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quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Governo suspende novas regras sobre mudança de sexo - Johana Nublat e Mariana Versolato

folha de são paulo
No mesmo dia, Ministério da Saúde reduziu idade mínima para realização da cirurgia e depois recuou
JOHANNA NUBLATDE BRASÍLIAMARIANA VERSOLATOEDITORA-ASSISTENTE DE "CIÊNCIA+SAÚDE"O Ministério da Saúde suspendeu ontem os efeitos de uma portaria que tinha novas regras para o acompanhamento de pessoas com transtorno de identidade de gênero e a realização da cirurgia de mudança de sexo no SUS.
A norma foi publicada no "Diário Oficial da União" de ontem, mas teve vida curta. Menos de 24 horas após a publicação oficial, o ministério soltou nota informando que a medida seria suspensa.
Folha apurou que o recuo ocorreu por insegurança sobre como lidar com o início da terapia hormonal aos 16 anos e pelo temor do impacto político de decisões que contrariam interesses das comunidades religiosas, incluindo a lei que prevê garantias à mulher vítima de violência sexual, como a oferta da pílula de emergência.
Se depender do Ministério da Saúde e outros órgãos do governo, a presidente Dilma Rousseff sancionará a lei sem vetos. Os evangélicos se mobilizam para que haja veto a uma parte da proposta.
A portaria só será revalidada quando forem definidos "os protocolos clínicos e de atendimento no âmbito do processo transexualizador", segundo informa a nota.
A regra previa a redução da idade mínima para a cirurgia de mudança de sexo de 21 anos para 18 anos. Também reduzia a idade mínima para o uso de terapia hormonal de 18 para 16 anos. Passariam a ser incluídos novos procedimentos no SUS, como a retirada das mamas e a terapia hormonal para mulheres.
Em nota, a pasta informou que vai convidar representantes de serviços de saúde para definir critérios de avaliação dos candidatos, de obtenção de autorização dos responsáveis e de acompanhamento multidisciplinar, tendo em vista um parecer do Conselho Federal de Medicina.
Esse parecer, no entanto, vai além do que estava previsto na portaria publicada e revogada pelo governo, ao propor a assistência precoce do adolescente com transtorno de identidade de gênero, permitindo que o bloqueio da puberdade por meio de hormônios antes dos 16 anos.
"AMADORISMO"
O psiquiatra Alexandre Saadeh, coordenador do Amtigos (Ambulatório de Transtorno de Identidade de Gênero e Orientação Sexual), do Hospital das Clínicas da USP, chamou o recuo de "amadorismo" e "retrocesso".
Segundo ele, o HC é o único hospital que acompanha crianças e adolescentes com transtorno de identidade de gênero formalmente, junto ao Ministério da Saúde.
"A portaria e os protocolos foram extensamente discutidos por mais de um ano e estava definidos desde o início de 2013. Houve tempo para discutir todas as minúcias", disse ele, que participou de discussões com o governo.
Antes do recuo do ministério, o médico havia elogiado as mudanças. "Foi uma batalha permitir a terapia hormonal a partir dos 16 anos. Isso evita o consumo de hormônios no mercado negro."
Pego de surpresa com o recuo, o presidente da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), Carlos Magno, lamentou.
"Essa portaria vem de um longo processo de discussão pelo ministério. Parece ser mais um recuo do Ministério da Saúde frente à pressão do setor fundamentalista."

    terça-feira, 16 de julho de 2013

    Ciência cosmética - Alexandre Dall'ara e Mariana Versolato

    folha de são paulo

    Cosméticos usam apelo de genes e células-tronco para atrair consumidor


     
    ALEXANDRE DALL'ARA
    DE SÃO PAULO
    MARIANA VERSOLATO
    EDITORA-ASSISTENTE DE "CIÊNCIA+SAÚDE"

    Pegando carona em pesquisas médicas e avanços recentes relacionados a células-tronco e terapia genética, empresas de cosméticos tentam conquistar o consumidor com um apelo "científico".
    Há produtos que se gabam dos supostos benefícios das células-tronco de uva e maçã. É o caso do Initialist (R$ 340), condicionador da Kérastase com ativos extraídos da macieira, e do creme facial Power Charge (R$ 2.300) da La Prairie, com algas e fitoextrato de uva suíça.
    Já o apelo "genético" aparece na linha Renew Genics da Avon e nos produtos Active, do Boticário.
    As tais células-tronco usadas nos cosméticos são de origem vegetal --na verdade, células meristemáticas, que têm função semelhante às células-tronco humanas (capacidade de se dividir e formar novas estruturas).
    Mas, segundo o biólogo e pesquisador do Instituto D'Or Daniel Furtado, esses fatores vegetais dificilmente teriam efeito em células humanas.
    "O que essas células-tronco podem fazer de diferente de um extrato vegetal comum?", questiona o biólogo, que atribui o uso das substâncias ao marketing.
    "As empresas se aproveitam do apelo popular da ciência para lançar esses produtos. Muitos consumidores até sabem que a publicidade é exagerada, mas o desejo de rejuvenescer os leva a buscar gratificação, na maioria das vezes, ilusória", diz o dermatologista Davi de Lacerda.
    João Hansen, presidente da Associação Brasileira de Cosmetologia, diz desconhecer o efeito das células-tronco vegetais, mas afirma que o benefício delas para a pele é "perfeitamente possível".
    "Se há ou não abuso na publicidade eu não sei dizer. Mas sei que as empresa de renome têm justificativa para o que estão falando, não agem só pelo modismo", afirma.
    REGULAÇÃO
    Para Lacerda, as empresas de produtos de beleza tentam conquistar o consumidor "manipulando termos na sua publicidade e nos rótulos". "A maioria das empresas maquia as informações no limiar da legalidade de cada país, que no caso dos cosméticos é bastante complacente."
    Cosméticos de baixo risco para o consumidor não passam por avaliação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) antes de entrar no mercado.
    Mas, segundo a agência, as fabricantes devem ter comprovação científica da eficácia dos produtos e podem ser responsabilizadas legalmente por afirmações enganosas.
    Em geral, os testes realizados pelas empresas são feitos com um número pequeno de voluntários que avaliam o efeito percebido do produto.
    "É muito subjetivo. O ideal seria comparar o produto real com outro placebo, sem eficácia", afirma Furtado.
    Sobre as novas tecnologias propagandeadas pela indústria, a Anvisa diz que não existe consenso científico.
    "No caso das células-tronco não há como comprovar a eficácia porque não há legislação que sustente o uso dessas substâncias", diz o gerente-geral de cosméticos da agência, Marcelo Sidi Gacia.
    Editoria de arte/Folhapress
    OUTRO LADO
    Em resposta às críticas sobre a eficácia dos cosméticos, as empresas afirmam ter testes para comprovar os efeitos dos produtos. Alegando sigilo industrial, nenhuma delas apresentou esses estudos.
    A Avon explica que a linha Genics é baseada em pesquisa da Universidade de Calábria (Itália) sobre um gene que estimularia a "longevidade da pele". Segundo a empresa, testes in vitro demonstraram que os produtos "auxiliam no estímulo à produção desses genes".
    O Boticário afirma que as células-tronco de origem vegetal são "usadas pelo mercado cosmético de maneira geral" e que seus produtos cumprem os requisitos de segurança e eficácia da Anvisa.
    A L'Oréal, responsável pela venda do condicionador Initialiste, afirma que a fórmula do princípio ativo Complex Régénérateur teve eficiência comprovada em testes in vitro.
    A representante da La Prairie no Brasil não respondeu aos questionamentos da reportagem.
    João Hansen, presidente da Associação Brasileira de Cosmetologia, diz que todos os produtos comercializados são baseados em alguma tecnologia e em testes em pessoas ou in vitro.

