Flávia Franco
Estado de Minas: 06/12/2013
As lesões fazem
parte do cotidiano tanto de atletas amadores e profissionais quanto de
sedentários. Em alguns casos, a solução do problema envolve tratamentos
longos, como no rompimento ou na lesão de tendões. Uma equipe de
cientistas italianos propõe o uso do plasma rico em plaquetas (PRP) para
reduzir o tempo de recuperação e ainda melhorar a funcionalidade do
tecido lesionado. Mesmo com as vantagens apontadas, a terapia gera
polêmica entre especialistas.
Prática comum no esporte de alto rendimento – o golfista Tiger Woods, o tenista Rafael Nadal e o astro do basquete Kobe Bryant são exemplos de esportistas que fazem uso do tratamento –, o PRP usa o sangue do próprio paciente para acelerar a recuperação. Em uma centrífuga, é separado o plasma rico em plaquetas dos demais componentes do sangue coletado. No caso da terapia, proposta pelos cientistas da Universidade de L’Anquila, o PRP é injetado no tendão comprometido e as plaquetas começam a estimular o crescimento de células e a cicatrização.
De acordo com o ortopedista Weldson Muniz, o tendão – que une músculo e ossos – fica lesionado quando as fibras de colágeno que fazem parte da sua composição têm um potencial elástico menor que o do tecido muscular. “O tecido dos tendões é um pouco mais rígido. Então, pode romper por algum evento traumático ou por excesso de impulsão”, afirma o médico, do Hospital Santa Luzia, em Brasília.
Os tratamentos para rupturas normalmente são cirúrgicos, mas, em caso de lesões mais leves, segue-se o método mais conservador de imobilização e repouso por cerca de seis semanas. Foi justamente em busca de um tratamento menos demorado para atletas que Alice La Marra começou o estudo com PRP na Itália. “Estamos trabalhando em uma cidade onde muitas pessoas praticam esportes. Os médicos da equipe nos enviam atletas com dor e incapacidade funcional”, conta.
A especialista realizou procedimentos em 80 atletas com tendinose (o tipo mais grave de lesão), sendo que 50 tinham o problema no tendão de aquiles e 30 no ligamento patelar. A pesquisadora afirma que as áreas selecionadas são aquelas onde há comprometimentos com maior gravidade. Segundo Arnaldo Hernandez, especialista em medicina esportiva do Hospital Sírio-Libanês, isso ocorre porque esses tendões são os mais usados no corpo. “Em qualquer movimento que se faça com os membros inferiores, utiliza-se muito os dois.”
Os voluntários foram submetidos a três sessões de PRP em um intervalo de 21 dias. Ressonâncias magnéticas – realizadas 30 dias e um ano após o último procedimento – indicaram as vantagens. Os pacientes com problemas no tendão calcâneo apresentaram uma melhora de 80% em relação à dor e de 53% em relação à funcionalidade. Já os com lesões no ligamento patelar apresentaram melhoras de 75% e 50% em relação à dor e à funcionalidade, respectivamente. A pesquisadora constatou também que houve uma recuperação de 90% da integridade dos tecidos lesionados. “O PRP permite a regeneração dos tendões e a redução da dor graças a sua regenerativa e às propriedades anti-inflamatórias. Comparado a outras terapias, ele permite uma recuperação mais rápida e mais eficiente”, garante Alice La Marra.
Controverso Segundo Arnaldo Hernandez, o tratamento é polêmico pela falta de um controle exato de como ele funciona. Levando em consideração as recentes descobertas da pesquisadora italiana, o médico acredita que o PRP não faz nada que os tratamentos tradicionais não façam.
O caso do ex-jogador Ronaldo, o Fenômeno, que sofreu uma ruptura do ligamento patelar, foi citado por Hernandez como exemplo de que os tratamentos convencionais podem ter bons resultados. Segundo o especialista, quem tem uma lesão desse tipo dificilmente consegue recuperar o nível de desempenho. “O Ronaldo conseguiu, e isso é tanto mérito dele, que se empenhou na recuperação, quanto de quem tratou o problema e criou condições para que esse tendão pudesse se recuperar.”
De acordo com o Hernandez, nas intervenções tradicionais é preciso diminuir o ritmo de atividades físicas para ter uma recuperação boa do tendão. Como não querem fazer isso, atletas acabam optando pelo PRP. “Eles arriscam para evitar uma lesão maior. Aparentemente, o tratamento não traz prejuízos. Então, o atleta não sai prejudicado”, diz.
Hernandez alerta que, no PRP as plaquetas estimulam o crescimento de tecidos – entre eles o colágeno, que forma os tendões –, além de nervos, pele e vasos sanguíneos, uma das razões do receio de profissionais de saúde.
“Não há como separar o fator de crescimento específico do colágeno para realizar o tratamento adequado com PRP”, afirma. Segundo o médico, não há impedimentos legais para a prática no Brasil.
Saiba mais
Não é doping
Outro tratamento polêmico que envolve a retirada de sangue do paciente é a eritropoietina (EPO), um hormônio produzido pelas glândulas suprarrenais. A injeção de uma versão sintética desse hormônio faz com que a medula óssea libere mais glóbulos vermelhos na corrente sanguínea, aumentando a quantidade de oxigênio no sangue e, consequentemente, a capacidade de energia para exercícios aeróbicos. Essa foi uma das técnicas usada pelo ciclista Lance Armstrong, banido do esporte no ano passado. O ex-atleta recorria também a transfusão de sangue para melhorar o desempenho nas competições. Cerca de 500ml de sangue eram retirados dele e armazenados em bolsas refrigeradas para serem reintroduzidos na véspera das competições, aumentando também a oxigenação. As duas práticas são consideradas ilegais, sendo classificadas como doping. Já o PRP, por não causar aumento de desempenho, não entra nessa categoria.
