sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Passaporte espacial

Passaporte espacial
 
Viagens curtas para admirar o planeta lá do alto, hotéis e até boates. Em alguns anos, aventureiros -e muito ricos - poderão desfrutar do turismo em baixa gravidade 



Vilhena Soares
Estado de Minas: 27/12/2013 


“Tendo a Lua aquela gravidade onde o homem flutua, merecia a visita não de militares, mas de bailarinos e de você e eu.” O desejo expresso por Herbert Vianna, líder dos Paralamas do Sucesso, na música Tendo a Lua, pode em breve se tornar realidade. Diferentes empresas já planejam oferecer visitas ao espaço a pessoas comuns, e não só para voos curtos. Existem projetos de hotéis e até de casas noturnas que funcionarão fora da Terra, o que permitirá, dentro de alguns anos, que famílias planejem passar férias de verão na gravidade quase zero.

Algumas dessas ideias devem sair do papel mais cedo do que outras. É o caso dos voos suborbitais, carro-chefe da empresa norte-americana Virgin Galactic, uma das pioneiras do turismo espacial. “As pessoas já começaram a fazer reservas para comprar bilhetes para os voos, dando provas de que há um mercado disponível”, informa a companhia ao Estado de Minas, por meio de sua assessoria de imprensa. Segundo a iniciativa, mais de 85 mil pessoas de todo o mundo manifestaram interesse em “se tornar um astronauta da Virgin Galactic”.

No passeio, a aeronave Space Ship Two levará os passageiros a uma experiência de ausência de gravidade, assim como será possível ter uma visão do planeta lá do alto. Os bilhetes custam US$ 250 mil e são restritos a maiores de 18 anos. “O regulamento atual da Federação de Aviação dos Estados Unidos (FAA) estipula essa idade mínima para os participantes de voos espaciais comerciais. Não há limite  máximo de idade, mas a Virgin Galactic vai garantir que todos os passageiros estejam suficientemente aptos e saudáveis para voar com segurança”, destaca a empresa.

O primeiro lançamento está previsto para o próximo ano. Muitos famosos, que incluem o físico britânico Stephen Hawking e celebridades de Hollywood, como Tom Hanks, Brad Pitt e Angelina Jolie, estão entre os que aguardam a chance de viajar. A Virgin avisa que esse é apenas o primeiro projeto do setor espacial que ela oferecerá, e que “muitas outras excitantes oportunidades relacionadas ao espaço” podem ser esperadas, sem entrar em detalhes.

É possível que a empresa esteja se referindo a ideias como o clube que a revista Playboy quer construir, que incluirá restaurante, discoteca, cassino, uma zona com salas particulares para assistir a danças eróticas e, claro, uma janela com vista panorâmica para a Terra. A informação foi divulgada na edição de março de 2012 da publicação nos Estados Unidos, na qual a Virgin era mencionada como uma possível parceira.

Hospedagem A companhia americana, contudo, não está sozinha na busca por lucrar com a vontade das pessoas de terem seus dias de astronautas. O projeto Galactic Suite tem o objetivo de oferecer um verdadeiro hotel que circulará ao redor da Terra, proporcionando aos hóspedes, além de acomodações luxuosas, uma vista deslumbrante do Planeta Azul.

Os responsáveis pela iniciativa, investidores espanhóis, estimam que podem alcançar uma clientela em torno de 40 mil pessoas ao redor do mundo, com vontade e dinheiro suficientes para se hospedar no hotel espacial. O treinamento para a viagem durará oito semanas e será realizado em uma ilha do Caribe. Uma vez no resort, os turistas usarão roupas de velcro a fim de se prender nas paredes e poder se locomover com mais facilidade na baixa gravidade.

Outra empresa com uma ideia semelhante é a russa Orbital Technologies, que tem planos de inaugurar, em 2016, a primeira estação espacial comercial, que servirá também como um hotel. Com sete cômodos individuais, essa pensão flutuante vai ficar a 350km de altitude. Animado para essa experiência? É bom ter dinheiro sobrando. A estada de cinco dias deve custar cerca de US$ 160 mil, sem contar o preço da passagem de ida e volta, no valor de US$ 800 mil. Para chegar ao hotel, os turistas deverão viajar durante dois dias em uma sonda russa Soyuz.

Comida impressa A expectativa de que a presença humana no espaço se intensifique nas próximas décadas faz com que novas tecnologias sejam pensadas para facilitar a vida de quem vai se aventurar longe do planeta. Exemplo disso é a intenção da agência espacial dos Estados Unidos de testar uma impressora 3D no espaço para produzir... comida. “A Nasa fez parceria com uma empresa chamada Made in Space para testar um dispositivo de fabricação aditiva na Estação Espacial Internacional no próximo ano. O teste é para determinar como as impressoras 3D se comportam em microgravidade e se elas podem um dia ser úteis para a fabricação no espaço”, declara Joshua Buck, do Departamento de Comunicação da Nasa.

Um dos objetivos de equipamentos desse tipo seria imprimir camadas de produtos comestíveis, que dariam origens a verdadeiros pratos, facilitando o processo de transporte e armazenagem da comida. É possível ainda que essas impressoras gerem módulos para a construção de casas espaciais. Buck, no entanto, avisa que esse projeto é pensado a longo prazo. “O conceito é muito inicial e pode se mostrar pouco prático”, admite. “Vamos ver se vale a pena prosseguir.”


Passeios flutuantes
Saiba mais sobre alguns dos projetos em desenvolvimento para turismo no espaço

Virgin Galactic
A primeira empreitada da empresa são voos suborbitais — a nave que levará os passageiros não chega a entrar em órbita, mas fica a uma altitude que permite ver a Terra lá do alto e flutuar na gravidade zero. Os passageiros, que pagarão US$ 250 mil por um assento, serão transportados na Space Ship Two, lançada por um avião e que atinge quase 4 mil quilômetros por hora (quase três vezes a velocidade do som). Todo o passeio dura duas horas e meia, sendo que a parte na gravidade zero dura “muitos minutos”. A empresa deseja também ter seu hotel espacial.
Mais informações: virgingalactic.com

Orbital Technologies
O empreendimento russo também desenvolve um hotel espacial, que poderá hospedar até sete hóspedes em quatro cabines. A viagem e a estada de cinco dias custarão US$ 960 mil. Com inauguração prevista para 2016, o local terá chuveiros selados, para que a água não saia flutuando, e vasos sanitários que usarão o ar para se livrar dos dejetos. O ar será constantemente filtrado para eliminar bactérias e odores desagradáveis. A comida será preparada na Terra e esquentada no espaço, com a ajuda de fornos de micro-ondas. O consumo de álcool não será permitido, e os turistas terão acompanhamento constante de uma equipe técnica especializada. Mais informações: orbitaltechnologies.ru

Galactic Suite
O projeto espanhol  quer construir um hotel que circundará a Terra em órbita baixa, para hospedagens de quatro a seis dias. Os módulos darão uma volta completa no planeta a cada 90 minutos, oferendo aos hóspedes 16 amanheceres e 16 pôres do sol por dia. Inicialmente, haverá um só módulo para poucos hóspedes, que irão até o hotel em naves russas Soyuz. Com o tempo, entretanto, a empresa quer ampliar o número de cômodos e usar naves com mais passageiros. A iniciativa desenvolve também projetos de visita à Lua. Mais informações: galacticsuite.com

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