sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Editorial O Globo » É positivo o saldo do julgamento do mensalão

O GLOBO - 28/02/2014

Mais importante processo julgado pelo Supremo tribunal Federal na história contemporânea do país, o mensalão encerrou ontem uma de suas etapas decisivas, com a absolvição, por maioria de votos, de réus anteriormente condenados por formação de quadrilha. Com sua composição alterada em relação à primeira fase do julgamento, devido à aposentadoria de ministros e à posse de novos - Teori Zavaski e Luís Roberto Barroso -, os embargos infringentes impetrados pela defesa dos réus foram aceitos por seis votos a cinco e, assim, os mensaleiros petistas José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares tiveram garantido o regime de prisão semiaberta, no cumprimento da pena pela condenação por corrupção ativa.
Os embargos restantes, sobre condenações por lavagem de dinheiro, em que se inclui o outro mensaleiro do PT, João Paulo Cunha, serão examinados depois do recesso do carnaval, em 13 de março, quando se poderá considerar finalizada a Ação Penal 470, o nome técnico do processo do mensalão.

Polêmicas e suspeições acompanham este julgamento desde o início da fase de plenário, no princípio de agosto de 2012. A rusga, anteontem, entre o presidente da Corte, Joaquim Barbosa, e o ministro Luís Roberto Barroso, em que o relator do processo denunciou Barroso por dar um voto político para afastar os petistas da condenação como quadrilheiros, livrando-os de vez do risco do regime fechado de prisão, reflete o clima que envolve o processo. Em resposta, Barroso pontificou: O Supremo é um espaço de razão pública, e não das paixões inflamadas. É certo.

Especulações, teorias conspiratórias em torno do julgamento entrarão para a história junto com o próprio veredicto. E no centro delas estará sempre a forma como foi renovado o Pleno na aposentadoria de Cezar Peluso e Ayres Britto.

O indiscutível é a sólida, e também histórica, demonstração de independência dada pela Corte, formada em sua maioria por indicações de governos petistas e na qual foram condenados líderes do partido no poder. José Dirceu se livra da pecha de chefe de organização criminosa , acusação que lhe fez o Ministério Público, já que não houve quadrilha , mas terá de arcar com a pena pela condenação por corrupção ativa , e carregá-la no currículo pelo resto da vida. Importa pouco, neste sentido, o regime da prisão. O mesmo vale para Genoíno e Delúbio. Os petistas, por sua vez, não poderão repetir que o mensalão não existiu .

As exaustivas discussões em todo este tempo, apesar de opiniões de Barbosa, justificam a conclusão de que foi extremo o rigor técnico na construção das sentenças. Aliás, a revisão das condenações por formação de quadrilha foi iniciada por um voto de Rosa Weber, que não deixou de penalizar mensaleiros por outros crimes. Nada ofuscará o avanço institucional representado pela condenação de poderosos, com a quebra da aristocrática tradição brasileira de não se punir a elite.

TeVê

TV paga

Estado de Minas: 28/02/2014

 (Y3 Film/Divulgação)

Ação ou educação?


A única estreia de hoje no pacote de filmes é Inimigos de sangue, às 22h, no Telecine Premium, com James McAvoy no papel de um policial que persegue o bandidão interpretado por Mark Strong. Mas apesar da trama curiosa, com muita ação, não chega perto do ótimo Edukators – Os educadores (foto), que será exibido no mesmo horário, na Cultura. Nesse caso, contando a história de um grupo de jovens que acreditam que podem mudar o mundo com uma forma diferente de rebeldia contemporânea.

Muitas alternativas na
programação de filmes


E tem mais. No Telecine Cult, a mostra dos filmes indicados ou premiados com o Oscar continua hoje com Encontros e desencontros (20h05) e Traffic (22h). No Universal Channel, só dá filmes de terror: Halloween II (19h40), Atividade paranormal (21h30) e Demônio (23h05). Na faixa das 22h, o assinante tem mais cinco opções: Estado de exceção, no Canal Brasil; O legado Bourne, no Telecine Pipoca; Perigo por encomenda, no Max Prime; A morte do demônio, na HBO 2; e Meia-noite em Paris, no Max. Outros destaques da programação: Minha noiva é uma extraterrestre, às 21h, no Comedy Central; Mulheres – O sexo forte, às 21h45, no Glitz; Contra o tempo, às 22h30, no Megapix; e Eu, robô, às 22h30, na Fox.

Cinema sugere debate no
Contraplano, do SescTV


 “O erudito e popular” é o
tema de hoje de Contraplano, às 22h, no SescTV. O poeta e tradutor Geraldo Carneiro e o professor de filosofia Celso Favaretto vão debater o assunto a partir de techos dos filmes Carnaval Atlântida (1952), de José Carlos Burle; Alma corsária (1993), de Carlos Reichenbach; O auto da Compadecida (2000), de Guel Arraes; e Cleópatra (2007), de Júlio Bressane.

Canal Bis transmite show
da cantora Céu, ao vivo


A série dos sambistas do programa Viva o sucesso reservou para hoje um especial com Beth Carvalho, às 21h15, no canal Viva. Outra atração musical bacana de hoje é o show da cantora Céu, que o canal Bis vai transmitir ao vivo, a partir das 22h, diretamente do Rio de Janeiro – e simultaneamente com o site canalbis.com.br.

Corumbiara denuncia
massacre de indígenas


No segmento dos documentários, uma boa dica é Versos da ilha, de Daniel Choma, às 14h35, no Sala de notícias do Canal Futura, falando das rendeiras da ilha de Santa Catarina. No Curta!, mais duas atrações: às 21h30, Corumbiara, de Vincent Carelli, sobre o massacre de índios em Rondônia; e às 23h, Adeus camaradas, sobre os conflitos que ameaçam o ideal comunista na Europa.



CARAS & BOCAS » Nasce uma estrela  Simone Castro
Hilda (Luiza Valdetaro) desencanta e estreia em grande estilo no cabaré de Joia rara (Cynthia Salles/TV Globo)
Hilda (Luiza Valdetaro) desencanta e estreia em grande estilo no cabaré de Joia rara

Uma performance arrebatadora. Assim é a estreia de Hilda (Luiza Valdetaro) no cabaré, nos próximos capítulos de Joia rara (Globo). A ex-mulher de Toni (Thiago Lacerda) perde o medo do palco e solta a voz em noite inspirada. Tudo começa quando Arlindo (Marcos Caruso) resolve apostar na carreira da jovem e marca um show no cabaré Pacheco Leão para que ela mostre ao mundo do que é capaz. Diante da família e de todos os amigos, Hilda canta e encanta a plateia e é aplaudida de pé. Acompanhado por Dália (Tânia Khalill), Ernest (José de Abreu) aparece de surpresa e se emociona ao ver a filha no palco. Toni fica feliz ao ver o sucesso da amada, mas mostra ciúmes ao perceber que, entre os convidados, está Aderbal Feitosa (Armando Babaioff), um famoso apresentador da fictícia Rádio Brasileira que se mostra muito interessado na nova estrela da música. No final do espetáculo, Aderbal convida Hilda para jantar e Toni vê os dois saindo juntos do cabaré. Aderbal pede a Hilda para se apresentar em seu programa.

MALHAÇÃO CONCORRE A
PRÊMIO INTERNACIONAL


A novelinha Malhação (Globo), é indicada pelo segundo ano consecutivo,  ao prêmio Emmy Internacional Digital na categoria “programa de conteúdo infantojuvenil”. A atração concorre com o projeto de segunda tela. Na atual temporada, a vida, as aventuras e os dilemas de um grupo de adolescentes foram transportados diretamente da tela da TV para os usuários por meio de um clique, seja no celular, desktop ou tablet. A novela é exibida e ao mesmo tempo no aplicativo a diversão não para: são quizzes, interação com outros usuários, conteúdos exclusivos e competição. O link entre o que vai na TV e o que ocorre no aplicativo é divulgado pouco antes do capítulo, com anúncios do tema do dia nas inserções de vídeo durante os intervalos comerciais. Comentários feitos pelos fãs nas redes sociais e do aplicativo também são mostrados na telinha. O prêmio será entregue em 7 de abril, em Cannes, na França, durante o MIPTV. Concorrem com o programa brasileiro produtos da Austrália, Holanda e do Quênia. O Emmy Internacional Digital contempla a melhor programação do mundo desenhada especificamente para plataformas digitais.

SARAU, DA GLOBONEWS,
NO PIQUE DO CARNAVAL


O Sarau especial de carnaval, que vai ao ar hoje, às 23h30, e amanhã, às 19h30, na GloboNews (TV paga), esquenta os tamborins e entra em ritmo de folia. O programa sobe o Vidigal para mostrar o melhor do samba carioca com a vista deslumbrante do mar e das montanhas que fazem do Rio de Janeiro uma das cidades mais bonitas do mundo. Em cima do morro, Chico Pinheiro reúne o grupo Fundo de Quintal, o compositor Almir Guineto e a cantora Nilze Carvalho, do grupo Sururu de Roda. Durante o bate-papo, os músicos falam de suas carreiras e mostram sambas que fizeram história, como o famoso hino do Cacique de Ramos, Doce refúgio, e o samba O show tem que continuar.

NOVELA BRASILEIRA FAZ
SUCESSO NA ARGENTINA


Desde sua estreia, em 16 de dezembro, a novela Avenida Brasil, de João Emanuel Carneiro, tornou-se a preferida dos argentinos. Em exibição no canal Telefe, o programa é o mais visto no país. O fenômeno de audiência, como ocorreu no Brasil, se repete em todos os países onde a novela foi ao ar. A TV Globo vendeu os direitos de exibição a 124 países e a trama já foi dublada em 18 idiomas. No script em que a vingança dá o tom, Nina (Débora Falabella) volta do passado de maus-tratos quando criança para assombrar os dias da ex-madrasta, a vilã Carminha, vivida por Adriana Esteves. Segundo a revista americana Forbes, a novela é um dos produtos mais rentáveis da televisão mundial nos últimos tempos: com um investimento de US$ 91 milhões de produção, a Globo arrecadou cerca de US$ 2 bilhões.

SEM FESTA

O clima de folia desceu ladeira nos bastidores da novela Em família (Globo). Por conta de atrasos na entrega dos capítulos e falta de frente, os atores terão de ficar à disposição da emissora no feriado de carnaval e as gravações serão realizadas como se fosse em um dia útil qualquer, segundo o site Notícias da TV. Com isso, o aviso baixado é: ninguém poderá viajar. Já estão programadas cenas para hoje, amanhã, segunda, terça e quarta-feira de cinzas. Muitos dos artistas não poderão fechar as tão badaladas presenças VIPs em camarotes, por exemplo, em Salvador, na Bahia. De acordo com o site, muitos estão revoltados, especialmente aqueles em começo de carreira e que contam com os cachês. A novela de Manoel Carlos não teria capítulos adiantados em função do corte de várias cenas, especialmente na segunda fase da novela. Prevista para 179 capítulos, Em família foi reduzida e só terá 149.

