Uma CPI de amplo espectro será como um
ventilador na campanha eleitoral, voltado para os partidos dos três
principais candidatos a presidente
Estado de Minas: 06/04/2014
Na quarta-feira
passada, formou-se uma maioria de votos no STF a favor da supressão das
doações de empresas a partidos e candidatos nas campanhas eleitorais, em
votação interrompida pelo pedido de vista do ministro Gilmar Mendes.
Dificilmente ela será concluída antes do pleito de outubro, que mais uma
vez ocorrerá sob forte influência do poder econômico. No mesmo dia, nos
Estados Unidos, a Suprema Corte acabou com o limite individual das
doações, o que significará o aumento da influência do dinheiro já nas
próximas eleições legislativas americanas.
Enquanto isso, no
Congresso brasileiro, governo e oposição se engalfinharam na guerra das
CPIs que pode jogar lama sobre os partidos dos três principais
candidatos as presidente. Se for instalada a CPI de foco ampliado –
proposta pelos governistas para neutralizar a iniciativa da oposição, de
investigar apenas a Petrobras mirando a imagem da presidente Dilma
Rousseff –, não há dúvida de que sobrará para todo mundo. Nos maus
negócios da estatal, no cartel ferroviário sob a dinastia tucana em São
Paulo ou nas irregularidades pernambucanas no Porto de Suape, se houve
dinheiro desviado, pelo menos uma parte financiou políticos, partidos ou
candidatos. Por isso, os governistas resolveram ligar o ventilador, e a
oposição chia tanto contra a tentativa de ampliar o foco da CPI,
ameaçando ir ao STF.
A guerra das CPIs anuncia a adesão de todos
à tática da campanha negativa, baseada na desmoralização do adversário
para enfraquecê-lo. Os negócios estranhos da Petrobras estão para a
reeleição de Dilma como o mensalão esteve para Lula em 2006. Neste fim
de semana, o estrago deve ser anunciado por uma pesquisa Datafolha. Mas,
ligado o ventilador da CPI ampliada, Aécio Neves e Eduardo Campos
também podem ser alvejados, ou pelo menos seus partidos, chegando os
três feridos e lanhados ao horário eleitoral.
Aqui e em qualquer
país, está provado que, quanto mais o dinheiro domina a política, maior a
frequência de escândalos e, por decorrência, a decepção dos eleitores.
Na corte americana, os juízes conservadores que derrubaram o teto de
doações expressaram o ponto de vista do Partido Republicano, segundo o
qual o limite configura restrição à liberdade de expressão consagrada
pela Emenda Número 1 da Constituição. Os liberais, em sintonia com o
Partido Democrata, defenderam o teto como freio à influência dos mais
ricos e à corrupção. A lei americana fixava em US$ 123,2 mil o limite
para cada doador individual, agora derrubado. Em 2010, já havia sido
suprimido o limite para doações de empresas e de sindicatos. No STF, os
seis votos já proferidos indicam inclinação oposta, para a vedação das
doações de empresas. Mas, como campanhas custam dinheiro, e ele não
nasce em árvores, a contrapartida seria o financiamento público de
campanhas, que não acabará com a corrupção, mas pode contê-la,
proporcionando também mais igualdade aos candidatos na competição. Já o
Congresso não tem a menor simpatia pela ideia, preferindo a mancebia com
as empresas. Talvez porque, apesar dos escândalos, pelo menos para
alguns, sempre sobra algum.
As boas intenções
Nove
ministros, seis governadores e dezenas de secretários estaduais
deixaram os cargos, observando o prazo legal expirado ontem, para
concorrerem a cargos eletivos. A lei pode ser bem intencionada quando
exige o afastamento dos candidatos seis meses antes do pleito para
evitar o uso da máquina, mas tem pecados graves. É iníqua pois, ao
contrário do que exige de ministros e de secretários, permite que um
vice-governador assuma o posto e dispute novo mandato refestelado na
cadeira (e nas vantagens). É hipócrita, pois um ministro ou secretário
que vai ser candidato já fez o uso que bem quis do cargo ao deixá-lo em
abril para concorrer em outubro. E é administrativramente inconsequente
quando força a nomeação de gestores públicos para ficar no cargo apenas
nove meses, tempo que mal dará para esquentarem a cadeira e tomarem pé
da situação da pasta. Por essas e outras razões, se um dia houver por
aqui uma reforma político-eleitoral digna do nome, o chamado prazo de
desincompatibilização teria de ser ampliado para, no mínimo, um ano
antes do pleito. E, dos candidatos a prefeito, a governador e a
presidente, deveria ser exigido o licenciamento do cargo durante a
campanha para a reeleição, como propõe emenda constitucional já aprovada
pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado.
Outra máfia, outra CPI
Foi
longa a luta dos portadores de deficiência para que o SUS passasse a
lhes fornecer órteses e próteses, o que ainda exige, frequentemente, um
recurso judicial. Mas, como no Brasil tudo se desvirtua, acabou surgindo
uma máfia reunindo médicos, fabricantes e fornecedores que cartelizam
os preços de tais equipamentos. Os pedidos médicos e os gastos com eles
cresceram em proporção geométrica nos últimos anos. Uma prótese que
custa R$ 15 mil num estado sai por R$ 50 mil em outro. Os deputados
Rogério Carvalho (PT-SE) e Ricardo Izar (PSD-SP) estão coletando
assinaturas para uma CPI destinada a investigar essa máfia. Não tem o
apelo da CPI da Petrobras, mas pode tapar um sugadouro de recursos da
saúde.
Socorro seletivo
Os empresários
se movem para obter no Senado as mudanças que não conseguiram na Câmara,
no texto da MP 627. Querem estender a outros setores o refinanciamento
das dívidas tributárias contraídas até 2013, concessão limitada a
bancos, seguradoras e multinacionais. O relator, senador Francisco
Dornelles (PP-RJ), analisa mais de 600 emendas.
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