quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

FERNANDO BRANT » Dilma em Lisboa‏

FERNANDO BRANT » Dilma em Lisboa
Tá na chuva é pra se molhar, tá no sol é pra se queimar

Estado de Minas: 05/02/2014


A Dilma foi a Lisboa e não queria que ninguém soubesse. Se ela não fosse a presidente de nosso país seria natural e mesmo compreensível. Mas ela, quando admitiu exercer esse tipo de função política e burocrática, aceitou se expor à visitação pública. Qualquer coisica que é normal na vida dos cidadãos comuns não o é para os chamados altos mandatários. Vejam que estou utilizando vocabulário bastante politiquês e advoguês. São os ossos do ofício, minha nega. Tá na chuva é pra se molhar, tá no sol é pra se queimar.

Afinal, quem mandou você assumir o cargo? Pensava que era só o bem-bom das mordomias, o mandar em todo mundo que está à sua volta, viver de suas vontades? Nem tudo é perfeito. Existem os repórteres de todos os cantos do país, entrincheirados para flagrar qualquer deslize seu. Curiosos e bem-informados, eles ficam sabendo de tudo. Até das coisas íntimas. Não adianta fechar as portas, trancá-las. Todas as suas atitudes serão conhecidas. E publicadas.

Você confia mesmo nos ministros e auxiliares puxa-sacos, acha que eles não revelarão os segredos que prometeram ocultar? Mas se você acha de verdade que vale a pena, tanto que pretende concorrer à reeleição, pare de reclamar. A vida não é só doce, rosas e vinhos. Ela cobra sacrifícios e só porque você é a presidente não está livre dos desconfortos.

Também já fui a Lisboa, percorri a terra de Camões e Fernando Pessoa, admirando a gente amiga, irmã na língua e muitos costumes e cultura que cresci observando em minhas Minas Gerais. Não deveria ter de informar nada às autoridades sobre minhas andanças, não tenho as suas responsabilidades públicas. Mas a burocracia, esse mal maior da vida social, bisbilhota tudo. Não tem nenhum problema, pois sou cidadão acima de qualquer suspeita e cumpridor de minhas obrigações cívicas. O problema é que sou também ciente de meus direitos. Assim, não gosto nada de ter de passar pelos olhares da Polícia Federal, mostrando passaporte e destino de viagens. O que eles têm a ver com a minha vida particular?

Tá bom, como diria o meu neto Lucas. Mas se até esse simples escritor de canções tem de informar a quem de direito por onde deseja perambular, mesmo que seja, com mais tempo do que você, pelas ruas lisboetas, pelos restaurantes, pelo Tejo, sem se irritar muito com a interferência em sua vida, por que a maior autoridade do país se irrita quando descobrem que ela se escondeu? Não duvido que você tenha pago a conta, mas estamos de olho em você.
Transparência é a palavra da moda.

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