Prática comum no esporte de alto rendimento – o golfista Tiger Woods, o tenista Rafael Nadal e o astro do basquete Kobe Bryant são exemplos de esportistas que fazem uso do tratamento –, o PRP usa o sangue do próprio paciente para acelerar a recuperação. Em uma centrífuga, é separado o plasma rico em plaquetas dos demais componentes do sangue coletado. No caso da terapia, proposta pelos cientistas da Universidade de L’Anquila, o PRP é injetado no tendão comprometido e as plaquetas começam a estimular o crescimento de células e a cicatrização.
De acordo com o ortopedista Weldson Muniz, o tendão – que une músculo e ossos – fica lesionado quando as fibras de colágeno que fazem parte da sua composição têm um potencial elástico menor que o do tecido muscular. “O tecido dos tendões é um pouco mais rígido. Então, pode romper por algum evento traumático ou por excesso de impulsão”, afirma o médico, do Hospital Santa Luzia, em Brasília.
Os tratamentos para rupturas normalmente são cirúrgicos, mas, em caso de lesões mais leves, segue-se o método mais conservador de imobilização e repouso por cerca de seis semanas. Foi justamente em busca de um tratamento menos demorado para atletas que Alice La Marra começou o estudo com PRP na Itália. “Estamos trabalhando em uma cidade onde muitas pessoas praticam esportes. Os médicos da equipe nos enviam atletas com dor e incapacidade funcional”, conta.
A especialista realizou procedimentos em 80 atletas com tendinose (o tipo mais grave de lesão), sendo que 50 tinham o problema no tendão de aquiles e 30 no ligamento patelar. A pesquisadora afirma que as áreas selecionadas são aquelas onde há comprometimentos com maior gravidade. Segundo Arnaldo Hernandez, especialista em medicina esportiva do Hospital Sírio-Libanês, isso ocorre porque esses tendões são os mais usados no corpo. “Em qualquer movimento que se faça com os membros inferiores, utiliza-se muito os dois.”
Os voluntários foram submetidos a três sessões de PRP em um intervalo de 21 dias. Ressonâncias magnéticas – realizadas 30 dias e um ano após o último procedimento – indicaram as vantagens. Os pacientes com problemas no tendão calcâneo apresentaram uma melhora de 80% em relação à dor e de 53% em relação à funcionalidade. Já os com lesões no ligamento patelar apresentaram melhoras de 75% e 50% em relação à dor e à funcionalidade, respectivamente. A pesquisadora constatou também que houve uma recuperação de 90% da integridade dos tecidos lesionados. “O PRP permite a regeneração dos tendões e a redução da dor graças a sua regenerativa e às propriedades anti-inflamatórias. Comparado a outras terapias, ele permite uma recuperação mais rápida e mais eficiente”, garante Alice La Marra.
Controverso Segundo Arnaldo Hernandez, o tratamento é polêmico pela falta de um controle exato de como ele funciona. Levando em consideração as recentes descobertas da pesquisadora italiana, o médico acredita que o PRP não faz nada que os tratamentos tradicionais não façam.
O caso do ex-jogador Ronaldo, o Fenômeno, que sofreu uma ruptura do ligamento patelar, foi citado por Hernandez como exemplo de que os tratamentos convencionais podem ter bons resultados. Segundo o especialista, quem tem uma lesão desse tipo dificilmente consegue recuperar o nível de desempenho. “O Ronaldo conseguiu, e isso é tanto mérito dele, que se empenhou na recuperação, quanto de quem tratou o problema e criou condições para que esse tendão pudesse se recuperar.”
De acordo com o Hernandez, nas intervenções tradicionais é preciso diminuir o ritmo de atividades físicas para ter uma recuperação boa do tendão. Como não querem fazer isso, atletas acabam optando pelo PRP. “Eles arriscam para evitar uma lesão maior. Aparentemente, o tratamento não traz prejuízos. Então, o atleta não sai prejudicado”, diz.
Hernandez alerta que, no PRP as plaquetas estimulam o crescimento de tecidos – entre eles o colágeno, que forma os tendões –, além de nervos, pele e vasos sanguíneos, uma das razões do receio de profissionais de saúde.
“Não há como separar o fator de crescimento específico do colágeno para realizar o tratamento adequado com PRP”, afirma. Segundo o médico, não há impedimentos legais para a prática no Brasil.
Saiba mais
Não é doping
Outro tratamento polêmico que envolve a retirada de sangue do paciente é a eritropoietina (EPO), um hormônio produzido pelas glândulas suprarrenais. A injeção de uma versão sintética desse hormônio faz com que a medula óssea libere mais glóbulos vermelhos na corrente sanguínea, aumentando a quantidade de oxigênio no sangue e, consequentemente, a capacidade de energia para exercícios aeróbicos. Essa foi uma das técnicas usada pelo ciclista Lance Armstrong, banido do esporte no ano passado. O ex-atleta recorria também a transfusão de sangue para melhorar o desempenho nas competições. Cerca de 500ml de sangue eram retirados dele e armazenados em bolsas refrigeradas para serem reintroduzidos na véspera das competições, aumentando também a oxigenação. As duas práticas são consideradas ilegais, sendo classificadas como doping. Já o PRP, por não causar aumento de desempenho, não entra nessa categoria.
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