VIVA
Adorei a chegada de Viviane Pasmanter na novela Em família. No papel de Shirley, finalmente a atriz estreou e em grande estilo: carregando uma cobra dentro de um avião! Já disse a que veio.

VAIA
A vida é linda, o amor está no ar, mas é estranho que Clara (Giovanna Antonelli) pouco se dedique ao filho na novela Em família. Seu mundo se resume em Marina (Tainá Müller). Um exagero.

Luiza Erundina - Ainda em busca de utopias

Por Paulo Totti | Para o Valor, de Brasília
28/02/2014





Foi na tarde em que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, afirmou que o projeto político e social do atual governo "mofou". A ex-senadora Marina Silva fez coro: "O entulho da velha política atrapalha o Brasil". Estes foram os momentos destacados pela mídia como os mais importantes do ato que PSB e Rede realizaram na Câmara dos Deputados, no início de fevereiro, para anunciar as diretrizes gerais de sua campanha à Presidência e vice da República. Passou despercebido o que aconteceu no início do evento, quando a plateia do lotado Auditório Nereu Ramos se deu conta de que faltava alguém na mesa diretora dos trabalhos. "Erundina! Mesa! Mesa!", ecoou pelo salão. Sob aplausos, a deputada Luiza Erundina de Souza (PSB-SP) foi chamada ao palco. Não lhe deram a palavra, mas um lugar de honra entre figuras ilustres até de terceiras legendas, como a senadora Ana Amélia (PP-RS).

Menos de 24 horas depois, Erundina está no restaurante da Câmara dos Deputados para este "À Mesa com o Valor". Aos 79 anos, a deputada revela jovial entusiasmo, não necessariamente com o que aconteceu no dia anterior - "ontem ou anteontem?" -, mas com as novidades da política brasileira. Para ela, a difusa manifestação das ruas em 2013 foi "uma primavera, uma explosão do anseio de participação popular". E diz acreditar que a aliança PSB-Rede pode absorver e representar essa ansiedade, não só nas eleições de outubro, mas para o futuro. "Sinto-me como nos tempos de criação do PT em 1980".
- Seu otimismo é comovente...

- O povo faz história, cria condições para rupturas democráticas. Acredite nisso.
Gestos teatrais ou alteração do tom de voz são tímidos ante a empolgação das palavras. É a Erundina de sempre, tranquila. E firme. Sua fala é enxuta de adjetivos. Economiza-os até quando lembra retalhos da infância na periferia de Belém do Rio do Peixe, distrito de São João do Rio do Peixe (hoje Uiraúna), a 480 quilômetros de João Pessoa.

Pai, mãe, dez irmãos e uma nesga de terra no sertão da Paraíba. Plantavam feijão, milho, agricultura de subsistência. E um pouco de algodão. "Com a venda do algodão, dava para comprar uma muda (de roupa) para cada filho no fim do ano." A mãe, Enedina, fazia bolos que Erundina vendia na feira. O pai, Antônio Evangelista, era também artesão, trabalhava o couro. Conheciam-no pela produção de selas e arreios que não machucavam os animais. Mas a seca do semiárido, um ano sim, outro não, arrasava a plantação, o movimento da feira minguava, e quem compraria arreios para cavalos mortos? "A cada seca, o pai nos levava pra algum lugar pra tentar não morrer de fome nem de sede. Migrávamos. Os maiores a pé, os menorzinhos num jegue. Quando chovia, voltávamos. Braba foi a seca de 43."


Sou independente. Quando Gilberto Kassab quis entrar no PSB, eu disse "Ele entra por uma porta, eu saio pela outra"

A escadinha de irmãos dividia-se pela metade, os cinco mais velhos eram varões. Erundina puxava a fila de cinco meninas. Os dois primeiros irmãos morreram, "por desnutrição, certamente".
- Hoje levas de retirantes já não invadem as cidades. O que mudou?

- As condições são diferentes. Mas a miséria continua, apesar de atenuada pelo Bolsa Família. Estruturalmente, o problema não mudou. O latifúndio continua e continua a necessidade de buscar a cidade grande para salvar a vida. As pessoas já não fogem a pé, vão de ônibus. Daí se amontoam nas favelas, invadem os espaços vazios, até a polícia vir despejar por ordem da Justiça.

Os pais, semi-analfabetos, queriam que as meninas estudassem. Em São João do Rio do Peixe não havia o que se chamava curso ginasial. Ao terminar o quinto ano primário, Erundina pediu para repetir o ano, não queria ficar longe da escola. Aos dez, uma tia, viúva, acolheu-a em Patos, onde havia um ginásio particular e a mais velha das primas, professora, conseguiu-lhe uma bolsa. "Era também uma família pobre, numerosa. Às vezes faltava mistura (carne) e eu era mais uma boca..." Em Patos, Erundina estudou dois anos. A tia mudou-se para Campina Grande, Erundina foi junto e, também com bolsa, terminou o ginasial em outra escola particular. O "científico", atual ensino médio, pôde ser cursado em escola pública. "Aí, já trabalhava". Estudava à noite e lecionava no primário em escola de irmãs de caridade, onde chegou a formar um coral. A vontade era ser médica, mas não tinha dinheiro para morar em João Pessoa. Ao mesmo tempo, as irmãs precisavam de apoio para continuar a estudar. Erundina resolveu ajudá-las, trouxe-as para Campina Grande - a mãe foi junto, o pai ficou no sertão - e, com seu trabalho, pagou o estudo delas durante nove anos. E desistiu da medicina.

"Só o estudo poderia libertá-las. Lá no sertão o destino das meninas seria igual ao de outras da minha geração: casariam cedo, teriam uma filharada, a miséria se reproduziria e, a cada seca, estariam pelas estradas à espera do inverno."

Sem câmbios no tom de voz, a deputada faz uma revelação:

"Por isso, talvez, o projeto de casamento não se colocou para mim."

A conversa seguia e ninguém à mesa pensara em comer. O garçom avisou que em breve a casa estaria cheia e a comida poderia demorar. O encontro se iniciara ao meio-dia e já eram 12h40. Não havia o tradicional bufê porque a cozinha estava em reformas, mas o restaurante oferecia uma fórmula - "Mesa brasileira" - com duas opções de entrada e de prato principal. Erundina dispensa o creme com couve-flor e escolhe a salada de folhas com tomates, palmitos, crotons e azeite balsâmico. Como prato principal, filé mignon ao molho de vinho com arroz "tipo risoto". Para beber, água sem gás. O fotógrafo Ruy Baron a acompanha. O repórter opta também pela mescla de folhas e prefere salmão com alcaparras e suco de caju. Há três anos, a qualidade da comida do restaurante da Câmara, fornecida pelo Senac, foi criticada neste mesmo espaço - numa entrevista com o deputado Romário Faria(PSB-RJ). Desta vez, o Senac reabilitou-se. A salada, pela delicadeza do tempero, saborosa. O prato principal, irrepreensível.



Deputada Luiza Erundina: "Aliança Campos-Marina me faz lembrar os anos de fundação do PT"



Nos nove anos que passou sem estudar, a jovem mergulhou na militância. Eram tempos de dom Helder Câmara em Recife e de dom José Maria Pires em João Pessoa. Sem ser beata e nunca ter pensado em ser freira, mas inspirada na pregação dos dois arcebispos, Erundina ligou-se à Ação Católica. "Já tinha uma concepção cristã de justiça e me dediquei ao trabalho de conscientização e politização na periferia. Nos domingos, ia mais a reuniões com os pobres do que à missa. Foram anos de outro aprendizado, o da solidariedade".

Depois de quase uma década, volta aos estudos e é aprovada no vestibular da recém-criada Faculdade de Assistência Social de Campina Grande. Passados dois anos, transfere-se para João Pessoa, onde trabalha como auxiliar administrativa no então INPS e conclui a graduação na Universidade Federal. Volta para Campina Grande no cargo de secretária de Educação e Cultura do município. Em 1968, consegue uma bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes) para o mestrado na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. "Havia o compromisso de que, na volta, seria professora na Universidade Federal da Paraíba, necessitada de pós-graduados em sociologia. O Exército me vetou. Era sexta-feira, quando a nomeação foi cancelada. Na segunda seguinte ia começar o ano letivo de 1970. Guardo a carta do reitor, um oficial da reserva." A "opção pelos pobres" passou a ser monitorada. Ao sair de uma reunião com empregadas domésticas, encontrou um jovem que fora seu vizinho em Campina Grande. Conversaram um pouco e, "muito sem jeito", o rapaz disse ser informante do Exército com a missão de segui-la. Uma amiga, parente de um general, pergunta a este sobre a situação de Erundina. Resposta: "É melhor ir embora; se ficar, acaba presa como subversiva ou desaparece".
Decide mudar-se para São Paulo. Faz concurso para a Prefeitura e, em 1971, começa a trabalhar como assistente social em cortiços e favelas. "A luta era a mesma do sertão: o pobre e sua tentativa de fugir da pobreza."

Passou quase dez anos entre os excluídos da grande metrópole. Com colegas de profissão reativou a associação dos assistentes sociais. Em 1979, o governador biônico Paulo Maluf (agora no PP) patrocina em São Paulo um congresso de assistentes sociais que julgava adeptos do regime.
 Erundina e sua turma resolvem comparecer e, fruto de pertinaz trabalho em um plenário de três mil pessoas, conseguem derrubar a direção "pelega" do congresso. Caem também os homenageados. Sai Maluf e entra Luiz Inácio da Silva, líder das greves do ABC. Lula é o orador no encerramento. Retifica o que dissera num comício, quando acusara assistentes sociais de tentar aliciar trabalhadores para furar a greve na Volkswagen. "Descobri aqui que há assistentes sociais e assistentes sociais." Nessa noite, Lula e Erundina se conheceram, num contato breve.

"No dia seguinte, Lula mandou recado: 'Se não tiver nenhuma vinculação com esses grupos de esquerda clandestinos, está convidada a se juntar a nós e fundar o PT'. Sou do PT a partir daí. Estou entre os 113 que assinaram a ata de fundação."

Para Erundina, no sertão ou nas favelas, a situação é a mesma: "O pobre a tentar fugir da pobreza"



- Não militava na Ação Popular (AP), Ação Popular Marxista-Leninista (APML), PCdoB, que tinham muitos quadros de origem católica?

- Não. Nunca participei de qualquer grupo clandestino. Atuava com o pessoal da Ação Católica, abertamente.

- Como é a sua relação atual com Lula?
- Não existe.

A partir daí, a vida de Erundina é conhecida. Vereadora em 1982, deputada estadual em 1986 e, em 1988, primeira mulher, e nordestina, e de esquerda, a ganhar eleição para prefeito de São Paulo. Nas prévias do PT para a escolha do candidato, derrotou Plínio de Arruda Sampaio, hoje no PSOL. Erundina era considerada a radical, tinha apoio do sociólogo Florestan Fernandes, do ex-guerrilheiro José Genoino, de facções católicas e trotskistas. Com Plínio, o moderado, estavam Lula, José Dirceu, Ruy Falcão. "Não era a candidata deles e não fui a prefeita deles. Lula não foi à minha posse. Foi a Porto Alegre para a posse de Olívio Dutra".