    segunda-feira, 13 de maio de 2013

    Anvisa propõe regras para a medicina chinesa


    JOHANNA NUBLAT
    DE BRASÍLIA
    MARIANA VERSOLATO
    Folha DE SÃO PAULO

    Durante três anos, os remédios da medicina tradicional chinesa serão avaliados em relação às prescrições feitas no país, às substâncias utilizadas, aos efeitos terapêuticos e às reações adversas.
    Ao final desse prazo, a conclusão pode ser registrá-los oficialmente, impor determinadas condições para seu uso ou, em último caso, bani-los.
    É o que propõe a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que abre uma consulta pública sobre o tema no início desta semana. A consulta, antecipada pela Folha em novembro, ficará aberta por 90 dias.
    Hoje, os compostos usados em tratamentos de medicina chinesa, que podem misturar substâncias de origem animal, vegetal e mineral, não têm registro no país porque não se enquadram em nenhuma categoria prevista: não são medicamentos, fitoterápicos ou alimentos.
    "Vamos poder conhecer um mercado que existe e, muitas vezes, fica obscuro porque a vigilância sanitária nega sua existência", afirma Dirceu Barbano, diretor-presidente da agência.
    Paralelamente, a Anvisa pretende trocar informações com a vigilância sanitária chinesa, que tem um setor que trata da medicina tradicional.
    DE ORIGEM ANIMAL
    Na consulta pública, a Anvisa propõe a proibição do uso de componentes de origem animal nos produtos a serem vendidos no país.
    Nas fórmulas chinesas pode haver pelos e até chifres e ossos de animais.
    "A legislação sanitária brasileira, quando envolve produtos de origem animal, é muito rigorosa e exigiria um conjunto de testes de qualidade que transformariam os produtos em medicamentos. Isso impediria que ficassem disponíveis segundo essa norma", diz Barbano.
    O hepatologista Raymundo Paraná, porém, se diz "extremamente preocupado" com a falta de exigência de estudos científicos que comprovem a segurança e a eficácia desses produtos.
    "É absurdo o movimento de legalizar esse tipo de produto sem a avaliação que a ciência médica exige. Afrouxar as regras para esse ou outro produto porque o uso é milenar é absurdo."
    Segundo Reginaldo Silva Filho, presidente da Escola Brasileira de Medicina Chinesa, a maioria dos compostos utilizados no país é de origem vegetal."Há alguns produtos importantes de origem animal, mas eles são bem menos usados. A proibição pode fazer com que alguns praticantes tenham de buscar alternativas dentro da farmacopeia chinesa", afirma.
    Já Márcio de Luna, do Instituto Brasileiro de Medicina Tradicional Chinesa, acredita que o ideal seria liberar esses produtos, contanto que os fabricantes seguissem uma exigência de boas práticas de manufatura.
    "A proibição criará um problema porque vamos ter que nos adaptar. Além disso, a censura abre margem para o mercado paralelo."
    A Anvisa também sugere que, durante os três anos de monitoramento, as empresas que adquirirem insumos para produzir compostos deverão cadastrar todas as substâncias no site da Anvisa.
    O cadastro deve conter ainda dados dos fabricantes, revendedores ou distribuidores dos insumos, caso eles não tenham sido obtidos diretamente do fabricante.
    "O cadastramento permitirá que a Anvisa possa ter um maior controle sobre eventuais falhas em lotes de produtos, por exemplo", completa Silva Filho.
    Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress
    + CANAIS

    sábado, 4 de maio de 2013

    Taxa de fumantes cai pela metade em São Paulo em 27 anos

    folha de são paulo

    DATAFOLHA, 30
    Em 1986, 40% dos moradores da cidade fumavam; agora, são 21%, segundo pesquisa
    Parcela de ex-fumantes ultrapassou a dos fumantes nos últimos 5 anos; 1.120 pessoas foram entrevistadas
    MARIANA VERSOLATODE SÃO PAULOA fatia de moradores de São Paulo que fuma caiu pela metade em 27 anos, segundo aponta pesquisa Datafolha com 1.120 pessoas.
    Hoje, 21% da população em São Paulo fuma, contra 24% em 2008 e 40% em 1986.
    Já os ex-fumantes agora são 24%, contra 21% em 2008, superando o número de fumantes. Mas a cidade ainda tem uma proporção de tabagistas maior do que a taxa nacional, que é de 14,8% de acordo com a pesquisa Vigitel (inquérito telefônico anual do Ministério da Saúde).
    As causas para a queda são as medidas de controle nas últimas décadas, segundo a cardiologista Jaqueline Issa, responsável pelo programa de tratamento de tabagismo do InCor (Instituto do Coração da USP).
    Ela cita a Lei Antifumo adotada no Estado de São Paulo em 2009, a proibição da publicidade de cigarros, a contrapropaganda nos maços, alertando para os malefícios do fumo, e a maior divulgação desses efeitos nocivos.
    "A população foi se educando. Os próprios fumantes sabem que faz mal e muitos passam a pensar em largar o cigarro por pressão social."
    Para Paula Johns, diretora-executiva da ONG ACT (Aliança de Controle do Tabagismo), porém, é preciso continuar avançando, principalmente em âmbito federal.
    "Se não forem adotadas novas politicas, as antigas começam a ficar estagnadas. A lei nacional que proíbe o fumo em locais fechados foi aprovada em 2011, mas não foi regulamentada."
    Um dos fatores que aumentam a chance de as pessoas fumarem é o nível socioeconômico mais baixo.
    E, segundo Issa, a pesquisa confirma essa informação ao mostrar que a população da zona leste, a menos desenvolvida de São Paulo, é a que mais fuma. Na região, 25% fumam, contra 18% da zona oeste e 20% da zona sul.
    Os paulistanos mais ricos (mais de 10 salários mínimos) são os que menos fumam (15%, contra cerca de 22% nas outras camadas) e os que mais pararam de fumar --30%, enquanto que, entre as demais faixas de renda, os ex-fumantes são 22%.
    A proporção de jovens de 16 a 24 anos que fumam caiu de 20% em 2008 para 14% em 2013. Ainda assim, de acordo com a cardiologista, é preocupante a taxa de iniciação do tabagismo, principalmente entre as meninas.
    Apesar de os homens fumarem mais que as mulheres (23% contra 19%), eles tendem a abandonar mais o fumo. "Para as mulheres, o cigarro está ligado à estética da magreza, há o medo de engordar ao parar", diz Issa.
    Ela afirma que o grau de dependência e o uso do cigarro como válvula de escape em circunstâncias adversas e estressantes também são maiores entre as mulheres.
    A maioria das pessoas para de fumar sozinha, mas tem aumentado a quantidade das que procuram tratamento medicamentoso, que inibe os sintomas da abstinência, de acordo com Issa.
    "Mas nenhum deles funciona se a pessoa não deseja parar de fumar, independentemente do motivo."
    Os fumantes também podem procurar apoio em terapia individual ou em grupo e nas palestras motivacionais.

      'Comecei a sentir vergonha de ser fumante'
      DE SÃO PAULOFaz dois meses que o tradutor Claudio Rondeico, 31, de São Paulo, abandonou o hábito de fumar que o acompanhava desde os 15 anos.
      Ele já tinha tentado dar um basta uma vez no vício, há oito anos, mas sem sucesso.
      "Acho que não estava tão decidido. E, na época, não tinha a vergonha que comecei a sentir nos últimos tempos."
      "Antes a gente podia fumar livremente com outras pessoas por perto, mas, quando comecei a ter que me afastar para fumar e vi que a minha fumaça não era bem-vinda, passei a refletir sobre isso e vi que tinha um porquê. E, se fazia mal para os outros, fazia para mim também."
      A preocupação com a namorada e o sobrinho recém-nascido pesou. "Não queria que sentissem o cheiro de cigarro em mim."
      Claudio definiu uma data para largar o cigarro de vez: 28 de fevereiro. Entregou seu último maço de cigarros para a namorada e disse que tinha parado. Não usou medicamentos nem repositores de nicotina, como adesivos.
      "No primeiro dia, cheguei a chorar, foi terrível", conta. Ele também teve dificuldades para se concentrar.
      "Agora já me sinto fisicamente mais disposto, a qualidade do meu sono melhorou. Mas acho que não fiz mais do que a minha obrigação. Não nasci fumando, eu é que fui atrás do cigarro. Embora eu sinta vontade às vezes, é uma decisão sem volta. Dei um check' no item parar de fumar' da minha lista."
      COM APOIO
      Já a contadora Lilian Barbarelli, 42, parou de fumar em agosto de 2012 depois de assistir a uma palestra motivacional na empresa onde trabalha.
      "O estresse estava me fazendo fumar mais e, às vezes, fumava tanto que até passava mal. Tinha consciência de que precisava parar, mas não tinha forças. Achava que era mais fácil morrer do que largar o cigarro", conta.
      Lilian diz que assistiu à primeira palestra com muita resistência. Na segunda apresentação, diz, foi com o "espírito mais aberto".
      "Você pensa que não consegue, que vai morrer se parar, mas é possível. Aprendi que não dependia do cigarro, que era mais forte do que aquela coisinha. Essa é a mágica. Quando você tem apoio, é mais fácil ir adiante."
      Hoje, ela diz ter a sensação de que nunca fumou. "E tenho certeza de que vou viver muito mais."

