domingo, 6 de abril de 2014

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Onde está a felicidade?‏

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Onde está a felicidade?
Regina Teixeira da Costa

Estado de Minas: 06/04/2014




Aquilo que mais queremos está quase sempre à nossa frente, quase nunca em nossas mãos. Há momentos em que quase poderemos tocá-la, noutros, fica a quilômetros. Sempre além, por mais passos que caminhemos. Estará para nós como um oásis no deserto: alucinado por quem quase morre de sed

Quando pensamos que chegamos na beira d’água, ela aparece mais ali na frente, depois da próxima duna e, sucessivamente, só nos resta caminhar. Isso diz muito da impossibilidade de materializar um estado de felicidade.

A felicidade existe e é feita de momentos, espalhados no dia a dia, na confusão da vida. Fragmentos que permeiam nossos dias tantas vezes árduos.

Durante a breve vida, que em alguns momentos nos parece longa, são muitas as tarefas a cumprir para nos organizarmos minimamente. O tempo escoa, temos pressa e, no corre-corre do cotidiano, a lista de afazeres nunca se esgota.

Nem um dia dizemos que tudo está pronto, completo, agora é só desfrutar. Não. Enquanto viventes, seremos sujeitos a necessidades e forçados a consumir o tempo cuidando do lado prático.

Nunca poderemos abrir mão de trabalhar, ganhar e gastar o dinheiro, das necessidades do corpo, com o outro sempre presente para o bem ou para o mal. Buscar prazeres, dar sentido à vida por meio da leitura, do estudo, da família, do amor, de viajar, aprender, pensar... tudo isso ajuda, nos salva da melancolia.

Para ficarmos felizes, precisamos de muitas coisas, como ter o que fazer, a quem amar e ter objetivos. E de fato lutar para construir, a nosso modo, a vida que queremos ter. Não é fácil, mas não fazer nada é, com certeza, a opção menos interessante. Para os inertes, não há chance.

Estamos sempre ocupados com o cuidado da vida, e ela dá trabalho. Tudo dá trabalho. Até gozar de férias. Logo, só quando a terra nos for leve, como disse uma senhorinha antiga, é que o repouso e o descanso serão eternos.

Enquanto esse tempo não chega, estamos aqui nessa vida sujeitos ao bom e ao mau tempo, ao humor dos que nos cercam, aos ofícios mais diversos, aos tantos desejos que nos jogam de um lado para o outro, mudando sempre ao encontrarem a satisfação. Porque esta, quando tocada, já não nos satisfaz mais e é preciso ir mais adiante, atender novo convite.

E nestes tempos de consumo e altas ofertas, quase não temos o sossego de sentar para ver nuvens passando, cada uma com formato de algum bicho ou coisa. O tempo urge, se não ruge, e corremos aparvalhados para dar conta da vida. Cansativa, às vezes, mas perdê-la ainda é coisa pior, posto que ninguém de lá jamais retornou em carne viva para nos dizer o que há.

Só sei que o objeto de desejo é sempre metonímico, desliza numa linha do tempo e nela esse objeto que nunca está ali, está sempre situado em outro lugar, que é sempre outra coisa. E disso conversava com amigos quando um deles se lembrou do verso de Vicente de Carvalho:

“ Felicidade, árvore frondosa de dourados pomos. Existe, sim, mas nós nunca a encontramos porque ela está sempre apenas onde nós a pomos, e nunca a pomos onde nós estamos.” 

Nenhum comentário:

Postar um comentário