- A direção do PT sabotou sua administração?

- Atrapalhou. Questionavam minhas decisões, queriam estatizar tudo. Como é que iria estatizar o transporte coletivo, uma frota sucateada? O serviço ia ficar pior. Foi um governo difícil. A oposição estava na imprensa; na maioria dos vereadores; no governo do Estado, com Orestes Quercia e depois Luiz Antônio Fleury; no governo federal, com José Sarney e depois Fernando Collor; nos malufistas saudosos da ditadura, e no Tribunal de Contas, com conselheiros indicados pelos prefeitos anteriores. E em parte do PT. O que me salvou foi o secretariado de nível ministerial escolhido por mim: Marilena Chauí, Paulo Freire, Paul Singer, Ermínia Maricato, Hélio Bicudo, Dalmo Dallari...

Controlou a enorme dívida deixada pelo antecessor, Jânio Quadros, e chegou a tentar o passe livre no transporte público. O sistema, engenhoso, um tanto romântico, se pagaria com um "plus" no IPTU. A iniciativa foi abortada por oposição da Câmara e da imprensa, que convenceram o próprio PT de que o povo não valorizaria, pelo contrário, depredaria, algo oferecido de graça.


O PT perde as eleições em São Paulo e Maluf volta à prefeitura. Em Brasília, há o "impeachment" de Collor e assume Itamar Franco, com ambição de formar um governo de união nacional. Itamar, "homem sério, honesto", convida Erundina para o Ministério da Administração, cargo que exerceria apenas de fevereiro a maio de 1993. Ela aceita, sem consultar o PT, que decidira manter-se na oposição. A indisciplina custou-lhe a suspensão dos direitos partidários. Volta um ano depois e, em 1996, disputa novamente a prefeitura e perde no segundo turno para Celso Pitta (PPB). O clima no partido, porém, já não lhe é acolhedor. Em 1997, sai do PT e vai para o PSB. Elege-se deputada federal em 1998 e se reelege a partir de então. Está agora no quarto mandato, aspirante ao quinto. Em 2000, tentou voltar à prefeitura, mas foi derrotada por Marta Suplicy (PT). Dois anos depois, apoia Lula para presidente - também Dilma Rousseff em 2010. Em 2012, estaria novamente ao lado do PT como candidata a vice de Fernando Haddad para a prefeitura, não fosse a bizarra visita de Lula a Maluf, interessado nos minutos que o partido do ex-governador (PP) agregaria à propaganda petista no horário eleitoral. Erundina retirou a candidatura, fiel à crítica que faz à prática política brasileira: "O pragmatismo leva ao abandono dos princípios".


Na Câmara, Erundina atua nas comissões e é assídua em plenário, além de presidente da subcomissão Memória, Verdade e Justiça, que complementa o trabalho da Comissão Nacional da Verdade. Em 2011, apresentou projeto que modifica o artigo 1º, parágrafo único, da Lei de Anistia. "Ao tratar de crimes conexos, dá anistia a crimes comuns, tortura, assassinato. O torturador é anistiado junto com o torturado. São anistiados até os autores de atentados como o do Riocentro, cometido depois de 1979, quando o Congresso, sob pressão militar, aprovou a lei. O STF considerou a lei constitucional, mas o Congresso que a votou pode até revoga-la. Não é lei pétrea." O projeto dorme nos meandros da Câmara.


Ao projeto, "e também à vida pregressa", a deputada atribui o fato de ter sido vetada em visita que parlamentares realizariam no fim do ano passado às dependências onde funcionou o DOI-CODI, célebre e macabra sigla da repressão. Os senadores João Capiberibe (PSB-AP), Ana Rita (PT-ES) e Randolphe Rodrigues (PSOL-AP) fariam uma inspeção no quartel da rua Barão de Mesquita, no Rio, agora sede da polícia do Exército. Quando incluíram Erundina na lista de visitantes, veio a resposta de que ela não seria recebida. Os senadores recorreram a autoridades mais altas. Até o ministro da Defesa, Celso Amorim, interveio. Chegou-se a um acordo.

- E a visita foi feita?

- Foi. Antes de a gente percorrer os locais onde teriam ocorrido torturas, um oficial fez um relato sobre a história da polícia do Exército, desde o século XIX. Quando chegou a 1964, pulou para os tempos atuais. Reclamei: "Tá faltando um capítulo aí". "Não quero fazer política", disse o oficial.

- A senhora é homenageada em público, exibida até, como integrada na campanha de Campos e Marina. Aconteceu ontem e no dia do anúncio da aliança. Internamente também é considerada, tem influência?

- Em São Paulo não tenho nenhuma influência, a direção estadual decide sozinha. Nos âmbitos estadual e nacional, o PSB tem feito algumas concessões com as quais não concordo. Gilberto Kassab quis entrar no PSB quando saiu do DEM. Chegou a conversar com Eduardo. Aí eu disse: "Entra por uma porta, saio pela outra". Tenho posição de independência, discordo de público. Com isso, evitei também o apoio à reeleição do governador Geraldo Alckmin. Se dependesse só da direção estadual, o PSB em São Paulo continuaria linha auxiliar do PSDB.

Em São Paulo, Erundina (214 mil votos na última eleição para a Câmara) disputa a condução do PSB com seu colega Márcio França (172 mil votos). França, presidente da sigla, tentou o apoio de Campos à reeleição de Alckmin, de cujo governo foi secretário de Turismo e de quem pretendia ser vice. Erundina foi contra e Marina Silva impôs a opção por uma candidatura própria. Márcio, ex-prefeito da litorânea São Vicente, tem votos na Baixada Santista. Erundina, na região metropolitana de São Paulo.





- É candidata a governadora?

- Marina queria que eu fosse. Meu candidato é Pedro Dallari, filho do Dalmo. Professor da USP, ex-presidente do PSB municipal, coordenador da Comissão Nacional da Verdade, é nome representativo, respeitável. Não vamos reduzir tudo ao processo eleitoral. Queremos fazer bonito na eleição, mas, pelo diálogo com a sociedade, criar um saldo de organização capaz, depois da eleição, de continuar o processo de mudança da cultura política brasileira. É a nossa concepção do novo, novo na forma de ser partido, de ser governo, de atuar.

- A senhora é ouvida na formação do programa da aliança?

- Sou mais uma militante. Contribuo com minha experiência e minhas ideias. Me convidam para reuniões, debates, seminários, que se realizam pelo país para aprofundar a proposta geral. É coisa séria, e é pra valer, viu?

Erundina está mesmo animada.

- O que Campos tem de diferente?

- Eduardo é muito aberto. Eu me impressiono que nas reuniões do partido ele sempre fica do início ao fim, o dia inteiro. Não faz como outros, que falam na abertura, ditam ordens e vão embora sem ouvir o que os demais têm a dizer... Ele acompanha tudo, ouve um por um, toma nota. E amarra no fim com base no que anotou. É uma pessoa que aprende fácil!

Sobre Marina, a deputada é igualmente fraterna. "Somos próximas desde a criação do PT, originárias da mesma experiência de respeito ao poder de mudança do povo. Os discursos de Eduardo e Marina são diferentes, mas se complementam no apelo a mudanças qualitativas. Isso é fantástico.

O repórter provoca: "A senhora é católica, Marina foi católica e agora é criacionista."

"Cada um com sua crença." Faz uma pausa e ri, condescendente: "Ninguém é perfeita".

É hora da sobremesa, doces e frutas servidos num aparador perto da cozinha. Erundina volta com generosa porção de pudim e fruta em calda.

- A sua saúde, como está?

- Brinco que, quando filho de pobre não morre no primeiro ano de vida, se cria e dura muito. Estou muito bem. Sou apaixonada pelo que faço, quero mudar as coisas. Há decepções, é claro. Mas ficar parada na frustração, no desalento, é atitude conservadora. Tem que voltar a lutar. A motivação dá vida à gente. Tenho utopias, entendeu?

- A propósito, a senhora vê em Campos chances de vitória?

- Vejo essa possibilidade. PT e PSDB, embora fortes, estão exauridos. Não dá para subestimar o potencial de Dilma, mas não acredito que Aécio (Neves) seja páreo para ela ou para Eduardo. A composição com Marina dá expressão à candidatura de Eduardo num outro nível. É um novo paradigma na forma de fazer política.

A quase octogenária se despede com um beijo. A passos lentos, vai para o plenário, onde a sessão já começou.


MANOEL DE BARROS » Poesia musicada em disco‏ - Ailton Magioli

MANOEL DE BARROS » Poesia musicada em disco
Ailton Magioli

Estado e Minas: 28/02/2014

A fluminense Andreia Mota lança seu primeiro disco solo, Paisagem invisível     (Sergio Baia/Divulgação )
A fluminense Andreia Mota lança seu primeiro disco solo, Paisagem invisível

A música e o teatro chegaram ao mesmo tempo na vida da fluminense Andreia Mota, de São João de Meriti. Depois de estrear profissionalmente no musical Raul fora da lei, ela lança Paisagem invisível, primeiro disco solo, e conta que sempre teve mais queda pela música. Mas a oportunidade de acesso ao teatro acabou ajudando muito Andreia. “Eu era muito tímida”, conta, daí o fato de as artes cênicas terem aberto porta tão importante. De repente, ela se viu matriculada na universidade, no Rio, em curso de teatro. Mas a queda para a interpretação, como faz questão de salientar, é natural. Só que Andreia planejava ir além.

“Queria criar condição para a música vir à tona”, explica a atriz e cantora, responsável pela dramaturgia de seu show, que, depois das temporadas de 2012 e 2013 resultou no CD. Recém-lançado no Teatro Solar de Botafogo, Paisagem invisível é, originalmente, um show cênico-musical com direito à inclusão de poesia (do mato-grossense Manoel de Barros, fonte de inspiração da criação do espetáculo).

O repertório é o aspecto mais forte no conjunto da obra de Andreia Mota, intérprete às vezes afetada (demais). Da pérola Guardanapos de papel, do uruguaio Leo Masliah, em versão de Carlos Sandroni, à inédita Papoula brava, do carioca Thiago Amud, o disco prima pelo bom gosto poético-musical, incluindo inéditas de Marcelo Fedrá (Flor voadeira e Contumaz, além da faixa-título); Alessandra Gellio (Todo dia eu sonho com uma mulher); e de Andreia Mota (Dos seus olhos), além de clássicos de Nelson Angelo, com Fernando Brant (Canoa, canoa); Tom Jobim, com Aloysio de Oliveira (Inútil paisagem); e de Wilson Baptista, com Germano Augusto Coelho (Boca de siri). De Milton Nascimento, com Paulo Ricardo, ela gravou Feito nós.