        terça-feira, 30 de abril de 2013

        Remédio reduz em 38% risco de câncer de mama

        folha de são paulo

        MARIANA VERSOLATO
        DE SÃO PAULO

        Uma revisão de estudos com dados de mais de 83 mil mulheres apontou que moduladores hormonais reduzem em 38% o aparecimento do tumor em mulheres saudáveis com alto e médio risco de desenvolver a doença.
        Trata-se da primeira análise de estudos clínicos envolvendo esses remédios, que evitam que o estrogênio faça as células da mama se multiplicarem no caso de tumores de mama hormonais. Cerca de 70% dos tumores têm esse perfil.
        As drogas podem ser indicadas se a mulher, mesmo saudável, tiver histórico importante de doença na família, lesões precursoras do câncer e/ou mutações genéticas que aumentam a chance de desenvolvê-lo.
        Em geral, o tratamento é oferecido a mulheres que estão na pós-menopausa.
        Segundo os autores da pesquisa, publicada hoje na revista médica inglesa "Lancet", já se sabia que esses remédios reduziam o risco de câncer de mama em mulheres com risco elevado da doença, mas a duração do efeito protetor das drogas era desconhecida.
        O novo trabalho agora confirma o benefício por pelo menos cinco anos depois do fim do tratamento.
        Neste mês, o US Preventive Services Task Force, grupo de pesquisadores ligado ao governo americano, recomendou que os médicos ofereçam esses remédios a mulheres com alto probabilidade de ter câncer e baixo risco de desenvolver derrames e coágulos --possíveis efeitos colaterais dessa drogas.
        No Brasil, segundo Max Mano, oncologista do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), esse tratamento é pouco usado, ainda que sua frequência seja maior do que na Europa.
        No setor privado, porém, a profilaxia é discutida rotineiramente, segundo Artur Katz, coordenador de Oncologia Clínica do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês.
        "Com mulheres que têm alto risco de ter a doença, temos a obrigação de discutir, caso a caso, os prós e contras do tratamento."
        Ele afirma que há quem prefira usar a medicação, ser acompanhada de perto ou até fazer a retirada das mamas.
        Editoria de Arte/Folhapress
        EFEITOS TÓXICOS
        Apesar da conhecida eficácia das drogas, há um receio em prescrever os moduladores hormonais por causa dos seus efeitos colaterais.
        O novo estudo aponta que mulheres que usaram a mais conhecida dessas drogas, o tamoxifeno, tiveram uma incidência maior de câncer de endométrio do que as que receberam placebo.
        Além disso, os quatro medicamentos analisados aumentaram a ocorrência de trombose.
        "O risco do câncer de útero é estatisticamente real, mas é o fator que menos assusta porque a doença tende a ser pouco agressiva e é descoberta precocemente. Um derrame ou uma trombose preocupam mais porque não mandam aviso", diz Katz.
        Mas, segundo Max Mano, a quimioprevenção ainda é controversa.
        "O remédio não dá a garantia de prevenção, ele reduz a chance. E, para isso, você expõe uma mulher saudável ao risco de ter outras doenças como efeito colateral. Tem que colocar na balança pra ver se vale a pena."

        domingo, 28 de abril de 2013

        Redução de estômago será testada contra hipertensão e complicações do diabetes

        folha de são paulo

        MARIANA VERSOLATO
        DE SÃO PAULO

        Três hospitais de São Paulo --o HCor (Hospital do Coração), o InCor (Instituto do Coração do HC da USP) e o Hospital Alemão Oswaldo Cruz-- vão testar a cirurgia bariátrica para o tratamento de outras doenças que não a obesidade e o diabetes, suas indicações primárias.
        As pesquisas se concentrarão em problemas circulatórios e cardíacos, e as três instituições estão recrutando voluntários (veja abaixo).
        Ricardo Cohen, ex-presidente da Sociedade de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, diz que a intervenção atingiu sua fase de maturidade.
        "A grande demanda agora são os outros resultados que a operação pode trazer."
        No HCor, a redução de estômago será testada para controlar a hipertensão resistente, condição na qual o paciente não consegue baixar a pressão mesmo tomando dois ou mais remédios todo dia.
        Carlos Schiavon, um dos coordenadores do projeto, diz que estudos apontam que pacientes submetidos à cirurgia têm melhora na pressão como "efeito colateral"
        O estudo vai comparar a cirurgia com o tratamento clínico. Os pacientes devem ter obesidade grau 1 ou 2 --ou seja, IMC (Índice de Massa Corporal) entre 30 e 40. Esse índice é obtido dividindo o peso, em quilos, pela altura, em metros, ao quadrado.
        "Há pacientes que tomam quatro, cinco remédios e não têm um bom controle. É uma doença de tratamento difícil", afirma Schiavon.
        Para Bruno Geloneze, endocrinologista do Laboratório de Investigação em Metabolismo e Diabetes da Unicamp, a iniciativa tem um "grau de ousadia e coragem" por se concentrar no paciente que está sem tratamento.
        "Esse é um estudo inédito que pode cobrir uma lacuna importante."
        CORAÇÃO
        Já o estudo do InCor pretende investigar como a cirugia bariátrica pode reduzir o risco cardiovascular.
        "É difícil dizer que variáveis a cirurgia altera para reduzir o risco. Investigaremos esses mecanismos", diz Bruno Caramelli, diretor da unidade de medicina interdisciplinar em cardiologia do InCor e coordenador do estudo.
        Os pacientes devem ter diabetes e IMC entre 28 e 35, ou seja, sobrepeso e obesidade grau 1. Hoje, a cirurgia só é autorizada no país para obesos grau 3 e grau 2 --neste último caso, quando há doenças associadas.
        Geloneze avalia a escolha do perfil dos pacientes como "inadequada". "Já se sabe que, quanto menor o IMC, pior o resultado da cirurgia."
        Mas Caramelli diz que o objetivo é investigar como o diabetes se desenrola desde o começo. "A ideia é tentar identificar, numa fase precoce, quem são os caras que amanhã terão IMC de 35 e 40."
        DIABETES
        No hospital Oswaldo Cruz, o estudo quer comprovar os benefícios do tratamento cirúrgico para problemas microvasculares decorrentes do diabetes tipo 2, como as doenças renais e da retina (que pode levar à cegueira).
        A cirurgia será comparada ao melhor tratamento clínico disponível para o diabetes.
        Segundo o cirurgião Ricardo Cohen, coordenador da pesquisa, se a cirurgia levar à redução da incidência dessas complicações, causará também uma diminuição na mortalidade cardiovascular a longo prazo.
        "Acredito que, se comprovarmos a eficácia da cirurgia nesse caso, o paciente com a doença microvascular terá indicação cirúrgica imediata. Não há razão para esperar falhar o tratamento clínico."
        Os pacientes devem ter obesidade grau 1 (IMC entre 30 e 35), perfil para o qual a cirurgia não é autorizada fora de protocolos de estudo.
        Cohen justifica a escolha porque a média do IMC dos diabéticos no Brasil é 29. "Vamos focar na população que realmente precisa."
        O endocrinologista Bruno Geloneze da Unicamp, porém, afirma que um estudo já mostrou que, depois de cinco anos, a melhora de problemas microvasculares em pacientes diabéticos com IMC acima de 40 foi variada.
        "Essa melhora depende de tempo de doença, fatores genéticos e boa nutrição. Como há o risco de desnutrição nesses pacientes menos obesos, o balanço tende a ser desfavorável", diz.
        O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, Almino Ramos, diz que os estudos se concentraram no diabetes, doença associada à obesidade que tinha mais resultados com a cirurgia. "Agora, eles devem focar em outros fatores, como a apneia do sono."
        Mas, para Geloneze, é preciso lembrar que a prioridade é operar quem mais precisa -- obesos grau 3, com IMC acima de 40.
        "Discutir novas indicações é uma forma de excluir os casos mais urgentes. Há que se pensar sempre no interesse do paciente."
        Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress


