Zero Hora - 23/03/2014
Sempre fiquei intrigada com mulheres que posam para fotos virando-se de
costas, dando apenas uma espiadinha para a câmera por cima do ombro. Que
as Mulheres Melões e Melancias façam isso, é compreensível: estão
oferecendo às lentes o produto que as tornou famosas. Porém, no
sofisticado tapete vermelho, acontece o mesmo. Divas em seus vestidos
longos de grife oferecem ao mundo uma visão frente e verso, e não só a
bem torneada Jennifer Lopez, mas também sílfides como Anne Hathaway,
Cate Blanchett e Naomi Watts. Provavelmente para mostrarem suas
escápulas em um exclusivo decote Dior, para exibirem o colar da Tiffany
que pende pelas costas, para que reparem no corte de cabelo batidinho na
nuca, ou em alguma tatuagem, vá saber. Mas gosto de pensar que elas dão
essa viradinha por um motivo mais divertido: para provar que não há
fita crepe ajustando a roupa ao corpo.
Nem sempre as roupas que a gente vê nas revistas caem feito uma luva
no corpo das modelos. Aliás, quase nunca. Metros e metros de fita crepe
ajustam camisas, grudam vestidos na cintura, afunilam a perna da calça –
quando não esticam o pescoço da criatura ou puxam sua barriga, numa
espécie de cirurgia plástica instantânea. Acontece não só dentro dos
estúdios. Já escutei casos hilários de mulheres que foram flagradas em
festas com uma fita crepe escondida atrás da orelha, a fim de estender
uma pelezinha saliente que não deu tempo de remover com bisturi.
Estou exagerando, claro, mas nem tanto. Há uma frase célebre de
bastidor: não haveria cinema sem a fita crepe. E também não haveria a
fotografia, a televisão, as mostras de decoração e arquitetura. Todos os
expositores sabem que sem fita crepe não é possível construir uma
ilusão.
Sem desprestígio aos alfinetes, às joaninhas, aos pregadores de
roupa, aos clipes e demais acessórios de primeiros socorros de uma
produção, mas é inegável que fita crepe é o quebra-galho soberano:
funciona para tudo. Prende, cola, ajeita, segura, amarra. É o salvador
dos cenários, o braço direito dos iluminadores, e, como já se disse, a
melhor amiga dos figurinistas. Você não precisa ser atriz de Hollywood
para testar: basta conferir o efeito de uma camiseta exposta no manequim
da vitrine de uma loja e depois experimentar o efeito vestindo-a em
você mesma, dentro do provador. Pois é, alguns vitrinistas também
recorrem a essa espécie de “photoshop” artesanal.
Não pretendo ser estraga-prazer, ao contrário, espero estar salvando
seu dia: quando você for às compras e a roupa não cair tão bem no seu
corpo como cai no da Alessandra Ambrósio, não excomungue os deuses nem a
si mesma. Até as mais perfeitas das beldades, aquelas que ganham
milhões de dólares para fotografar com lingeries divinas, já contaram
com a ajuda bem terrena de uma fita crepe que custa menos de 10 reais.
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