A direção cênica do show é de Alessandra Gellio, enquanto os arranjos ficaram a cargo dos músicos Real Júnior e Victor Ribeiro, que também assina a direção musical. “Victor foi muito sensível para captar o que havia de sutil no repertório”, reconhece Andreia Mota, lembrando que o primeiro arranjo feito por ele foi o de Inútil paisagem, “superimagético, com contracantos”. Concebidos em linguagem jazzística, os ritmos brasileiros se sobressaem no trabalho da cantora indepedente, cujo álbum de estreia pode ser encontrado no ITunes e CDBaby, além do site oficial www.andreiamota.com.br

PROJETO SEMPRE UM PAPO » Adélia Prado tem a poesia como redenção - Carlos Herculano Lopes

PROJETO SEMPRE UM PAPO » Adélia Prado tem a poesia como redenção

Carlos Herculano Lopes
Estado de Minas: 28/02/2014


Radicada em Divinópolis, poeta completa 80 anos em 2013 (Alexandre Guzanshe/EM/d.A Press)
Radicada em Divinópolis, poeta completa 80 anos em 2013

 Ontem à noite, o Teatro Sesiminas, que tem capacidade para cerca de 700 lugares, foi pequeno para abrigar todas as pessoas que foram ouvir à poeta Adélia Prado e poder conseguir um autógrafo dela. Ela veio a Belo Horizonte lançar o seu último livro de poemas, Miserere.

Dezenas de fãs da escritora, de todas as idades, que não conseguiram um lugar no teatro, nem mesmo de pé, não escondiam a frustração por terem ficado de fora. “Tinha que ter pelo menos um telão aqui para a gente poder vê-la”, reclamou a estudante Maíra de Oliveira, que mora no Bairro Anchieta. Ao lado dela, uma senhora, que também se dizia fã de Adélia, concordava com a garota.

Aplaudida de pé quando foi chamada ao auditório, a poeta, que no ano que vem completa 80 anos, disse só ter aceitado participar do Projeto Sempre um Papo, porque o evento tratava-se de um sarau de poesia e não de uma palestra. “Ultimamente tenho andado muito deprimida, muito triste com a situação do Brasil; existe um peso no ar. Mas como a poesia, por mais ínfima que possa ser, para mim significa esperança e porque acredito nela, estou aqui hoje”, disse.

Nascida em Divinópolis, no Centro-Oeste mineiro, em 13 dezembro de 1935, onde ainda vive, Adélia Prado foi professora durante muitos anos. Seu primeiro livro, Bagagem, foi publicado em 1976, depois de Affonso Romano de Sant’Anna tê-la apresentado a Carlos Drummond de Andrade. Ele se encantou com a poesia de Adélia e resolveu ajudá-la. Dois anos depois, com outro livro de poemas, Coração disparado, a escritora ganharia o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro. Ela é autora ainda de vários romances e livros infantojuvenis, como Quero minha mãe, Quando eu era pequena e Carmela vai à escola.

No encontro de ontem, Adélia Prado, que reafirmou durante a sua fala acreditar na poesia como “redenção, e uma espécie salvação contra o mal”, também leu alguns poemas de Miserere. Lançado recentemente pela Editora Record, com esse livro ela se firma ainda mais, ao lado de Manuel de Barros, Affonso Romano de Sant’Anna e Ferreira Gullar, como a grande voz da poesia brasileira atual.

Velho jovem patrimônio mundial‏

Velho jovem patrimônio mundial 
 
Cientistas tentam conciliar teses divergentes sobre a idade do Grand Canyon, uma das maiores formações rochosas do mundo e que começou a se formar há 50 milhões de anos 


Estado de Minas: 28/02/2014


Para o estudo, evolução das temperaturas da rocha apatita foi reconstituída, para datar momento de sua subida à superfície (David McNew/AFP %u2013 20/5/12)
Para o estudo, evolução das temperaturas da rocha apatita foi reconstituída, para datar momento de sua subida à superfície

Paris – O Grand Canyon do Colorado começou a se formar há pelo menos 50 milhões de anos, mas concluiu seu crescimento apenas muito recentemente, afirma um estudo que tenta reconciliar as teses contraditórias sobre a idade dessa maravilha da natureza do Oeste americano. A questão é alvo de inflamados debates há mais de um século. Os cientistas se enfrentam para provar que esse grande vale é muito mais antigo do que se pensa (até 70 milhões de anos), ou, ao contrário, que é extremamente jovem na escala geológica, com apenas 5 milhões a 6 milhões de anos.

Para testar e reconciliar os modelos conflituosos sobre a datação do Grand Canyon, Karl Karlstrom e sua equipe, todos da Universidade do Novo México, em Albuquerque, nos Estados Unidos, decidiram levar em consideração todos os dados geológicos e a “termocronologia” de todo o conjunto.

 A termocronologia permite reconstituir a evolução das temperaturas de um certo tipo de rocha – a apatita – e datar o momento de sua subida à superfície sob a ação do rio que erodiu o solo e formou o cânion. Segundo o estudo, publicado na revista Nature Geoscience, uma garganta situada no meio do Grand Canyon, o segmento Hurricane (furacão, em português), é particularmente antigo e foi talhado na rocha há 50 milhões-70 milhões de anos por um rio hoje desaparecido.

Escavado por um outro rio arcaico, o segmento vizinho Eastern Grand Canyon teria uma idade intermediária, entre 15 milhões e 25 milhões de anos. E foi apenas recentemente, algo entre 5 milhões e 6 milhões de anos, que o rio Colorado se integrou à paisagem, escavando as duas extremidades do Grand Canyon: Marble Canyon, ao Leste, e Westernmost Grand Canyon, a Oeste.

Segundo os pesquisadores, as gargantas não teriam parado de aumentar, desde então, sob o efeito da erosão, entre 100 a 200 metros por milhão de anos até serem, finalmente, interconectadas e chegarem ao Grand Canyon tal como é conhecido hoje. Atração turística bastante popular, o Grand Canyon se estende por 446 quilômetros, com largura máxima de quase 29 quilômetros e até 1.850 metros de profundidade.

O homem e a mala - Carlos Herculano Lopes‏

O homem e a mala
Carlos Herculano Lopes
Estado de Minas: 28/02/2014



Tudo começou numa corrida entre o aeroporto de Confins e Belo Horizonte, quando um motorista de táxi, que aqui vamos chamar de Eustáquio, pegou uma corrida para trazer um cliente até um bairro da Zona Sul. Antes de entrar no carro, aquele homem, bem vestido e com pinta de executivo com ótimo salário, depois de cumprimentar o condutor pediu que guardasse a sua mala no bagageiro. “Assim vamos mais à vontade, batendo um papo”, disse e, de imediato, começaram a conversar.

Bom falante, contou ao motorista que estava voltando do México, onde a firma em que trabalhava tinha uma filial no estado de Morelos, no Sul do país. “Nosso ramo é revenda de tratores, que também exportamos para os Estados Unidos e países da América Central”, disse ainda. Como o taxista, que não era de muita conversa, ficou em silêncio, ele perguntou: “Você já esteve fora do Brasil?”. “Não senhor, nunca saí aqui de Minas Gerais”, respondeu o outro, como que envergonhado. O trânsito fluía bem.

Daí a pouco, já mais à vontade, o taxista também foi começando a falar e revelou ao cliente, que o ouvia com atenção, ser de Montes Claros, onde, quando adolescente, tinha trabalhado em uma fazenda de gado. “Mas chegou uma hora em que percebi que não dava mais para continuar, pois precisava ajudar minha família, que era muito pobre, e então resolvi vir para Belo Horizonte tentar a vida.” Confessou também que aquele carro não era dele, mas de um conterrâneo que tinha quatro outros “rodando por aí”.

“Daqui a um tempo você compra o seu, é só ir juntando o dinheiro. Coloque todos os meses um montante na poupança; não mexa nele, e nem conte para os parentes, senão vão pedir emprestado”, aconselhou ainda o homem, ao que o motorista sorriu: “Sei muito bem como é isso. Por ter avalizado um primo perdi tudo o que tinha”, comentou. E a viagem foi seguindo. Fazia muito calor.

Certo é que, mais ou menos uma hora depois, chegaram ao destino e o condutor, que sempre fora um homem calado, mas tinha se simpatizado com aquele homem, já estava todo prosa, contando façanhas. Ao que o outro, como se fossem velhos conhecidos, retribuía com boas gargalhadas. Na porta do prédio, onde este disse que iria ficar, o taxista parou, recebeu o pagamento e se despediram.

Qual não foi sua surpresa quando, no outro dia pela manhã, ao abrir o bagageiro para tirar uma sacola, se deparou com uma mala preta. “Que mala é esta, meu Deus?”, pensou e, como atendia dezenas de passageiros por dia, nem se lembrou de quem poderia ser. Curioso, a abriu, não sem receio: dentro dela, além de dois ternos, encontrou uma máquina filmadora, um laptop, câmara digital, objetos de uso pessoal, pastas de documentos e US$ 3 mil em notas de 100.

“De quem será isso, meu Deus?”, voltou a pensar, e nem se lembrou do homem de terno, que havia pegado em Confins. Ao mostrar para um colega, esse mexeu os ombros e disse: “Se eu fosse você, ficava com tudo”. Mas aquele homem, que aqui estamos chamando de Eustáquio, não era de ações desse tipo. E três dias depois, após quebrar a cabeça, as coisas foram se encaixando. “É dele, do moço do México”, concluiu. E seguiu para o prédio na Zona Sul, onde o outro, depois de localizado, custou a acreditar – acostumado que era ao árido mundo dos negócios – que uma coisa daquelas pudesse estar acontecendo.

Eduardo Almeida Reis - Academias‏

Academias
O mundo fashion é composto de modismos e tolices

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 28/02/2014

Tenho frequentado pouco a Academia Mineira de Letras (AML), que teve a ousada gentileza de me acolher entre os seus membros em 1995. Problemas geográficos e hospitalares fazem que o philosopho se ausente da Casa de Alphonsus de Guimaraens, que é também e muito a Casa de Vivaldi Moreira – instituição admirável sediada na Rua da Bahia, em Belo Horizonte, hoje presidida pelo não menos admirável escritor Olavo Romano, natural do Morro do Ferro, em Oliveira, Centro-Oeste de Minas. Aplica-se ao Morro do Ferro o título de um filme italiano Vedi Napoli e poi muori, o que significa dizer que, tendo conhecido Nápoles, uma das cidades mais lindas do mundo (sic), o sujeito pode morrer. Por suas próprias virtudes e pelo fato de ser lindeiro de Ritápolis, cidade natal de bom amigo meu, o Morro do Ferro exprime o que há de melhor na mineiridade. Embatuco entre falar das academias e do prefeito de Nápoles, que deve ser o novo primeiro-ministro italiano na flor dos seus 39 aninhos, o que na Itália significa menino de cueiros. Por ora, fico nas hostes academiais para lembrar ao leitor o texto “A origem das academias”, do médico Cláudio Azevedo Sales, que me honra com a sua amizade, publicado neste jornal em 11 de julho do ano passado. Vice-presidente da Academia Mineira de Medicina, o doutor Sales analisou as academias desde o seu florescimento na Grécia Antiga, berço da civilização ocidental. No texto aprendi que Zeus, deus dos céus e dos trovões, rei dos deuses e dos homens, dominava o universo e os deuses de Olímpia. Apesar de casado com Hera, aventurava-se em romances eróticos, originando descendentes divinos e heróis. Certa vez, surpreendeu a encantadora Leda, mulher de Tyndareus, rei de Esparta, seminua, deitada sobre a relva – e por ela se apaixonou. Para conquistá-la, Zeus se transformou em cisne conseguindo seduzi-la enquanto ela dormia ao lado do marido. Nessa mesma noite materializou seu desejo e consumou sua união com Leda, originando quatro filhos: Pollux, Cástor, Clytemnestra e Helena, imortalizada como a sedutora Helena de Troia. E a história vai (ou vem?) por aí, mostrando que Zeus, rei dos deuses e dos homens, gostava do que é bom, isto é, a mulher do próximo. Quase tão bom quanto a mulher do próximo é o biscoito belga, o que não impede que o homem sério deguste os dois.


