Em novo espaço, São Paulo Fashion Week começa hoje animada pela notícia de que setor será incluído na programação cultural da Copa do Mundo de 2014
Danilo Verpa/Folhapress | ||
Montagem do novo espaço da SPFW no parque Villa-Lobos |
VIVIAN WHITEMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A São Paulo Fashion Week dá hoje início, em novo palco, no parque Villa-Lobos, a sua edição outono-inverno 2013. E o faz com novo ânimo, após o anúncio, na semana passada, de que a moda, agora, é oficialmente cultura.
O setor se entusiasmou com a notícia de que a programação cultural da Copa do Mundo de 2014 incluirá eventos de moda, ao lado de outras manifestações culturais, como música, literatura, gastronomia e artes plásticas.
"A moda estará nas Arenas Culturais das cidades-sede da Copa. Para isso acontecer, será nomeado um curador que terá a tarefa de pensar a participação por meio de desfiles, exposições e outras ações", escreve Marta à Folha, falando de uma de suas primeiras providências como ministra da Cultura em relação ao universo fashion.
O projeto Arenas Culturais quer aproveitar a grande exposição mundial que o país terá durante a Copa para divulgar a produção nacional.
Assim, a moda, que desde 2010 é reconhecida oficialmente como manifestação cultural (sem que porém isso tenha se refletido em políticas públicas) entra na pauta.
"A moda tem nossa atenção: minha, que sempre a compreendi como manifestação cultural; e do Ministério da Cultura, que dá espaço para discussões e parcerias com o setor", frisa a ministra.
Marta, figura frequente nas primeiras filas de desfiles da SPFW, reuniu-se na semana passada com um grupo de representantes da moda, entre os quais estavam estilistas do evento que começa hoje.
A lista incluía nomes como Reinaldo Lourenço, Alexandre Herchcovitch e Samuel Cirnansck, além da consultora Didi Rezende, uma das responsáveis pelo processo que levou o MinC, ainda na gestão Juca Ferreira, a olhar para a moda como cultura.
"Ainda não sabemos como será a participação da moda nos eventos da Copa, mas imagino que tenhamos ações focadas no comércio conjugadas a outras focadas na imagem", afirma Rezende.
O mais provável é que a vitrine fashion na Copa seja montada segundo um viés que tem ajudado a divulgação da produção brasileira, a chamada economia criativa.
Agrupam-se sob o rótulo ideias como a das cooperativas artesanais que trabalham em conjunto com designers de talento reconhecido e o investimento em matéria-prima sustentável de qualidade.
"Temos claro que moda e economia criativa têm tudo a ver", afirma a ministra.
O caminho já fora trilhado pela pesquisa "Economia e Cultura da Moda no Brasil: Perspectivas para o Setor", desenvolvida pelo MinC e o Instituto das Indústrias Criativas e publicada em maio.
Entre as conclusões da pesquisa estava a necessidade de inserir a moda na "agenda nacional de políticas públicas de cultura". Nesse contexto, os estilistas fizeram um pedido à ministra: financiar desfiles via Lei Rouanet.
Embora aberta a setor, ministra diz que resposta não está na lei atual, cujo projeto de reforma está em cursoCOLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"O governo tem de fazer como a Antuérpia [Bélgica] fez com seus estilistas, como o Japão fez: nesses lugares há incentivos para apresentações de moda", afirma o estilista Reinaldo Lourenço.
Lourenço foi um dos estilistas que pediram à ministra Marta Suplicy que a Lei Rouanet possa ser usada para o financiamento de desfiles.
O texto atual do mecanismo de incentivo à cultura via renúncia fiscal não inclui normas que possam ser aplicadas a esse tipo de evento.
O designer estende seu raciocínio. "Temos de compreender que a moda é uma forma de arte. Quando a crítica especializada escreve sobre desfiles, por exemplo, sua argumentação se baseia na ideia de que aquela apresentação é um objeto artístico."
No encontro dos criadores de moda com Marta Suplicy na semana passada, também foram discutidas questões da cadeia de produção, como taxas de importação, acesso a matéria-prima, decadência da indústria têxtil local e especialização de mão de obra.
Para o estilista Samuel
Cirnansck, medidas de apoio devem vir acompanhadas de outras de cunho educacional.
"A população não pode achar que desfile é um bando de loucos fazendo festa. E não se trata de popularizar as apresentações, mas de torná-las bens culturais. Na França, desde o século 15 o Estado reconhece a moda como patrimônio cultural e a apoia financeiramente", analisa.
Em entrevista à Folha em 2010, Juca Ferreira, então ministro da Cultura, disse que a moda tem estrutura de produção similar à do cinema.
