Human rights
No Ceará, o verbo humanizar também significa amansar animais
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 05/02/2014
Direitos humanos
foram pensados para humanos, coisa que muita gente da espécie Homo
sapiens não é. No Ceará, o verbo humanizar também significa amansar
animais, coitados, que muitas vezes são muito mais humanos que a maioria
dos chamados humanos. Maioria esmagadora – é bom que se diga. Quando
juiz da Infância e da Juventude em Montes Claros, em 1993, o hoje
desembargador Rogério Medeiros constatou que não havia naquela cidade
norte-mineira instituição adequada para acolher menores infratores. Um
grupo de três adolescentes praticava reiterados assaltos. “Apreendidos”
pela polícia, o juiz tinha de soltá-los. Depois da enésima reincidência,
valendo-se de um precedente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o
juiz determinou o recolhimento dos “pequenos” assaltantes à cadeia
pública em cela separada dos outros presos. Foi o bastante para receber a
visita de um grupo de defensores dos direitos humanos, por coincidência
três ativistas, exigindo que o magistrado liberasse os menores. Em face
da negativa do juiz, ameaçaram denunciá-lo à imprensa, à corregedoria
de Justiça e até mesmo à Organização das Nações Unidas (ONU). Diante
disso, o juiz chamou o escrivão e ordenou a lavratura de três termos de
guarda: cada ativista levaria um dos menores para casa, com toda a
responsabilidade delegada pelo magistrado. Sabe o leitor qual foi a
reação dos três? Se despediram e saíram correndo do fórum. Não
denunciaram o dr. Rogério a entidade alguma, não ficaram com os menores,
nunca mais honraram o juiz com suas visitas e os bandidinhos
continuaram presos.
Palavras
O árabe
hispânico tem alqawwád, derivado do árabe clássico qawwãd, que foi parar
no espanhol como alcahuete,ta e resultou no português alcaguete. Em
espanhol significa pessoa que encobre ou facilita uma relação amorosa
geralmente ilícita; pessoa que serve para encobrir o que se quer
ocultar; pessoa que leva ou traz notícias falsas ou verdadeiras, e mais
duas acepções relacionadas com o teatro. Do espanhol chegou-nos
alcaguete, homem que intermedeia encontros com prostitutas (cáften) e o
substantivo de dois gêneros alcaguete: “pessoa que denuncia ou delata
outrem, informante da polícia, dedo-duro”. É muito de desejar que as
comissões da Verdade empenhadas no esclarecimento dos crimes praticados
pelo regime militar de 1964, em que o cálculo do número de mortos oscila
de 126 a 32.411.057, dos quais já foram perfeitamente identificados 57 –
comissões constituídas até na Câmara Municipal de São Paulo, como se
vereador paulistano tivesse competência para investigar qualquer coisa –
é muito de desejar que as comissões se debrucem sobre a lista dos
alcaguetes do Dops paulista no tempo em que foi dirigido pelo delegado
Romeu Tuma (1977-1982).
Roceiras
Lembrei-me
de um caso acontecido no Rio de Janeiro há muitos anos – e bota anos
nisso, diante da matéria publicada no caderno Agropecuário do EM, de 13
de janeiro. Nela, cuidaram dos brasileiros que preferem trabalhar na
roça, onde têm casa, luz, água, salário, horta, pomar da sede e leite,
quando a fazenda é leiteira, além dos remédios pagos pelo patrão, como
sempre paguei, distância dos trens e ônibus urbanos, bem como dos
barracos das “comunidades”. Antônio Eugênio Basílio, coronel-aviador,
tinha casa na Urca e uma fazenda no Pantanal do Mato Grosso do Sul.
Certa feita, levou um peão pantaneiro ao Rio de Janeiro para acompanhar
uma tropa de cavalos crioulos remetida do Rio Grande do Sul. Do Rio de
Janeiro, os cavalos seguiriam de trem até Corumbá (MS) e de lá até a
fazenda, numa balsa própria para transporte de gado. Enquanto aguardava a
chegada da tropa, o peão de 23 anos não arredou pé da casa da Urca.
Passava os dias inteiros debruçado ao muro espiando a rua, que não tinha
muito movimento. O coronel lhe deu bom dinheiro para conhecer o Rio,
mas o peão fincou os cotovelos no muro e não saiu da casa. Perguntado
por que não ia à praia ou à zona, o rapaz explicou que sentia saudades
do Pantanal: “Lá é mais alegre”.
O mundo é uma bola
5
de fevereiro de 176: término da Terceira Guerra Púnica, que culminou
com a destruição de Cartago. Depois dessa batalha, parece que Cartago
desandou a prosperar. Vai daí que M. Pórcio Catão terminava todas as
suas intervenções no Senado romano com a seguinte recomendação: Cetero
censeo Carthaginem esse delendam. Os senadores que entendiam latim
sabiam que Catão tinha dito: “Aliás, sou de opinião que Cartago deve ser
destruída”. Sim, porque é de se presumir que o Senado romano tivesse
muitos senadores fracos em latim, assim como há inúmeros senadores quase
analfabetos na Câmara Alta de um país grande e bobo. Falei “quase”?
Esquece. Bota analfabetos de pai e mãe. Em 1597, crucificação dos 26
mártires do Japão, um dos vários grupos de cristãos mortos na cidade de
Nagasaki por determinação de Toyotomi Hideyoshi durante a perseguição ao
cristianismo promovida pelo Xogunado de Tokugawa. Os 26 foram
beatificados em 1627 e canonizados em 1862. Há 28 santos na lista da
Wikipédia, não me perguntem por quê. Em 1915, Pancho Villa assume o
poder militar e civil do México. Nascido José Doroteo Arango, o general
Pancho Villa era um bandido para ninguém botar defeito, casou-se várias
vezes, teve filhos com inúmeras mexicanas, foi morto numa emboscada em
1923. Em 1985 nasceu Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro, o Bola de Ouro
da Fifa 2014. Hoje é o Dia do Datiloscopista.
Ruminanças
“Nunca
desista do seu sonho. Se acabou numa padaria, procure em outra”
(Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Barão de Itararé,
1895-1971).
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