Elegância
Na retrocroniqueta que você acaba de ler ameacei falar do novo primeiro-ministro italiano, que tem esnobado o mundo em matéria de elegância. Todo cavalheiro maior de 50 anos, que não tenha passado sua juventude nu nas selvas tropicais, sabe que o paletó-padrão do homem civilizado tinha em cada manga quatro botões caseados, o primeiro dos quais, mais próximo da mão, com a casa aberta, isto é, sem aparecer o botão. No casear dos outros botões bastava a imitação da casa. Besteira? Claro que sim. O mundo fashion é composto de modismos e tolices. Quando adotada por expressivo estamento social, a moda fica chique e o chiquê faz bem à alma de muita gente para não destoar do meio em que vive. Pois fique o leitor sabendo que Matteo Renzi, o tal prefeito de Florença, botou as manguinhas de fora ao se apresentar diante das tevês do mundo inteiro com cinco botões caseados em cada manga dos seus paletós: cinco! Suponho que todo o casear seja falso. Ainda assim, é muita casa e muito botão. Se a moda pega logo teremos paletós com 10, 20 botões (e casas) em cada manga, sem que o mundo melhore por causa disso.


O mundo é uma bola
28 de fevereiro de 870; encerrado o Quarto Concílio de Constantinopla. Devo confessar que não tenho o mais mínimo interesse pelo que foi decidido no 4º Concílio de Constantinopla, como suponho que o leitor do EM também não tenha. Estamos preocupados, o leitor e o philosopho, com o time do Felipão e com os cinco drones que a Marinha do Brasil ameaça comprar para vigiar 3 milhões de quilômetros quadrados de nossa Amazônia líquida: os mares próximos de um país grande e bobo. Cinco aeronaves não tripuladas. Acho pouco. Louvo os drones quando usados para matar terroristas, ainda que eventualmente matem algumas pessoas “inocentes” no entorno. Bombas normais também matam “inocentes”. Balas perdidas, veículos desgovernados, ex-maridos, filhos esquizofrênicos – tudo mata: viver é muito perigoso. Em 1644, holandeses abandonam São Luiz do Maranhão, que volta ao domínio das famílias Sarney e Lobão para felicidade geral da nação. Em 1736, a Coroa portuguesa decreta que o transporte de ouros, diamantes e pedras preciosas brasileiras seja feito exclusivamente nos cofres das frotas. Em 1912, o capitão norte-americano Albert Perry realizou em Missouri o primeiro salto de paraquedas de um avião. Transcorridos exatos 102 aninhos, saltar de paraquedas virou divertimento de fim de semana. Em 1964 Paulínia emancipou-se de Campinas (SP), permitindo que as quadrilhas de ladrões de cofres eletrônicos tivessem mais um município para explodir suas bananas de dinamite. Em 1920 nasceu Virgínia Lane, morta outro dia. Hoje é o Dia da Ressaca.


Ruminanças
“O tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro” (Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o barão de Itararé, 1895-1971).

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Marina Colasanti - Como uma carta de despedida‏

Como uma carta de despedida
 
Marina Colasanti - marinacolasanti.s@gmail.com

Estado de Minas: 27/02/2014


Arduino Colasanti em cena de Como era gostoso o meu francês (Condor Filmes/divulgação)
Arduino Colasanti em cena de Como era gostoso o meu francês

Morreu Arduino Colasanti, meu irmão. Para os outros, era o galã de cinema, ator fetiche de Nelson Pereira dos Santos, o jovem lindo de O justiceiro, ou o prisioneiro dos índios tupinambás de Como era gostoso o meu francês, que em plena nudez espera ser devorado. Ou, para quem tem boa memória, a personagem em Brasil ano 2000, de Walter Lima Jr., duelando com nosso pai – o também ator Manfredo Colasanti –, armado um com um gigantesco garfo, e o outro com uma imensa faca de mesa. Era o ator que, invejado por tantos, namorava Leila Diniz em Fome de amor.

Para mim, foi o cúmplice de tantas aventuras de infância, metidos juntos em trigais mais altos que nossas cabeças, ou indo buscar cogumelos no bosque para dar à nossa mãe de aniversário. Era o poderoso guerreiro Olhos de Águia, chefe e fundador da tribo de índios pele- vermelha da qual eu era a única menina, autonomeada Sole Ridente. E também Tarzan, nas explorações iniciais da selva tropical que compõe o Parque Lage, cuja mansão foi nossa primeira casa no Brasil. Andamos muito de cipó, soltando o chamado característico do homem-macaco, sem nenhum reconhecimento por parte dos micos. E construímos cabanas estupendas, tão benfeitas que uma delas foi aproveitada no filme Jangada, rodado no parque, e destruído num incêndio antes de qualquer exibição.

Para os outros, Arduino era o homem do mar que fabricou – e usou – a primeira prancha de surfe no Brasil, o mergulhador da equipe brasileira no campeonato de caça submarina em Malta, o professor de mergulho que formou tantos profissionais, o homem que virou acidente geográfico, para sempre preservado na Laje Arduino, entre duas ilhas no canal da Barra. Homem tão do mar que pediu fossem suas cinzas jogadas junto às Ilhas Cagarras, ao largo de Ipanema.

Para mim, foi o instrutor particular que me ensinou a mergulhar e me levava para pescar, naquele tempo em que praticamente não havia mulheres no esporte. Eu morria de medo porque não tinha o mesmo traquejo dele, nem o mesmo talento aquático. E morria de frio porque era adolescente magrinha e ainda não existiam roupas de neoprene, meu maxilar doía de tanto apertar o bocal do respirador para evitar o tremor dos dentes. Mas era muito bom! Mergulhamos juntos na Gruta da Imprensa, entre espumas de onde temia ver surgir um cação a qualquer momento. Mergulhamos no navio afundado da Barra, eu sabendo que se o mar virasse ia ser dificílimo voltar porque não sabia pegar jacaré. E mergulhamos na Laje Santo Antônio, em mar aberto. Hoje, olho a laje do alto do meu terraço, lá longe, marcada por ondas, e ouço a voz dele me dizendo com orgulho de irmão e professor: “Você foi a primeira mulher a mergulhar na Laje Santo Antônio!”.

Para todo mundo, Arduino era sobretudo o belo por excelência, o louro de perfeito perfil e olhos azuis, um grego florentino em plena Ipanema. E era o conquistador ou o conquistado de tantas mulheres, as mais bonitas e desejadas.

Para mim, era meu desdobramento, oposto e complementar indispensável, único no mundo a partilhar as lembranças de nossa infância na África e na Itália, nossa chegada ao Brasil.

Perguntei-lhe recentemente como se sentia, se italiano, brasileiro ou dividido. Respondeu enfático: “Eu sou um mulato brasileiro!”. 

TeVê

TV paga

Estado de Minas: 27/02/2014



 (Marcos Vieira/EM/D.A. Press-18/11/2003)

O dono da voz


Um dos maiores nomes da história do samba e, com certeza, o mais popular representante da Estação Primeira de Mangueira na avenida, o cantor Jamelão (foto) é o personagem de um dos documentários que encerram hoje o especial de carnaval do Canal Brasil. A programação começa às 19h, com Mangueira documental, e fecha com a homenagem a Jamelão (1913–2008), realizada quando ele completou 90 anos. As duas produções foram dirigidas por Marco Altberg.

Cultura traça o perfil
de Compay Segundo


E tem mais música na telinha. Às 14h35, no Canal Futura, o Sala de notícias apresenta a reportagem “A arte de ser músico”, de Rosí Fer, que acompanha dois instrumentistas da Orquestra Sinfônica de São Paulo. No Bis, às 19h30, tem show de Emicida e Criolo. Na Cultura, às 22h, será exibido o documentário Compay Segundo – Uma lenda cubana, em que o diretor Claude Santiago retrata a trajetória de uma das mais representativas figuras da música de Cuba. E às 23h30, ainda na Cultura, Fernando Faro recebe a cantora Fabiana Cozza no programa Ensaio.

Curta! exibe biografia
de Jorge Luis Borges


No canal Curta!, mais uma atração que merece a atenção do assinante: a série Grandes escritores, às 23h. Hoje, o programa vai focalizar vida e obra do escritor, poeta, tradutor, crítico literário e ensaísta argentino Jorge Luis Borges (1899–1986).

SescTV destaca hoje
a Cidade Maravilhosa

Outro documentário recomendado está na tela do SescTV. Às 21h30, no programa Coleções, será exibido um especial sobre o Rio de Janeiro, na série “Cidades históricas”. O episódio ressalta os aspectos históricos da cidade do Rio de Janeiro, suas belezas naturais e suas principais manifestações culturais, contados por personagens que são apaixonados por ela.

Natureza promove um
show de luzes nos céus


O canal +Globosat exibe hoje, às 17h, o documentário Aurora boreal, que revela imagens inéditas e de qualidade excepcional deste fenômeno ao redor do mundo. A experiência de assistir às luzes naturais no céu deu origem a várias lendas criadas por povos primitivos, como comprova esta produção, gravada na Finlândia, Alasca, Canadá e Nova Zelândia.

Muitas alternativas
no pacote de cinema


Na programação de filmes, o Telecine Cult continua com sua seleção de indicados e premiados com o Oscar, emendando hoje Priscilla, a Rainha do Deserto (20h) e Ed Wood (22h). Outro destaque está no TCM, também às 22h: o clássico Laranja mecânica, de Stanley Kubrick. Ainda na faixa das 22h, mais cinco boas opções: Os desafinados, no Canal Brasil; 12 rounds 2, no Telecine Pipoca; A última casa, no Telecine Action; Educação, no Studio Universal; e Mississipi em chamas, na MGM. E mais: O último grande herói, às 21h, no Comedy Central; Crash – No limite, às 21h30, no Viva; e Planeta dos macacos: a origem, às 22h30, na Fox.