        Doenças ligadas ao diabetes serão alvo de estudos
        DE SÃO PAULONo hospital Oswaldo Cruz, um estudo quer comprovar os benefícios do tratamento cirúrgico para problemas microvasculares decorrentes do diabetes tipo 2, como as doenças renais e da retina (que pode levar à cegueira).
        A cirurgia será comparada ao melhor tratamento clínico disponível para o diabetes.
        Segundo o cirurgião Ricardo Cohen, coordenador da pesquisa, se a cirurgia levar à redução da incidência dessas complicações, causará também uma diminuição na mortalidade cardiovascular a longo prazo.
        "Acredito que, se comprovarmos a eficácia da cirurgia nesse caso, o paciente com a doença microvascular terá indicação cirúrgica imediata. Não há razão para esperar falhar o tratamento clínico."
        Os pacientes devem ter obesidade grau 1 (IMC entre 30 e 35), perfil para o qual a cirurgia não é autorizada fora de protocolos de estudo.
        Cohen justifica a escolha porque a média do IMC dos diabéticos no Brasil é 29. "Vamos focar na população que realmente precisa."
        O endocrinologista Bruno Geloneze da Unicamp, porém, afirma que um estudo já mostrou que, depois de cinco anos, a melhora de problemas microvasculares em pacientes diabéticos com IMC acima de 40 foi variada.
        "Essa melhora depende de tempo de doença, fatores genéticos e boa nutrição. Como há o risco de desnutrição nesses pacientes menos obesos, o balanço tende a ser desfavorável", diz.

          sexta-feira, 19 de abril de 2013

          Bebê gerada após seleção genética doa medula à irmã

          folha de são paulo

          MARIANA VERSOLATO
          DE SÃO PAULO

          Maria Vitória, 6, nasceu com talassemia major, uma doença hereditária que prejudica a produção de glóbulos vermelhos. A cada três semanas, tinha que receber "sanguinho", termo usado por seus pais para se referir às transfusões frequentes.
          Há um ano e dois meses, ela ganhou a irmã que tanto pediu aos pais e que poderia ajudá-la a se ver livre da doença por meio de uma doação de células-tronco.
          Maria Clara, a irmã mais nova, foi gerada a partir de um embrião selecionado em um tratamento de fertilização in vitro feito pelos pais.
          A seleção buscou embriões sem a talassemia major e compatíveis para um transplante de células-tronco. O procedimento trazia uma chance de até 90% de cura para Maria Vitória.
          Por isso, quando a mais nova nasceu, as células-tronco de seu cordão umbilical foram colhidas e congeladas.
          Marcelo Justo/Folhapress
          Maria Vitória, 6, e a irmã mais nova, Maria Clara, no Hospital Sírio-Libanês
          Maria Vitória, 6, e a irmã mais nova, Maria Clara, no Hospital Sírio-Libanês
          Mas, como o número de células-tronco do cordão não era suficiente para o transplante, considerando o peso da mais velha, foi preciso esperar até que a caçula crescesse um pouco mais para que também fossem retiradas as células-tronco de sua medula óssea por uma punção no osso ilíaco, na bacia.
          Há 22 dias, o transplante finalmente foi feito. E, nesta semana, apresentou resultados: a medula óssea de Maria Vitória teve "pega", ou seja, passou a produzir suas células de maneira saudável.
          Antes de receber o transplante, ela foi submetida a uma forte quimioterapia para "destruir" sua medula óssea doente. As células doadas pela irmã repovoaram sua medula para que ela funcionasse de maneira normal.
          A químio causou reações indesejadas, como náuseas e queda de cabelo, mas seu efeito mais grave (e discutido com os pais) é a infertilidade.
          Segundo o médico responsável pelo transplante de Maria Vitória, Vanderson Rocha, do Sírio-Libanês, a chance de a menina ter filhos no futuro é pequena porque 95% dos pacientes submetidos a esse procedimento ficam inférteis.
          Esse foi o primeiro caso na América Latina de seleção de embriões livres de doenças genéticas e compatíveis para um transplante.
          O geneticista Ciro Martinhago foi o responsável pela seleção dos embriões. Segundo ele, o caso abre brecha para que outras doenças também possam ser tratadas dessa maneira, como a leucemia. Depois do nascimento de Maria Clara, Martinhago já usou o método em outros 20 casos, a maioria para talassemia major e anemia falciforme.
          Para o médico, o importante é ter a certeza de que a família quer mais um filho, independentemente da ajuda que ele possa oferecer a um irmão doente.
          "Não pode haver o desejo de ter o filho para curar o irmão. A criança não pode se sentir usada dessa maneira. Os pais que atendo me dizem que, se não for possível fazer a seleção, vão querer ter o filho de qualquer jeito."
          CURA POSSÍVEL
          O médico Vanderson Rocha afirma que Maria Vitória será acompanhada de perto por um bom tempo e só será possível falar em cura definitiva daqui a um ano.
          Editoria de Arte/Folhapress
          Os pais das meninas, porém, já comemoram.
          "Sempre pensei que, se houvesse uma chance de cura para a Maria Vitória, eu não ficaria de braços cruzados. Não consigo descrever a sensação de meta cumprida", diz a biomédica Jênyce Reginato da Cunha, 36, mãe das meninas.
          A rotina de transfusões começou quando a filha tinha cinco meses. A mãe conta que a menina sempre considerou o procedimento "normal", mas, há um ano, começou a reclamar e a não querer mais se submeter às picadas.
          Antes do transplante, ela já vinha apresentando excesso de ferro no fígado, uma consequência das transfusões que pode causar cirrose e insuficiência cardíaca.
          Hoje, Maria Vitória terá alta do Hospital Sírio-Libanês, onde fez o transplante e morou durante um mês.
          Cansada da rotina do hospital e com saudade da casa da família, em Cerquilho (SP), deixará para trás um quarto todo decorado com adesivos e pôsteres da novela "Carrossel" --especialmente da personagem Maria Joaquina, interpretada pela atriz Larissa Manoela, que ela sonha em conhecer.

          segunda-feira, 15 de abril de 2013

          Bactérias resistentes abrem a possibilidade de uma era pós-antibióticos

          folha de são paulo

          MARIANA VERSOLATO
          ENVIADA ESPECIAL A UPPSALA (SUÉCIA)

