministra das Relações Institucionais. Por quê? Ora, porque o ministério implica relacionamento constante com dois plenários, majoritariamente masculinos, compostos de parlamentares conhecidos por sua exacerbada libido. Penso, e o leitor concordará comigo, que a função deve ser exercida por ministro homem para que não se diga que os senhores deputados e senadores se deixaram levar pelo exuberante encanto da ministra.


Sapatos

É injusto, imperdoável e inadmissível que um leitor de Tiro e Queda não tenha pelo menos um par de sapatos de pele de tubarão. Pele de camelo também dá sapato supimpa. Em último caso, sapato de couro bovino pode ser usado, desde que feito sob medida pela sapataria Roberto Ugolini, que tem oficina e pequena loja na Via Marchelozzi 17R, (39-055) 216-246. Trata-se da quarta geração de sapateiros Ugolini. Quando trabalhei para um italiano de Milão, o excelente patrão dizia calçar sapatos de US$ 1 mil o par. No dólar de hoje são modestos R$ 2.350 – e há tênis que custam mais que R$ 1 mil. Com o dólar corrigido, o par do patrão custaria mais que R$ 6 mil. Com efeito, depois de um temporal perto de Paracatu, que nos deixou com água pelos joelhos durante uma hora, os sapatos do milanês resistiram bravamente. Manhã seguinte, engraxados, pareciam novos em folha, talqualmente minha saudosa bota de para-quedista norte-americano, comprada nos Estados Unidos há muitos anos. Bota especial para amortecer os choques dos para-quedas redondos, que correspondiam ao salto (sem para-quedas) de um segundo andar. Para-quedas modernos pousam suavemente.

Para encomendar sapatos Roberto Ugolini sob medida basta que o leitor, visitando Florença, vá ao Bairro Santo Spirito, situado na área Oltrarno, ao sul do Rio Arno – ruas tranquilas e livres das hordas de turistas, como informa Shivani Vora, do New York Times. Na dependência do couro escolhido, cada par custa de 1,3 mil a 3 mil euros. Com o euro a R$ 3, cada par dos sapatos mais caros custa cerca de R$ 9 mil, uma pechincha. Só tem um perigo: a sapataria Ugolini acertar na primeira remessa e perder a fôrma nas outras. Aconteceu comigo em Três Rios (RJ), na década de 1970, quando encomendei um par de “sapatos de padre” ao velho sapateiro. De pelica, sem cadarços, algo parecido com um mocassim macio. O velhinho mediu-me as patas, fez as fôrmas e o primeiro par ficou uma beleza! A partir daí, todos os fazendeiros na região começaram a fazer sapatos e botinas no velhinho, que nunca mais acertou com os meus pés.


O mundo é uma bola

7 de dezembro de 1858: franceses e espanhóis bloqueiam a Cochinchina. Durante décadas falávamos da Cochinchina como sinônimo de fim do mundo. Para lá da Cochinchina significava depois do fim do mundo. Cochinchina foi o nome dado à Região Sul do atual Vietnã, na Indochina. De 1862 a 1948 foi uma colônia francesa, capital Saigon. Entre 1955 e 1975 foi o Vietnã do Sul. Com a queda de Saigon, passou a integrar o Vietnã, que hoje exporta cabeçadas de couro para vender em Nanuque, no Vale do Mucuri. O nome Cochinchina foi dado pelos portugueses quando lá chegaram por volta de 1516: Cochim (Kuchi) era o nome usado em malaio para toda a região, termo derivado do chinês jiao zhi, pronúncia local giao chi. Daí o português Cochim-China para distinguir do Cochim da Índia. Em 1976, o Brasil cria a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que já foi presidida por brasileiro supimpa, Luís Leonardo Cantidiano. Hoje é o Dia do Oficial de Justiça.


Ruminanças

“A justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta” (Rui Barbosa, 1849-1923).

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