CARAS & BOCAS » Divisor de águas
Simone Castro

Regina Duarte interpreta Malu, no seriado da década de 1970 (Globo/Divulgação)
Regina Duarte interpreta Malu, no seriado da década de 1970

O canal Viva (TV paga) quer presentear as mulheres no mês em que são homenageadas. E para tanto, elegeu a atriz Regina Duarte, que mais coleciona papéis nos quatro anos do canal. Em dose tripla, ela tomará conta da telinha na seleção feita para agradar a todo tipo de público. A partir de 1º de março, às 14h30, começam a ser exibidos oito capítulos do seriado Malu mulher, em que a atriz interpreta uma das personagens que, sem dúvida, é das mais marcantes em seus 50 anos de carreira, e um divisor de águas. Com ele, Regina saltou das mocinhas que lhe valeram o título de “namoradinha do Brasil” para viver uma mulher emancipada, que deixou um casamento que não mais a satisfazia, foi à luta e se tornou dona do seu nariz, em pleno final da década de 1970. Em cena, a luta diária de uma mãe divorciada para criar a filha adolescente em uma época em que a separação ainda era malvista pela sociedade. Dirigido e criado por Daniel Filho em 1979, o seriado, que irá ao ar sempre aos sábados, no canal, traz discussões sobre trabalho, família, criação dos filhos e o relacionamento entre homens e mulheres. Ainda na pauta, temas polêmicos na época, como aborto, virgindade e orgasmo. Com estreia no dia 10, às 15h30, e sempre de segunda a sábado, a novela História de amor traz Regina no papel de sua primeira Helena, escrita por Manoel Carlos. Ela faz par romântico com José Mayer. A trama, exibida em 1995 pela Globo, marcou a comemoração dos 30 anos de carreira da atriz. Já no dia 17, às 23h10, e de segunda a sexta, entra no ar Retrato de mulher, que teve origem com o especial de fim de ano da Globo Era uma vez... Leila, em 1992. Em cada episódio, Regina aparece interpretando uma mulher diferente. A estreia é com Era uma vez... Luciana, de Leilah Assumpção, em que a atriz é uma professora universitária que enfrenta problemas no casamento depois do nascimento do primeiro filho.

SERTÃO BRASILEIRO E SEUS
CORONÉIS EM JORNALÍSTICO


No Conexão repórter desta quinta-feira, no SBT/Alterosa, confira o documentário exclusivo Os filhos dos coronéis. É um dramático retrato de abandono, da hipocrisia, dos desmandos e do sofrimento nas escolas no sertão brasileiro, que são dominadas pelos coronéis. O programa mostra, ainda, que a indústria da seca e da perpetuação do poder traz uma sentença social: a condenação ao não futuro. As botas do poder oprimem enquanto crianças são obrigadas a estudar amontoadas em casebres de lona. Barracos de barro sem luz, água ou banheiro, onde as aulas são interrompidas até pela entrada de animais.

JENNIFER LOPEZ FAZ SUA
ESTREIA EM SERIADOS


A atriz e cantora Jennifer Lopez vai protagonizar Shades of blue, nova série de drama do canal NBC em que ela faz sua estreia no gênero. O papel é de Harlee McCord, uma mãe solteira e detetive recrutada para trabalhar disfarçada para o FBI em uma força-tarefa anticorrupção. A atração, que tem estreia prevista para setembro do ano que vem e contará com 13 episódios na primeira temporada, seguirá a personagem de Jennifer em sua jornada de tornar-se “comprometida com seus colegas – que também a auxiliarão na tarefa de criar a filha – e de encarar o dilema moral de trabalhar contra seus colegas de corporação, a fim de redimir a si mesma”, conforma descrição do canal.

FILME PARA O PAPA

O ator Russell Crowe quer levar o papa Francisco ao cinema. Crowe lançou uma campanha no Twitter para conseguir que o sumo pontífice assista ao seu próximo filme, Noé, uma adaptação do relato bíblico da arca de Noé. Para o ganhador do Oscar, o papa ficará fascinado com o longa-metragem. Anteontem, Crowe teria enviado quatro mensagens para o Twitter do papa – @pontifex – com o objetivo de mostrar o filme, que tem estreia marcada para 28 de março nos Estados Unidos e duas semanas depois na Itália. “É poderoso, fascinante e ressonante”, disse o ator em seu primeiro tweet. O segundo pedia aos seus 1,3 milhão de seguidores para o ajudarem a repercutir o convite ao papa. “Ajudam? Retuítem o anterior”, disse o ator, que, de acordo com a agência EFE, conseguiu que a conta do papa no Twitter recebesse sua mensagem mais de 500 vezes. O ator pediu desculpas ao papa pelo “caos” que causou e reiterou seu convite: “A sério, o filme Noé te fascinará”, declarou. E afirmou que seria seu “prazer mais profundo” levar o filme do diretor Darren Aronofsky à sua tela. A conta @pontifex não respondeu a Crowe, mas o porta-voz do Vaticano, Frederico Lombardi, teria comentado, no ano passado, que o papa não
assistia a filmes.

VIVA
Boa cena de Herson Capri (Ricardo) com Natália do Vale (Chica) na novela Em família (Globo).

VAIA
No entanto, a mesma cena poderia ter sido reduzida à metade por conta de diálogos dispensáveis. 

Tereza Cruvinel - Blefe ou crise‏

Blefe ou crise 
 
A rejeição do crime de quadrilha pela maioria do STF pode dar a Joaquim Barbosa um motivo para deixar a Corte em protesto 

 
Tereza Cruvinel
Estado de Minas: 27/02/2014


Há quem veja na fervura da base governista apenas uma TPE, tensão pré-eleitoral, como a resume o senador petista Jorge Viana (AC). E há quem ouça nos movimentos recentes uma marchinha insolente, antecipando uma ruptura de consequências eleitorais na maior aliança partidária já construída na democracia contemporânea, marcada pelo nefasto e inescapável presidencialismo de coalizão. Até junho saberemos se o movimento é irrelevante ou se tem força para alterar de algum modo o fluxo das águas. Certo é que ontem, para dizer que não estão brincando, os rebeldes do chamado “blocão” fizeram farinha da vasta maioria governista: o PT ficou literalmente sozinho, garantindo apenas 80 votos na tentativa de retirar de pauta a proposta de criação de comissão especial para investigar denúncias contra a Petrobras.

É razoável supor que a oposição hoje tenha 100 votos, nela incluído o Solidariedade, que surgiu no ano passado como lasca da base. Restariam assim ao governo, teoricamente, 413 votos numa casa de 513. Tal maioria formou-se a partir da coligação de 10 partidos reunidos em 2010 pelo ex-presidente Lula para apoiar a candidatura Dilma. Coligação tão grande, nem ele teve. Mas há muito tempo o governo não desfruta, na Câmara, do conforto que tal maioria deveria propiciar. Raramente a Casa funciona com todos os deputados presentes, mas estas são as contas que permitem enxergar melhor a floresta do plenário. Na votação mencionada, por exemplo, o outro lado reuniu 261 votos, misturando oposição e “blocão”, um ajuntamento de governistas dispostos a votar contra o Planalto.

Quando inclui o blocão entre os eventos da TPÈ, Jorge Viana refere-se à angústia de partidos e parlamentares nesta época, forjada pela necessidade que têm de renovar seus mandatos para sobreviver politicamente. Para isso, precisam mostrar às bases que conseguiram levar obras e benefícios aos municípios. Dilma, entretanto, não os chama para a entrega de patrolas e retroescavadeiras. Querem ter seus nomes na lista dos que votaram a favor de projetos de apelo popular, mas aí o Planalto tranca a pauta porque tais propostas lhe trariam problema. A demora da presidente Dilma em concluir a reforma ministerial e os impasses para a formação das alianças nos estados também contribuíram, diz Viana, para esquentar o caldo de insatisfações. Logo que tudo isso for equacionado, diz ele, as coisas vão serenar: “O maior engenheiro que eu conheço é o sucesso. Nenhum aliado vai querer romper com um governo bem avaliado e uma presidente que tem elevadas chances de se reeleger, até mesmo no primeiro turno”.

Pode ser mesmo que tudo se dissipe mesmo quando o vento da campanha começar a soprar. Mas se no meio do caminho acontecer um grave fato imponderável, encontrará o governo com sua base de sustentação literalmente esfarelada. E o imponderável pode ser, inclusive, o surgimento de uma candidatura que empolgue o eleitorado. Embora hoje, segundo as pesquisas, os que estão colocados não venham conseguindo fazer isso, e boa parte dos que desejam mudanças prefiram que elas ocorram com o próprio PT no poder.

Agora já foram todos para a carnaval. Os rebeldes contentes com a malcriação cometida e os petistas reclamando de aliados tão ingratos. A sério, nas cercanias petistas muita gente já se pergunta se vale a pena manter a aliança com o PMDB, líder da rebelião.


Sem quadrilha
“Para mim tanto faz”, disse o ministro Joaquim Barbosa na semana passada. Mas ontem, não foi isso que ele demonstrou, quando ficou claro que o crime de quadrilha deve ser rejeitado pela maioria do STF no julgamento dos embargos infringentes dos réus da Ação Penal 470. Se tal resultado se confirmar, há quem pense que Barbosa pode valer-se do desfecho para antecipar sua saída, declarando-se decepcionado. Para ser ou não candidato a cargo eletivo.

O ministro José Roberto Barroso pode não ter ouvido ou talvez tenha preferido ignorar, para reduzir a celeuma, a mais grave acusação que lhe fez Barbosa ontem. Depois de classificar seu voto como político e não jurídico, acusou-o de já ter chegado ao Supremo com ele pronto. Que talvez já o tivesse preparado antes de lá chegar. Ou seja, que tenha sido indicado para dar um voto que reduzirá as penas e dará discurso ao PT e aos críticos do julgamento. Barroso, na réplica, passou ao largo.


Deveria ter futuro
O que há de nefasto no sistema brasileiro de reeleição – e foi o ponto mais criticado da emenda apresentada e aprovada pelos aliados do ex-presidente Fernando Henrique em 1997 – é a permissão para que os governantes, em todos os níveis da Federação, disputem o segundo mandato no cargo. Ou seja, desfrutando de todas as vantagens proporcionadas, que vão da maior exposição pública à execução do orçamento, sem falar no uso do aparato do poder, ampliando a desvantagem dos candidatos de oposição. Fora isso, a possibilidade de recondução de um governante bem avaliado tem aspectos positivos. Evita a descontinuidade, assegurando a conclusão ou aprofundamento das políticas públicas implantadas, que, muitas vezes, dependem de maior tempo de maturação e desenvolvimento para dar frutos.