          "O mundo está prestes a perder essas curas milagrosas", já disse a diretora da OMS (Organização Mundial da Saúde), Margaret Chan, sobre os antibióticos.
          Chan se referiu a um futuro tenebroso --e possível-- no qual infecções comuns não terão cura. É o que especialistas chamam de era pós-antibióticos.
          Esses remédios têm como alvo as bactérias, mas esses micro-organismos sempre acham uma forma de sobreviver e se tornarem resistentes, o que pede o uso de novos medicamentos. Por isso, antibióticos têm um tempo determinado de validade.
          O problema é que o arsenal terapêutico e o desenvolvimento de novas drogas só diminuiu nas últimas décadas. A última classe de antibióticos foi descoberta em 1987.
          O mal uso dos antibióticos (seja sem necessidade ou por tempo e dose incorretos) e o maior tráfego global de bactérias resistentes pioram o cenário.
          Neste ano, um relatório dos Centros de Controle de Doenças dos EUA chamou a atenção para o problema da gonorreia resistente às cefalosporinas, classe de antibióticos usados no tratamento dessa doença sexualmente transmissível.
          Para retardar o surgimento de uma superbactéria resistente, os CDCs mudaram as diretrizes do tratamento, que agora deve combinar um remédio oral e outro injetável.
          As bactérias causadoras da tuberculose também geram preocupação, assim como a KPC, resistente à maioria dos medicamentos e que normalmente atinge pessoas hospitalizadas.
          Na semana passada, o Hospital de Clínicas da Unicamp anunciou que teve 11 casos de infecções pela KPC entre dezembro e março.
          FALTA DE INVESTIMENTO
          O corte em investimentos em pesquisa e desenvolvimento de antibióticos pelos laboratórios multinacionais se deve, em parte, a fusões recentes entre as grandes empresas do setor.
          Segundo a OMS, 8 das 15 maiores farmacêuticas que tinham programas de descoberta de antibióticos abandonaram essa área --outras duas reduziram seus esforços.
          Anna Sara Levin, coordenadora do grupo de controle de infecção hospitalar do Hospital das Clínicas da USP, lembra que drogas antigas para hipertensão e diabetes, desenvolvidas nos anos 1950, ainda funcionam, ainda que existam opções mais modernas.
          "Já com os antibióticos, a resistência vai aparecer de qualquer maneira. Como as pesquisas são caras e levam tempo, a indústria vê isso como um mau negócio."
          É nesse "vácuo" que médicos, pesquisadores e autoridades de saúde da Suécia veem "uma oportunidade e a responsabilidade" de oferecer soluções, segundo Linus Sandegren, pesquisador do departamento de bioquímica médica e microbiologia da Universidade de Uppsala, no norte da Suécia.
          O país tem uma taxa baixa de resistência a antibióticos, mas cinco universidades na região de Estocolmo e Uppsala desenvolvem mais de 30 projetos de estudo nessa área.
          "O país percebe que a resistência é um problema enorme e que é preciso investir dinheiro agora para evitar uma catástrofe depois", afirma Anna Zorzet, diretora-executiva-assistente do ReAct, uma rede global independente contra a resistência a antibióticos, sediada na Universidade de Uppsala.
          Em 2012, o primeiro-ministro sueco anunciou um investimento de US$ 220 milhões para os quatro anos seguintes em pesquisas nessa área.
          As investigações incluem o desenvolvimento de novas drogas e a revisão de medicamentos antigos ou que foram descartados anteriormente.
          Um dos estudos clínicos, no Hospital Universitário de Uppsala, pretende determinar regimes de dosagem ideais de antibióticos e testar combinações de drogas existentes contra bactérias multirresistentes.
          NOVA GERAÇÃO
          Mas só o lançamento de novos antibióticos no mercado não vai resolver o problema da resistência a antibióticos, segundo Diarmaid Hughes, professor de bacteriologia molecular médica da Universidade de Uppsala.
          "É necessário antes aprender sobre o uso e o abuso de antibióticos das últimas décadas que fizeram o problema da resistência chegar nesse estado atual; chegar à raiz do problema antes do possível mau uso de uma nova geração de antibióticos."
          Anna Sara Levin, do HC, toca no mesmo ponto. "Para não vivermos uma situação catastrófica no futuro, a solução é a prevenção. Isso inclui o uso racional dos antibióticos e o controle das infecções hospitalares."
          Segundo ela, a maior parte do problema no Brasil não está na geração desses micro-organismos resistentes mas sim na sua transmissão.
          "Cada 'monstro' gerado é disseminado para outros pacientes e outros hospitais. Por isso, é primordial melhorar a qualidade dos serviços de saúde."
          Editoria de arte/Folhapress

          quarta-feira, 10 de abril de 2013

          EUA investigam cirurgias feitas com robô

          folha de são paulo


          Agência de vigilância sanitária americana vai fazer levantamento após relatos de incidentes e mortes em operações
          Número de problemas, no entanto, é pequeno perto do total de cirurgias, quase 370 mil nos EUA em 2012
          DA ASSOCIATED PRESS
          As cirurgias robóticas com o equipamento da Vinci estão sob a mira da FDA (agência norte-americana que regula remédios e aparelhos médicos) depois de um aumento no número de relatos de problemas nos EUA.
          As notificações recebidas pela agência incluem cinco mortes desde o ano passado que podem estar ligadas a esse tipo de cirurgia.
          Em uma operação para retirar de útero, uma mulher morreu, em 2012, porque o robô controlado pelo cirurgião cortou acidentalmente um vaso sanguíneo.
          Também foram registrados incidentes, como o caso de um braço robótico que não queria desgrudar de um tecido em uma cirurgia de intestino, forçando os médicos a desligar o aparelho para que as pinças se abrissem.
          Durante uma retirada de útero, um braço do robô bateu no rosto de uma paciente na mesa cirúrgica.
          A porta-voz da FDA, Synim Rivers, afirmou, porém, que ainda não é possível saber se houve mesmo um aumento no número de incidentes ou se os médicos e os hospitais só passaram a relatá-los com maior frequência.
          A escalada de problemas também pode estar relacionada a um crescimento no uso do robô da Vinci nos EUA.
          Só em 2012, o equipamento foi usado em quase 370 mil cirurgias, um número três vezes maior do que em 2008.
          Especialistas dizem que complicações podem ocorrer em qualquer cirurgia, mas ainda não está claro se elas são mais comuns nas operações robóticas --e é isso que a FDA quer descobrir.
          Segundo Angela Wonson, porta-voz da Intuitive, fabricante do da Vinci, o sistema registra índices de segurança "excelentes" em mais de 1,5 milhão de cirurgias no mundo. "As taxas de eventos adversos permanecem baixas."
          Médicos dizem que há vantagens em usar o robô quando o cirurgião precisa chegar a regiões de difícil acesso, como próstata, reto e intestino.
          Para o tratamento da endometriose, por exemplo, estudos já mostraram que a cirurgia robótica não é superior à técnica convencional.
          BRASIL
          No Brasil, de acordo com Rodrigo Pinheiro, representante da H. Strattner (distribuidora do da Vinci no país), não houve complicação grave que tenha causado a morte de pacientes por aqui.
          De 2008 a 2012, foram feitas cerca de 2.500 cirurgias robóticas no país.
          Há robôs da Vinci nos hospitais Albert Einstein, Sírio-Libanês, Oswaldo Cruz e Nove de Julho, em São Paulo, e no Hospital Samaritano e no Inca (Instituto Nacional de Câncer), no Rio.
          Paulo Zimmer, gerente do programa de cirurgia do Einstein, diz que o uso da cirurgia robótica como estratégia de marketing por hospitais nos EUA leva a um excesso na indicação da tecnologia.
          "Temos a preocupação de não entrar na onda de operar quem não precisa. A tecnologia veio para ficar. Mas os pacientes devem ser bem informados e selecionados, como em qualquer procedimento."
          Colaborou MARIANA VERSOLATO
          Editoria de Arte/Folhapress
          + CANAIS