"Para a realização de um filme, você precisa de dinheiro para produzi-lo, dinheiro para pós-produção e, depois, distribuição. Há um trabalho artístico ali, com fins lucrativos. A moda segue a mesma lógica", disse na ocasião.
Marta Suplicy frisa seu interesse em ajudar o setor. Mas indica que o apoio deve vir de outros caminhos que não a Rouanet -até porque o projeto de reforma da lei, chamado Procultura, encontra-se em tramitação no Congresso.
Defendido como uma proposta capaz de definir uma visão mais abrangente do setor cultural -o que interessa à moda-, o projeto, se aprovado, substituirá a lei atual.
"É preciso estudar mais, e a solução pode estar na nova lei em tramitação ou em outro recurso do ministério. Mas o certo é que reunir o grupo, pensar soluções, compreender que o universo de possibilidades pode ser maior é um grande passo", diz Marta.
O ProCultura, que propõe descentralizar e equilibrar a distribuição de recursos pelos Estados, pode atender a uma das maiores queixas da moda e de todos os setores culturais no Brasil: a de que o eixo Rio-São Paulo concentra a quase totalidade dos projetos que recebem apoio financeiro, seja do governo, seja de empresas privadas.
"Somos um país com talentos espalhados, isso ficou bem claro nas minhas pesquisas para o ministério na época do Juca [Ferreira]. A gestão Ana de Hollanda escolheu ignorar todas as demandas que identificamos, e acho que uma das grandes missões da nova ministra é dar voz a quem não é ouvido", afirma a consultora Didi Rezende.
Para criadores, moda é arte e merece incentivo fiscal
Estilistas pedem que desfiles sejam financiados com recursos da RouanetEmbora aberta a setor, ministra diz que resposta não está na lei atual, cujo projeto de reforma está em cursoCOLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"O governo tem de fazer como a Antuérpia [Bélgica] fez com seus estilistas, como o Japão fez: nesses lugares há incentivos para apresentações de moda", afirma o estilista Reinaldo Lourenço.
Lourenço foi um dos estilistas que pediram à ministra Marta Suplicy que a Lei Rouanet possa ser usada para o financiamento de desfiles.
O texto atual do mecanismo de incentivo à cultura via renúncia fiscal não inclui normas que possam ser aplicadas a esse tipo de evento.
O designer estende seu raciocínio. "Temos de compreender que a moda é uma forma de arte. Quando a crítica especializada escreve sobre desfiles, por exemplo, sua argumentação se baseia na ideia de que aquela apresentação é um objeto artístico."
No encontro dos criadores de moda com Marta Suplicy na semana passada, também foram discutidas questões da cadeia de produção, como taxas de importação, acesso a matéria-prima, decadência da indústria têxtil local e especialização de mão de obra.
Para o estilista Samuel
Cirnansck, medidas de apoio devem vir acompanhadas de outras de cunho educacional.
"A população não pode achar que desfile é um bando de loucos fazendo festa. E não se trata de popularizar as apresentações, mas de torná-las bens culturais. Na França, desde o século 15 o Estado reconhece a moda como patrimônio cultural e a apoia financeiramente", analisa.
Em entrevista à Folha em 2010, Juca Ferreira, então ministro da Cultura, disse que a moda tem estrutura de produção similar à do cinema.
"Para a realização de um filme, você precisa de dinheiro para produzi-lo, dinheiro para pós-produção e, depois, distribuição. Há um trabalho artístico ali, com fins lucrativos. A moda segue a mesma lógica", disse na ocasião.
Marta Suplicy frisa seu interesse em ajudar o setor. Mas indica que o apoio deve vir de outros caminhos que não a Rouanet -até porque o projeto de reforma da lei, chamado Procultura, encontra-se em tramitação no Congresso.
Defendido como uma proposta capaz de definir uma visão mais abrangente do setor cultural -o que interessa à moda-, o projeto, se aprovado, substituirá a lei atual.
"É preciso estudar mais, e a solução pode estar na nova lei em tramitação ou em outro recurso do ministério. Mas o certo é que reunir o grupo, pensar soluções, compreender que o universo de possibilidades pode ser maior é um grande passo", diz Marta.
O ProCultura, que propõe descentralizar e equilibrar a distribuição de recursos pelos Estados, pode atender a uma das maiores queixas da moda e de todos os setores culturais no Brasil: a de que o eixo Rio-São Paulo concentra a quase totalidade dos projetos que recebem apoio financeiro, seja do governo, seja de empresas privadas.
"Somos um país com talentos espalhados, isso ficou bem claro nas minhas pesquisas para o ministério na época do Juca [Ferreira]. A gestão Ana de Hollanda escolheu ignorar todas as demandas que identificamos, e acho que uma das grandes missões da nova ministra é dar voz a quem não é ouvido", afirma a consultora Didi Rezende.
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