Hoje é dia de Adélia - Carlos Herculano Lopes

Hoje é dia de Adélia 
 
Quem for ao lançamento do livro de poemas Miserere, no Teatro Sesiminas, terá a chance de ouvir Adélia Prado lendo versos que falam das miudezas, mistérios e encantos da vida 
 
Carlos Herculano Lopes
Estado de Minas: 27/02/2014


 (Marcos Vieira/EM/D.A Press)

Já em contagem regressiva para comemorar seus 80 anos, que serão completados em 2015, Adélia Prado está entre os grandes poetas vivos deste país, ao lado de Manoel de Barros, Ferreira Gullar e Affonso Romano de Sant’Anna. Miserere, seu último livro, só vem confirmar uma certeza: sua poesia, que continua a dialogar com o religioso e a passagem do tempo, está mais madura – e um pouco mais triste. Com maior desprendimento, a autora discorre sobre lembranças familiares e a inevitável presença da morte.

“Nasci melancólica, antes do baile já vejo os dançarinos chegando em casa cansados com os sapatos nas mãos. Poeta já nasce velho. Sou chegada a lágrimas no meio da maior alegria”, diz a escritora mineira em depoimento que é pura poesia – assim como será ouvi-la hoje à noite, no Teatro Sesiminas, onde lançará Miserere a convite do projeto Sempre um papo.

Esses sentimentos, provavelmente, acompanham Adélia desde a infância em Divinópolis, onde nasceu em 13 de dezembro de 1935. A escritora só sai de lá de vez em quando – mesmo assim, muito rapidamente – para falar de sua obra pelo Brasil. “Sou espantada com a vida, com suas miudezas, com seus altiplanos, seu mistério, seu infinito encanto”, confessa ela.

O livro de estreia, Bagagem, considerado um clássico da literatura brasileira, foi lançado em 1976, depois de a autora ter sido descoberta por Affonso Romano de Sant’Anna. Ele a apresentou a Carlos Drummond de Andrade, que apadrinhou a novata no mundo literário. Dois anos depois de Bagagem, Coração disparado foi agraciado com o Prêmio Jabuti. Em 1987, a atriz Fernanda Montenegro encantou o Brasil com a encenação do espetáculo Dona Doida, baseado em textos da mineira.

Adélia escreveu romances como Solte os cachorros, Cacos para um vitral e Terra de Santa Cruz, entre outros. Destacou-se na literatura infantojuvenil com Quero minha mãe e Carmela vai à escola.

Letícia Malard, professora emérita de literatura brasileira na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), diz que Adélia Prado está entre os maiores poetas brasileiros da atualidade. De acordo com a especialista, a autora consegue, de uma forma que encanta os mais diferentes leitores, “articular o modernismo com o pós-modernismo em seus versos”.

Antes do alvorecer


O morto não morre,
não há colo nem cruz
onde repouse o que palpita cego
e lancinante pervaga.
Sei que me olha de uma fenda quântica,
mas eu o queria aqui junto comigo,
delirante, fraco, mas comigo,
junto comigo, o meu querido irmão.
Numa carta longínqua me escreveu
“Somos de Deus, irmã”.
Uma bela antífona ao choro desta noite
até que chegue a manhã.


. Poema de Miserere, livro de Adélia Prado

SEMPRE UM PAPO

Teatro Sesiminas. Rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia. Hoje, às 19h30. Lançamento do livro de poemas Miserere (Editora Record), de Adélia Prado. Informações: (31) 3261-1501 e www.sempreumpapo.com.br

Três perguntas para...
Adélia Prado - Poeta


Como você vê a evolução da sua poesia desde Bagagem? Ficou mais triste, mais amadurecida? Como situar Miserere no conjunto de sua obra?
Mais triste, no sentido de que mais próxima de realidades que em Bagagem eu ainda não sentia na própria carne. Contudo, Miserere é uma poesia possível por causa da esperança que, graças a Deus, ainda me acompanha.

Como é fazer poesia nestes tempos tão complicados para o Brasil? Ela é uma espécie de alento?
Nos tempos cinzentos e complicados que vivemos atualmente, se não tivermos um canal de transcendência e significado como a poesia, a fé, o buraco da cratera pode aumentar a níveis insuportáveis e tragar todo mundo. Precisamos de uma ação política. Vamos procurar o que podemos agir e fazer.

Você continua acreditando no país, no nosso povo?
Acreditar significa esperança de uma saída. As nuvens estão pesadas e escuras. Espero o sinal que nos ponha em marcha para o caminho novo. Copa do Mundo, eleições? Deve haver algo além de queimarmos ônibus, matar pessoas e mentir a respeito de rigorosas providências: 12 anos de cadeia para mascarados. Então é assim? Somos obrigados a votar? Votemos. Somos obrigados a escolher? Vamos rezar, rezar muito e aguardar acordados a ordem para a batalha. 

Eduardo Almeida Reis - Biscoito belga‏

Biscoito belga
 
No Hemisfério Sul, biscoito belga é o produto mais parecido com a mulher do próximo, desde que palatável


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 27/02/2014

Bolacha em São Paulo, biscoito no Rio, sendo belga difere de tudo que se faz e se vende por aí. Biscoito belga é o primeiro beijo, é a mulher do próximo, é a terceira num final de tarde com gosto de quero mais.

België, Belgique, Belgien, Koninkrij België, Royaume de Belgique, Königreich Belgien é um país situado na Europa ocidental, membro fundador da União Europeia, 30.528 km2, cerca de 10,7 milhões de habitantes, línguas oficiais flamengo, francês e alemão.

IDH 0,898 (muito elevado), tem aptidão incomparável para fazer biscoitos, alguns à venda no Brasil nos raros supermercados decentes, além de meias e lenços de cambraia. Com o dólar a R$ 1,45 importei da Bélgica, através de um amigo que tem filha, genro e neto morando em Bruxelas, alguns pares de meias de cano longo para trabalhar na TV e uns tantos lenços de cambraia, tão finos que não tenho coragem de usar. Diz o fabricante que o seu estoque de cambraia de linho tem 130 anos. Acreditei, porque acredito em tudo que me dizem, com exceção da Copa das Copas.

Mas o biscoito belga – senhoras e senhores do Egrégio Conselho Leitoral – é diferente de tudo que o brasileiro entende por biscoito. Novidade para o respeitado e anoso philosopho foi a fabricação na capital de todos os mineiros de um biscoito belgo-belzontino excelentíssimo, mil vezes mais belga do que mineiro, produzido pelo casal Bertrand e Ernestina na Rua Orenoco, Bairro Cruzeiro.

Não conheço o casal, nem sei o nome de sua loja. Ganhei de Danielle e Lauro Diniz um pacote de biscoitos variados quando andei hospitalizado em BH. Posso garantir ao guloso e preclaro leitor que o produto é de primeiríssima qualidade e vale uma ida à Rua Orenoco, que também não conheço.

No Hemisfério Sul, biscoito belga é o produto mais parecido com a mulher do próximo, desde que palatável. Sim, porque tem cada bagulho por aí que mais parece bolacha paulista ou ministra catarinense, aliás nascida em São Paulo.


Implicâncias
Não gosto de certa imprensa que vive implicando com os nossos homens públicos. Esquecida dos inúmeros serviços prestados ao país pelo ministro Lobão, certa mídia vive dizendo que ele nada entende de Minas e Energia, quando é sabido que o ilustre maranhense é craque no premer os interruptores de sua residência brasiliense, dispositivos pelos quais se interrompe, de forma reversível, a passagem de um sinal em um circuito elétrico ou eletrônico. É aquele treco que fica na parede permitindo ligar ou desligar as luzes do quarto, da sala, do banheiro.

Apesar de ter construído com recursos próprios mini-hidrelétrica nas serras fluminenses, nada entendo de eletricidade. De gado manjo à beça e à bessa e sei que uma dose de sêmen do touro nelore Karvad chegou a ser vendida por R$ 14.140 – quatorze mil, cento e quarenta reais. Por quê? Ora, porque o finado Karvad tem sido considerado o fundador ou um dos fundadores do moderno nelore brasileiro.

Julga-se o valor da dose de sêmen de um touro pelos filhos que produziu e talvez seja capaz de produzir. Pais de porcarias machos e fêmeas não valem absolutamente nada, a não ser no açougue. Se há filhos bons e ótimos produzidos com o seu sêmen, o valor da dose aumenta proporcionalmente.

Fosse touro, o ministro teria valorizadíssimas as doses do seu sêmen, não por seus conhecimentos de minas e energia, que se limitam ao premer dos interruptores, mas pelo fato de ter produzido o senador Lobão Júnior, glória da política brasileira. O resto é implicância midiática.


O mundo é uma bola
27 de fevereiro: faltam 307 dias para acabar o ano, que parece ter começado ontem e depois de amanhã, sábado, já estaremos no dia 1º de março. Vocês devem estar lembrados daquele cavalheiro que entrou numa igreja católica em Guarulhos (SP) no momento do batizado de seu filho de 6 anos, para matar a mãe do menino, sua ex-mulher, e o atual companheiro dela. Jornais e tevês estamparam fotos do autor dos disparos presenciados pelos fiéis que estavam na igreja. Foi o bastante para a repórter da GloboNews informar ao telespectador que a polícia estava procurando o “suspeito”. E ninguém diz nada, ninguém fala nada, ninguém puxa a orelha da repórter.

Em 1510, Afonso de Albuquerque conquista Goa. Oliveira Martins, historiador português, disse que o império de Portugal no Oriente foi um feio monumento de ignomínia. Cabe a pergunta: que império não foi um feio monumento de ignomínia? Todo império é ignominioso.

Em 1594, Henrique IV é coroado rei da França. Quando andei estudando aquele período, li que um dos reis franceses não tomava banhos e fedia a carne estragada, sob o forte argumento de que homem deve catingar. Em 1700, os europeus descobrem a Ilha de Nova Bretanha, que tem 35.144 km2 e fica na Papua-Nova Guiné.

Em 1844, a República Dominicana consegue livrar-se do Haiti, que continua sendo o Haiti.

Hoje é o Dia do Livro Didático e do Agente Fiscal da Receita Federal.


Ruminanças
Não é triste mudar de idéias; triste é não ter idéias para mudar” (Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Barão de Itararé, 1895-1971).

Cidadania e a nova classe média‏

Cidadania e a nova classe média 
 
Estado de Minas: 27/02/2014


Em magistral artigo recentemente publicado, o economista Eduardo Giannetti, doutor pela Universidade de Cambridge, depois de lembrar os avanços da sociedade brasileira nos últimos 20 anos, graças à estabilidade econômica e às políticas de inclusão social, cunhou uma frase que ecoa como verdadeiro anátema sobre a realidade atual do país: “Nossa 'nova classe média' ascendeu ao consumo, mas não ascendeu à cidadania.” Na sequência, para explicar sua conclusão, ele desfia alguns dados sobre os serviços públicos disponíveis à população, entre os quais se destacam a falta de coleta de esgoto em metade dos domicílios e o fato de que um terço dos egressos do ensino superior são analfabetos funcionais.