            ANÁLISE
            Complicações podem estar subestimadas, mostra estudo
            CLÁUDIA COLLUCCIDE SÃO PAULONascido no Vale do Silício, o robô cirúrgico da Vinci foi apresentado nos EUA em 2000 como algo que iria revolucionar a medicina, ao superar muitos dos problemas da operação aberta tradicional, como a perda de sangue e as internações mais longas.
            Hoje, são cerca de 2.600 unidades espalhadas pelo mundo, a um custo de US$ 2 milhões cada uma.
            Junto com a popularidade do aparelho, têm aumentado as preocupações com segurança, falta de treino dos médicos e agressividade na venda dos robôs (cirurgiões ganhando gordas comissões).
            Nos últimos 13 anos, um banco de dados da FDA (vigilância sanitária dos EUA) para notificações voluntárias de problemas causados por dispositivos médicos registrou relatos de 85 mortes, 245 lesões e 4.600 eventos adversos (mau funcionamento da máquina, por exemplo) relacionados ao uso do da Vinci.
            No mesmo período, cerca de 1,5 milhão de procedimentos robóticos foram realizados -o que sugere que os problemas relatados sejam estatisticamente insignificantes.
            Mas, para críticos como Martin Makary, do Hospital Johns Hopkins, o número de complicações está subnotificado e a indústria e as agências regulatórias estão falhando em monitorar o perfil de segurança das cirurgias.
            Makary é coautor de um estudo que cruzou várias fontes de informação e encontrou ao menos oito casos de lesões atribuídas às cirurgias com robô que nunca foram investigados pela FDA.
            O desfecho dos procedimentos também merece investigação. Na retirada da próstata, a cirurgia robótica tende a resultar em menor perda de sangue e em recuperação mais rápida do que a operação tradicional.
            Mas a taxa dos efeitos colaterais mais temidos (incontinência e impotência) "são altas depois de ambos", diz estudo publicado no "Journal of Clinical Oncology".
            No último Congresso Americano de Ginecologistas e Obstetras, a mensagem sobre as cirurgias robóticas de retirada do útero foi clara: "É importante separar o marketing da realidade".
            Muitos dos problemas do robô podem estar ligados à curva de aprendizado do cirurgião. Como a técnica é nova, há menos profissionais experientes, o que pode levar a um maior índice de erros.
            Mas, com os estudos disponíveis, é difícil avaliar a relação custo-eficácia do da Vinci. Muitos dos trabalhos não incluem um dado fundamental: o grau de satisfação dos pacientes com a cirurgia.

              domingo, 31 de março de 2013

              Crianças superseletivas na hora de comer preocupam as mães

              folha de são paulo

              MARIANA VERSOLATO
              DE SÃO PAULO

              Nicolas, 4, só come macarrão, arroz com carne e arroz com frango. Um legume no prato pode fazê-lo gritar, e um molho a mais ou um orégano salpicado fazem a refeição toda ser recusada.
              É o chamado "picky eater" ou, em bom português, uma criança bastante seletiva.
              "Quando ele era pequeno e começou a comer coisas mais sólidas, já começou a entortar o nariz. Depois dizia com o dedinho que não queria nada. Até hoje é muito difícil fazer ele experimentar algo diferente", diz a blogueira Milene Massucato, de São Bernardo do Campo (SP).
              Ed. de arte/Folhapress
              Ela não está sozinha: a queixa "meu filho não come" é uma das mais frequentes nos consultórios pediátricos.
              Um estudo no "Journal of Clinical Gastroenterology" diz que 35% das crianças têm esse comportamento.
              Outra pesquisa, encomendada pela Abbott Nutrition e realizada com 954 famílias brasileiras, mostrou que 50% delas relatam dificuldades alimentares em crianças com idade pré-escolar.
              "Se causa preocupação para os pais e gera um grande estresse na hora da refeição, é um problema que merece atenção. Os médicos até chamavam essa dificuldade de falsa anorexia.
              Diziam que o peso e a altura estavam normais e desqualificavam a queixa da mãe. Preocupa-nos essa falta de resposta", diz Mauro Fisberg, pediatra, nutrólogo e professor da Unifesp, que vai coordenar o Centro de Dificuldades Alimentares a ser aberto no mês que vem no Hospital Infantil Sabará, em São Paulo.
              O centro oferecerá tratamento multidisciplinar (com pediatras, nutricionistas, fonoterapeutas etc.), treinamento profissional e cursos e oficinas para os pais. A unidade também contará com a estrutura do hospital para exames e consulta com outros especialistas e um centro de pesquisas.
              "O espectro das dificuldades alimentares é grande. Algumas crianças têm traumas porque foram forçadas ou entubadas numa internação, por exemplo. Temos que analisar se há alguma doença por trás, se o problema é comportamental", afirma.
              Segundo ele, a seletividade exagerada pode causar uma carência nutricional e, ao mesmo tempo, obesidade, se a criança se concentrar só em junk food.
              idade
              Em geral, o período crítico é quando os alimentos são introduzidos na dieta da criança e o leite deixa de ser a única fonte da alimentação.
              "A maioria das mães tem receio de que o filho não vá conseguir comer e bate toda a comida. Isso não ensina a criança a mastigar e a experimentar diferentes sabores e texturas", afirma a nutricionista Priscila Maximino, que integrará o centro do Sabará.
              Segundo ela, as causas dos distúrbios envolvem, além de problemas orgânicos, genética e traumas, a participação dos pais e cuidadores e outros fatores ambientais.
              "Não há como desvincular isso dos pais. São eles que compram a comida, permitem que certos alimentos sejam ingeridos ou deixam de permitir", afirma.
              Ela lembra que é próprio da criança ter medo da novidade. "Cada refeição é uma descoberta. Quanto maior a variedade, menor a chance de ela ser seletiva no futuro. Se a comida é monótona, a mensagem é que a criança deve comer só aquilo."
              Para diversificar o cardápio de seu filho Lucas, de 1 ano e 5 meses, a veterinária Adriana Lopes, 26, de São Paulo, recorreu a dois grupos no Facebook: Delícias do Dudu e Alimentação Consciente, este último da nutricionista Karine Nunes Durães.
              "Quando eles não comem o que a gente oferece, ficamos desesperadas. Participar dos grupos me trouxe tranquilidade porque vi que não sou a única", afirma Adriana.
              E os especialistas são unânimes: de nada adianta oferecer espinafre se os próprios pais só comem pizza.
              "Toda vez que desanimo lembro do estrogonofe. Meu marido não gosta, mas o Nicolas experimentou um dia desses e já pediu 'estrogongofe' de novo. Há uma luz no fim do túnel", brinca Milene.

              quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

              Estudo acha riscos genéticos comuns a transtornos mentais

              folha de são paulo

              Bases biológicas poderão ser usadas no futuro para diagnóstico e tratamento
              MARIANA VERSOLATODE SÃO PAULOPela primeira vez, um estudo mostrou que cinco transtornos psiquiátricos -autismo, depressão, TDAH (transtorno de deficit de atenção e hiperatividade), transtorno bipolar e esquizofrenia-compartilham fatores de risco genéticos.
              A conclusão é dos pesquisadores do Consórcio de Genética e Psiquiatria, dos Estados Unidos.
              O trabalho, publicado hoje no periódico médico "Lancet", revisou o genoma de mais de 33 mil pacientes com diagnóstico de doenças psiquiátricas e de 27 mil voluntários de um grupo-controle, sem os transtornos, em busca de variações do DNA que poderiam causar a suscetibilidade às cinco doenças.
              O resultado é a identificação de regiões com similaridades para os transtornos em dois cromossomos e em dois genes ligados aos canais que regulam o fluxo de cálcio nas células do cérebro.
              O estudo aponta que uma via biológica específica relacionada aos canais de cálcio ("poros" celulares) contribui para a patogênese de diversos problemas psiquiátricos e reafirma o potencial dessa via como um alvo para novas classes de remédios.
              Segundo os autores, as conclusões do estudo oferecem evidências para que as bases biológicas sejam usadas no diagnóstico e para a classificação dos transtornos. Por ora, o diagnóstico se baseia na análise clínica.
              CAIXA-PRETA
              Segundo Emmanuel Dias Neto, pesquisador associado do Laboratório de Neurociências do Instituto de Psiquiatria da USP e cientista adjunto do Hospital A.C. Camargo, o estudo tem grande impacto pela quantidade de pacientes envolvidos e é interessante porque analisa o que essas doenças têm em comum.
              "O estudo mostra que elas têm 'caminhos moleculares' parecidos", afirma.
              Ele lembra, porém, que ainda não há aplicação prática do achado para quem tem uma dessas doenças.
              "Estamos começando a conhecer a caixa-preta que é o genoma. No futuro, cada transtorno será visto como uma alteração de determinadas moléculas, o que deve personalizar o tratamento."

                quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

                USP testa estímulo elétrico para depressão

                folha de são paulo

                Técnica de baixo custo que usa corrente elétrica contínua aplicada ao crânio foi comparada a antidepressivos
                Em estudo com 120 pacientes no Hospital Universitário, método foi tão eficaz e seguro quanto remédios
                MARIANA VERSOLATODE SÃO PAULO
                Pesquisadores da USP testam uma alternativa indolor, de baixo custo e com poucos efeitos colaterais para o tratamento da depressão.
                Trata-se da estimulação com corrente elétrica contínua. E, ao que indica um estudo publicado pelo grupo no "Jama Psychiatry", revista da Associação Médica Americana, a técnica é eficaz.
                Na pesquisa, 120 pessoas com depressão foram divididas em grupos para avaliar a eficácia da técnica, do antidepressivo sertralina (um inibidor da recaptação da serotonina) e da combinação dos dois tratamentos.
                Drogas e estimulação tiveram resultados similares e, juntas, um resultado ainda melhor. Entre os que usaram as terapias combinadas, 63% tiveram alguma melhora.
                Desses, 46% tiveram remissão, ou seja, a ausência completa de sintomas.
                COMBINAÇÃO
                Segundo André Brunoni, psiquiatra do Hospital Universitário da USP e principal autor da pesquisa, esse é o primeiro estudo a comparar o tratamento com antidepressivos e a combiná-los.
                A explicação para o sucesso dessa soma ainda precisa ser confirmada por exames de imagem, mas os pesquisadores imaginam que a estimulação e o remédio atuem em diferentes regiões do cérebro ligadas à depressão.
                A técnica, ainda experimental, tem poucos efeitos colaterais (no estudo, foram observados vermelhidão na área da cabeça onde os eletrodos foram posicionados e sete episódios de mania) e custo relativamente baixo.
                O aparelho é simples de ser fabricado, pode ser portátil e custa de R$ 500 a R$ 1.000, segundo Brunoni.
                Um aparelho de estimulação magnética transcraniana (técnica de neuromodulação não invasiva mais estudada e que recebeu o aval para depressão no Brasil em 2012) chega a custar de US$ 30 mil a US$ 50 mil (R$ 59 mil a R$ 119 mil).
                CONVINCENTE
                A estimulação por corrente contínua não é novidade -pesquisas em humanos para depressão e esquizofrenia são feitas desde a década de 1960. Os estudos foram retomados a partir de 1990, mas a quantidade é pequena.
                "Até esse estudo da USP, os resultados desse tipo de estimulação não eram muito convincentes. Talvez isso se modifique agora", afirma Marcelo Berlim, professor assistente do departamento de psiquiatria da Universidade McGill, em Montréal, Canadá, e diretor da clínica de neuromodulação da instituição.
                "É um avanço importante, mas não significa que vamos usar amanhã na prática clínica. Precisamos de mais estudos", diz Brunoni.
                Berlim afirma que um dos entraves para que sejam feitas pesquisas maiores para a aprovação da técnica é a falta de investimento de grandes fabricantes do aparelho.
                "Como ele é simples e barato, não há interesse por parte da indústria em desenvolver pesquisas de milhões de dólares", afirma o psiquiatra

                Procedimento é diferente do eletrochoque
                DE SÃO PAULOBobinas e eletrodos na cabeça não são exclusividade da estimulação elétrica por corrente contínua. Duas técnicas similares, que têm em comum a ausência de medicação, são usadas e aprovadas para depressão no país.
                A eletroconvulsoterapia, conhecida como eletrochoque, é a mais invasiva. O paciente recebe anestesia geral, e os eletrodos induzem uma corrente elétrica no cérebro que provoca a convulsão, alterando os níveis de neurotransmissores e neuromoduladores, como a serotonina.
                Ela é indicada para depressão profunda e em situações em que o paciente não responde aos medicamentos.
                Seus efeitos cognitivos, porém, são indesejáveis e incluem perda de memória. Os defensores da técnica dizem que o problema é temporário.
                Já a estimulação magnética é indolor e não requer anestesia, assim como a que usa corrente contínua.
                Uma bobina, que é apoiada na cabeça do paciente, gera um campo magnético que afeta os neurônios, ativando-os ou inibindo-os. As ondas penetram cerca de 2 cm.
                Em maio de 2012, o CFM (Conselho Federal de Medicina) aprovou a técnica para tratamento de depressões uni e bipolar (que pode causar oscilações de humor) e de alucinações auditivas em esquizofrenia e para planejamento de neurocirurgia.
                O IPq (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP), centro pioneiro em pesquisas com estimulação magnética no país, estuda a aplicação para depressão desde 1999.
                "A estimulação por corrente contínua está hoje onde a estimulação magnética estava há 15 anos", afirma o psiquiatra André Brunoni.

                  quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

                  Governo de S.Paulo mantém publicidade de junk food

                  FOLHA DE SÃO PAULO

                  Alckmin veta projeto de lei que proibia anúncios de alimentos não saudáveis entre as 6h e as 21h no rádio e na TV
                  ONGs de direitos do consumidor apoiavam a restrição; só União pode legislar sobre o tema, diz advogado
                  MARIANA VERSOLATODE SÃO PAULOVERA MAGALHÃESEDITORA DO PAINELFÁBIO ZAMBELIDO PAINELO governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, vetou ontem o projeto de lei que restringia a publicidade de alimentos não saudáveis dirigida a crianças.
                  O projeto, apresentado pelo deputado estadual Rui Falcão (PT) em 2008, foi aprovado pela Assembleia Legislativa em dezembro. Ontem era o último dia para que Alckmin tomasse a decisão de vetar ou sancionar a lei.
                  O texto proibia a veiculação de anúncios de alimentos e bebidas pobres em nutrientes e com alto teor de açúcar, gorduras saturadas ou sódio entre as 6h e as 21h no rádio e na televisão. O projeto não especificava quais alimentos se enquadrariam nessa classificação.
                  O projeto também impedia o uso de celebridades ou personagens infantis na venda de alimentos e o uso de brindes promocionais, como os vendidos junto com sanduíches em redes de fast food.
                  CONSTITUIÇÃO
                  Ontem, conforme a Folha informou, as assessorias jurídica e parlamentar do governador haviam recomendado o veto ao projeto, afirmando que o texto é inconstitucional porque cabe à União legislar sobre publicidade.
                  Luiz Tarcísio Teixeira Ferreira, professor de direito constitucional da PUC de São Paulo, concorda com a decisão e lembra que já havia sido decidido que só a União podia legislar sobre publicidade de cigarros, um tema também relativo à saúde.
                  "Não é porque a matéria é boa do ponto de vista do mérito que qualquer um pode legislar a respeito. O valor do projeto não pode ser maior que o da Constituição. Não é um vale tudo", diz.
                  Segundo ele, se um projeto inconstitucional é aprovado pelo governador, o resultado esperado é uma enxurrada de processos contestando a aprovação e "atulhando o Judiciário".
                  Às críticas, o assessor jurídico de Rui Falcão, Antonio Carlos Serrano, respondeu no blog do deputado, no ano passado, que a discussão sobre a constitucionalidade da medida é "um equívoco" e que o Estado "pode legislar sobre infância e juventude".
                  Um texto semelhante ao que foi vetado, de autoria do deputado Alex Manente (PPS), também foi aprovado em dezembro na Assembleia Legislativa, mas seu conteúdo, que trata da proibição da venda de alimentos com brindes, é englobado pelo texto de Rui Falcão. O projeto de Manente ainda não foi apreciado pelo governador.
                  Essa não é a primeira tentativa frustrada de aprovar uma lei com limites para a publicidade infantil no país.
                  O projeto de lei vetado agora recebeu o apoio de entidades da sociedade civil, como o Instituto Alana (que defende os direitos da criança) e o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).
                  "São Paulo perdeu a oportunidade de estar na vanguarda e abordar esse tema de grande importância para a saúde das crianças", disse Pedro Hartung, assessor do núcleo de defesa do Alana.
                  O Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (órgão consultivo que assessora a Presidência da República) e a Opas (Organização Pan-Americana da Saúde, ligada à Organização Mundial da Saúde) enviaram cartas ao governador pedindo a sanção do projeto.
                  No texto, a Opas cita pesquisas que demonstraram que a publicidade incentiva as crianças a pedirem as marcas anunciadas e que os pais reconhecem a influência da televisão em suas compras.


                    A SAGA DA PUBLICIDADE PARA CRIANÇAS
                    2001
                    Começou a tramitar na Câmara dos Deputados um projeto de lei que proibia completamente a publicidade (não só de produtos alimentícios) direcionada a crianças de até 12 anos e fazia restrições àquela direcionada a adolescentes de até 18 anos
                    2006
                    A Anvisa colocou em consulta pública um texto com restrições que praticamente eliminavam a publicidade de alimentos pouco saudáveis para crianças
                    2009
                    Um grupo de 24 empresas do setor alimentício assinou um acordo comprometendo-se a não fazer publicidade voltada a crianças de até 12 anos em programas de TV em que 50% ou mais da audiência seja constituída por esse público. No entanto, nenhum programa da TV aberta comercial tem mais de 30% de seu público formado por pessoas com idade entre 4 e 11 ano
                    2010
                    Após quatro anos de discussões, a Anvisa publicou sua regulamentação, mas excluiu as restrições à publicidade e o veto a brindes. Mais de 20 liminares tornaram a resolução sem efeito
                    2012
                    A Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou dois projetos de lei que restringiam a publicidade de alimentos a crianças e a venda de lanches com brinquedos. O primeiro de autoria de Rui Falcão (PT) e o segundo do deputado Alex Manente (PPS)
                    2013
                    O governador Geraldo Alckmin vetou a lei que restringe a publicidade de alimentos. O projeto de Manente ainda não foi apreciado por Alckmin

                    terça-feira, 29 de janeiro de 2013

                    Parecer recomenda veto a lei contra publicidade infantil

                    FOLHA DE SÃO PAULO

                    Alckmin tem até hoje para avaliar projeto que restringe anúncios de junk food
                    Para assessoria jurídica do governador, projeto é inconstitucional e cabe à União legislar sobre o tema
                    MARIANA VERSOLATODE SÃO PAULOVERA MAGALHÃESEDITORA DO PAINELFÁBIO ZAMBELIDO PAINELO governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tem até hoje para sancionar ou vetar um projeto de lei que restringe anúncios de alimentos não saudáveis para crianças.
                    Folha apurou que o texto não deve ser sancionado. As assessorias jurídica e parlamentar do governador recomendaram o veto, afirmando que o projeto é inconstitucional porque cabe à União legislar sobre publicidade.
                    Entidades que são contra as restrições usam o mesmo argumento para pedir o veto.
                    Na semana passada, o secretário da Casa Civil, Edson Aparecido, disse que o texto necessitava de uma análise constitucional e jurídica.
                    "Os partidos dos autores dos projetos deveriam apresentá-los no Congresso Nacional", afirmou o secretário, ao receber 12.500 assinaturas em apoio a dois projetos aprovados em dezembro na Assembleia Legislativa.
                    Um deles, de autoria de Rui Falcão (PT), prevê a proibição da veiculação de anúncios de alimentos "pobres em nutrientes e com alto teor de açúcar, gorduras saturadas ou sódio no rádio e na TV" entre as 6h e as 21h.
                    Também impede o uso de celebridades ou personagens infantis na venda de alimentos e o uso de brindes e brinquedos promocionais.
                    Um texto semelhante, do deputado Alex Manente (PPS) também foi aprovado em dezembro, mas seu conteúdo, que trata da proibição da venda de alimentos com brindes, é englobado pelo texto de Rui Falcão. O projeto de Manente ainda não foi apreciado pelo governador.
                    PROGRAMAS
                    Aparecido lembrou que o governo estadual tem projetos de educação alimentar para crianças e adultos.
                    Ontem, Alckmin lançou o programa Alimentação Saudável nas escolas estaduais, em parceria com a Sociedade Brasileira de Cardiologia.
                    O projeto prevê a capacitação de professores, cozinheiros e diretores para melhorar a merenda. Alunos receberão orientações.
                    "O governo de São Paulo já vem com preocupações nessa linha", disse Aparecido.
                    Mariana Ferraz, advogada do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), disse que enviaria ontem uma carta ao governador pedindo a aprovação das restrições aos anúncios. "O governo tem competência para colocar isso em vigor."

                      NÃO À RESTRIÇÃO
                      Não existe alimento ruim e sim consumo desequilibrado
                      RAFAEL SAMPAIOESPECIAL PARA A FOLHAAcredito que o governador Geraldo Alckmin vai vetar a lei que proíbe "a publicidade, dirigida a crianças, de alimentos e bebidas pobres em nutrientes e com alto teor de açúcar, gorduras saturadas ou sódio" por duas razões.
                      A primeira é o fato de que a lei é inconstitucional. É competência exclusiva da União legislar sobre essa matéria. Iniciativas anteriores nesse sentido foram vetadas ou barradas pela Justiça.
                      A segunda razão é de ordem prática. O governador é médico e sabe que alimentos não são intrinsecamente ruins, desde que produzidos, conservados e ingeridos de forma adequada.
                      O que pode ter consequências negativas é a dieta desequilibrada, o consumo em excesso e o sedentarismo, três aspectos que não foram resolvidos por força de lei em lugar nenhum.
                      O único lugar do mundo onde há uma proibição legal total para anunciar para as crianças é Québec, no Canadá. Pesquisas indicam que a situação de obesidade e sobrepeso infantil naquela província não é muito diferente do resto do país. É a prova de que proibir não resolve.
                      O que resolve são ações e colaboração. Ações como o projeto Meu Prato e Meu Pratinho, do próprio governo paulista, ou as normas que as empresas impuseram-se ao redor do mundo e no Brasil, que eliminaram a publicidade dirigida a crianças de produtos cujo consumo em excesso possa ser prejudicial.
                      Colaboração como as principais empresas alimentícias do mundo têm com a Organização Mundial da Saúde e os governos europeus e dos EUA para atualizar as práticas de autorregulação e enfrentar esse desafio de saúde pública do século 21.
                      RAFAEL SAMPAIO é vice-presidente-executivo da Associação Brasileira de Anunciantes

                        SIM À RESTRIÇÃO
                        Marketing de junk food para crianças engorda e faz mal
                        ISABELLA HENRIQUESESPECIAL PARA A FOLHAA aprovação dos PLs 193/2008 e 1096/2001 pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo foi um importantíssimo passo para garantir os direitos da infância, e a sua sanção pelo governador Geraldo Alckmin seria decisiva para a saúde de milhões de crianças.
                        No Brasil, a última Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE indica que atingimos o alarmante índice de 30% de crianças com sobrepeso e 15% com obesidade, o que, em números absolutos, representa 5 milhões de crianças.
                        Basta ir a uma praia qualquer do país para notar que as crianças não estão só rechonchudas: elas estão muito acima do peso e consomem guloseimas o tempo todo. Mas a gravidade do problema não diz respeito à estética e sim ao fato de ser a obesidade porta de entrada para pressão alta, diabetes e alguns tipos de câncer.
                        Pelo menos 50% das crianças obesas levarão o problema para a vida adulta, o que acarretará, além de sofrimento pessoal, em saída precoce do mercado, despesas com previdência e gastos públicos com o SUS.
                        É certo que a obesidade é multifatorial, mas é incontestável que a publicidade de alimentos com altos teores de açúcar, sódio ou gorduras é uma das suas maiores causas e, no tocante às crianças, uma influência na formação dos hábitos alimentares para toda a vida.
                        As próprias empresas admitem isso ao restringirem seu marketing em todo o mundo. Há até as que se comprometeram a não mais anunciar para crianças, mas nem todas cumprem isso.
                        Daí a urgência de se ter uma legislação que proíba as práticas de marketing que as chamam a consumir alimentos não saudáveis.
                        ISABELLA HENRIQUES é diretora da ONG Instituto Alana