Efetivamente, os indicadores sociais brasileiros de agora, ainda que significativamente melhores que os de duas décadas atrás, não justificam a exagerada euforia que tomou conta de determinados setores, acostumados a creditar aos três últimos mandatos presidenciais a glória de ter elevado o Brasil à condição de potência mundial.

Ascender à quinta ou sexta colocação no ranking das maiores economias do mundo não combina, por exemplo, com a condição de segunda nação mais desigual entre os países do chamado G20; da mesma forma, o prestígio por assumir a presidência de um importante organismo econômico mundial não anula e nem pode mascarar a caótica situação do transporte nas grandes cidades e o deplorável estado da saúde pública em todos os quadrantes do país.

As duas décadas de estabilidade econômica, alcançada com o Plano Real, já seriam um lapso de tempo razoável para que as soluções estruturais de nossos principais problemas sociais já tivessem sido, pelo menos, encaminhadas. Mas o que se viu, entretanto, após a consolidação dos fundamentos econômicos do país, na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, foi a opção pelo caminho das providências de alcance imediatista, em geral de alto poder midiático, mas sem profundidade ou permanência.

O resultado é que, ultrapassada a fase ufanista com a “criação de uma nova classe média” e outras tiradas mercadológicas do mesmo gênero, a sociedade percebeu que seus grandes problemas não estavam resolvidos e nem sequer bem encaminhados. Está aí, certamente, a gênese da insatisfação popular que desencadeou as grandes mobilizações de rua, iniciadas em junho passado, e que se espalharam, se ampliaram e ameaçam fugir de todo controle pela falta de respostas e atitudes convincentes, mais uma vez substituídas por iniciativas meramente propagandísticas.

Esse é o cenário, preocupante, que está a exigir de todos, mais do que reflexões profundas, a efetivação de propostas consequentes, que ataquem na raiz nossos sérios problemas sociais e sejam capazes de fazer com que não apenas nossa nova classe média, mas toda a população brasileira ascenda à cidadania plena.

O câncer e a terceira idade

O câncer e a terceira idade
Aumento da população idosa exige investimento na rede de assistência 
 
Sandro Lana
Oncologista
Estado de Minas: 27/02/2014


Por ocasião do Dia Nacional do Idoso, comemorado hoje, torna-se relevante fazer algumas reflexões acerca do crescimento no Brasil dessa parcela da população. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística mostram que o total de pessoas com mais de 65 anos de idade deverá quadruplicar nos próximos 47 anos. Esse montante passará de 14,9 milhões em 2013, para 58,4 milhões em 2060, o que deverá representar à época cerca de 26% da população total. O lado ruim da alta longevidade é que, vivendo mais, as pessoas têm mais probabilidades de desenvolver doenças como o câncer. O fato de o organismo estar permanentemente dividindo suas próprias células já é um fator de risco para o idoso. Isso porque, durante esse processo, é comum que ocorram alterações no material genético que, em condições normais, são corrigidas e eliminadas pelo sistema imunológico. No entanto, nos idosos, isso nem sempre ocorre de forma ideal, o que contribui para o crescimento excessivo e desordenado das células, quadro que leva ao aparecimento do câncer.

Esse cenário representa um desafio para os serviços públicos e privados de saúde no que diz respeito ao controle do câncer, que tem uma incidência 11 vezes maior dentro dessa faixa etária, em comparação aos mais jovens, segundo levantamento da ONU. A situação se complica devido ao fato de que grande parte da população idosa apresenta doenças concomitantes, que dificultam o tratamento oncológico. Some-se a isso a escassez de estudos clínicos que mensurem a tolerância dos idosos a essas intervenções médicas. Nessa fase da vida, os cânceres mais predominantes são os tumores de pele, ginecológicos e de mama. Nos homens, o acometimento da próstata e vias urinárias também são bastante comuns. Embora tenham causas multifatoriais, os cânceres nos idosos são majoritariamente causados por hábitos e estilos de vida, o que reforça a importância de uma medicina preventiva que ampare essa população. Sendo assim, nunca é demais reforçar que existem exames para detecção precoce e, como mamografia para o câncer de mama; colonoscopia e sangue oculto nas fezes para o intestino; exame ginecológico para o colo uterino; avaliação do dermatologista para a pele; além da consulta com o urologista para o câncer de próstata. Com o crescimento da população idosa, os serviços de saúde dedicados ao tratamento do câncer deverão também investir de forma mais consistente em equipes multidisciplinares que envolvam oncologistas, geriatras, cardiologistas, nutricionistas e psicólogos. Além disso, a participação da família e amigos é vital para dar o suporte emocional necessário durante o tratamento, que tende a ser longo e desgastante.

Felizmente, os idosos cada vez mais têm adotado um estilo de vida mais saudável, o que inclui a prática de exercícios físicos, alimentação balanceada e abandono do tabagismo. Ainda assim, fatores acumulados ao longo da vida, como a obesidade, o sedentarismo, abuso do álcool e até poluição, podem favorecer o aparecimento e desenvolvimento da doença. A alta ocorrência do câncer na terceira idade alerta toda a sociedade e a classe médica sobre a importância do diagnóstico precoce e início célere do tratamento. Atualmente, a medicina dispõe de um arsenal de recursos para curar a doença ou, ao menos, garantir ao paciente a máxima qualidade de vida. Só assim teremos chances de controlar uma doença que cresce assustadoramente em todo o mundo. 

PENSÃO ALIMENTÍCIA » Prisões em alta, polêmica também

PENSÃO ALIMENTÍCIA » Prisões em alta, polêmica também
 
Média de detidos em Minas por débito com ex-companheiras tem salto de quase 30% no começo de 2014. No Congresso Nacional, debate sobre o relaxamento da punição a devedores é intenso

Tiago de Holanda

Estado de Minas: 27/02/2014





A média de prisões por não pagamento de pensão alimentícia teve um salto de quase 30% em Minas neste ano. Nos primeiros 56 dias de 2014 houve 923 detenções, média de 16,5 por dia, segundo a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds). Em cinco anos, a maior média diária tinha sido de 13,3 em 2011, quantidade que vinha caindo, para 13 em 2012 e 12,8 no ano passado. O aumento ocorre em meio ao debate sobre o relaxamento nas normas para a detenção dos devedores, que hoje é cumprida em regime fechado, mas pode ser alterada para o semiaberto. A votação das novas regras, que estava prevista para esta semana na Câmara dos Deputados, ficou para depois do Carnaval, mas os números mineiros dão a dimensão do potencial de polêmica da proposta.

Se a média diária de prisões em 2014 se mantiver até dezembro, o número de detidos superará os 6 mil, bem mais que o registrado em 2013 (4.691), 2012 (4.767), 2011 (4.865), 2010 (4.519) e 2009 (3.331). Na tarde de ontem, havia no estado 182 presos por débito com a pensão alimentícia, segundo a Seds. Diante do aumento, a Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi) mantém em pauta o projeto de construir o Centro de Referência para Devedores de Alimentos, com cerca de 100 vagas só para esse tipo de infrator. A proposta vem sendo cogitada pelo menos desde 2012, mas ainda não há prazo nem local definido para a construção da nova unidade.

No estado, esses presos ficam em celas separadas dos demais internos, embora isso não seja exigido em lei. Na região metropolitana, os devedores ficam no Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) da Gameleira, na Região Oeste de BH. A determinação de que os detidos por dívida de pensão não sejam alojados junto a presos comuns nem fiquem em regime fechado está prevista no projeto do novo Código de Processo Civil, cujo texto-base foi aprovado pela Câmara dos Deputados em novembro de 2013. A proposta estabelece que os devedores fiquem em regime semiaberto – em que podem trabalhar fora da cadeia durante o dia, mas devem retornar para pernoitar –, pelo período de um a três meses. O regime fechado, com reclusão em tempo integral, só seria cumprido em caso de reincidência, se o infrator voltasse à inadimplência.

O código atual define que, três dias após ser intimado pela Justiça a quitar a dívida, o inadimplente seja preso em regime fechado. Ele se salva da punição se pagar o que deve, se provar que já quitou a dívida ou se justificar a impossibilidade de fazer o pagamento. Em Brasília, a bancada feminina na Câmara tenta manter as regras, com a condição de que o preso seja separado dos internos comuns. As parlamentares defendem que o plenário aprove emenda da deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) e têm o apoio do relator do projeto, Paulo Teixeira (PT-SP). “Essa prisão é uma estratégia para que a pensão seja paga. Há muitas pessoas que ficam relutantes, mas, quando vem a decretação de prisão, o dinheiro aparece imediatamente. A mudança para o regime semiaberto provocará perda na força da cobrança”, avalia Teixeira.

QUEDA DE BRAÇO A questão gera polêmica entre os congressistas. O deputado Fábio Trad (PMDB-MS), presidente da comissão especial que apreciou o projeto do novo código, defende o regime fechado apenas para reincidentes. “O semiaberto me parece o remédio mais equilibrado. Ao longo do dia, o preso terá mais condições de buscar recursos para pagar o débito. Como o devedor sofrerá restrição de liberdade, não acho que se sentirá estimulado a não pagar a pensão”, avalia. Apesar da falta de consenso, o advogado Dierle José Coelho Nunes, que participou da comissão como jurista, observa a tendência de o regime fechado ser mantido. “As negociações nas últimas duas semanas estão caminhando para a preservação dessa regra”, diz ele, professor da Faculdade de Direito da UFMG e da PUC Minas.

Nunes é contrário à implantação do regime semiaberto. “Ele é uma forma menos coercitiva de obter o pagamento da obrigação”, aponta. É a mesma opinião de Newton Teixeira Carvalho, que foi juiz da 1ª Vara de Família de BH por 14 anos e hoje é desembargador da 13ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas. “Com o semiaberto, a pessoa pode preferir cumprir a punição do que pagar. O regime fechado funciona. Vi muitos casos em que, com a ameaça de prisão, o dinheiro surgiu imediatamente ou, pelo menos, o devedor sugeriu o parcelamento da dívida”, opina. A avaliação é reforçada pelo presidente do Instituto Brasileiro de Direito da Família, Rodrigo da Cunha: “A maioria dos inadimplentes tem condições, mas não paga por má vontade, irresponsabilidade. Com o semiaberto, pode ser que se sintam pouco pressionados”.

A regra atual pode ser rígida, mas nem sempre funciona. Prova disso é o caso de Margaret Luiz Procópio, de 39 anos, que foi abandonada pelo ex-marido aos cinco meses de gravidez. Primeiro, ela entrou na Justiça para que a paternidade fosse reconhecida, o que ocorreu em 2007, após um exame de DNA. O valor da pensão foi fixado pelo juiz em 40% de um salário mínimo. “Ele falou que ajudaria, mas nunca deu um centavo. Foi por má vontade, não por falta de dinheiro”, afirma. A mulher, que sobrevive fazendo faxina e lavando roupas, voltou a acionar a Justiça para exigir o pagamento da pensão, mas a inadimplência prosseguiu. Em novembro de 2012 foi expedido mandado de prisão, mas até hoje a Justiça não localizou o devedor. A filha de Margaret já tem 11 anos.