quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Associação questiona eficácia de filtros solares


Avaliação da Proteste aponta que há falhas em produtos à venda no país
Empresas questionam métodos usados no teste da entidade de defesa do consumidor e contestam resultados
DÉBORA MISMETTIEDITORA-ASSISTENTE DE “CIÊNCIA+SAÚDE”Entre dez marcas de filtros solares de uso adulto à venda no país, duas têm menos da metade do FPS (Fator de Proteção Solar) declarado no rótulo, segundo teste laboratorial encomendado pela Proteste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor).
A avaliação incluiu produtos das marcas L'Oreal, La Roche-Posay, O Boticário, Coppertone, Cenoura&Bronze, Sundown, Avon, Nivea, Banana Boat e Red Apple, todos com FPS 30.
As fabricantes contestam o resultado e questionam a metodologia empregada.
Os produtos foram submetidos a uma análise in vitro para checar o fator de proteção, além de passarem por testes de irritabilidade da pele, fotoestabilidade, hidratação, rotulagem e desperdício causado pela embalagem.
De acordo com os resultados obtidos pela Proteste, os produtos Nivea Sun e Banana Boat foram os piores no quesito FPS. Os produtos têm fator de proteção 13 e dez, respectivamente, em vez de 30, de acordo com a análise.
Os mais bem avaliados nesse item foram o L'Oreal Solar Expertise, o La Roche-Posay Anthelios Hélioblock e o Cenoura&Bronze.
MÉTODOS
O ensaio é feito em placas (cuja rugosidade simula à da pele humana), submetidas à radiação ultravioleta, de acordo com a Proteste.
Segundo o médico Sérgio Schalka, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e especialista em fotoproteção, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) exige testes feitos in vivo, em pessoas, para determinar o FPS.
O coordenador técnico da Proteste, Dino Lameira, afirma que o método in vitro foi o escolhido porque o objetivo do teste era comparar os produtos entre si, e esse tipo de avaliação é melhor do que o ensaio in vivo para isso.
"O método é reconhecido, apesar de não ser o oficial."
Ana Palieraqui, pesquisadora médica da entidade, afirma que o método in vitro foi preferido justamente por não usar voluntários humanos. "A Comissão Europeia recomenda desde 2006 que sejam feitos testes in vitro, para não expor pessoas à radiação ultravioleta. Os resultados dos dois tipos de teste são equivalentes."
No entanto, diz Schalka, o teste que não usa voluntários é mais sensível aos produtos que têm barreiras físicas contra o sol, ou seja, que refletem mais a luz. Os que têm barreiras químicas ficam prejudicados por esse tipo de avaliação, segundo ele.
O médico lembra que, se a pessoa usar o produto em pouca quantidade, a proteção contra a radiação cai muito. "Uma dica fácil é aplicar meia colher de chá do filtro no rosto e meia em cada braço, uma colher de chá em cada perna, uma no peito e barria e uma nas costas. Para uma criança de seis anos, metade disso é suficiente."
RADIAÇÃO
A proteção contra raios UVA também foi medida. A partir de 2014, os filtros solares à venda no país deverão ter proteção UVA no valor de um terço da do UVB. Assim, um filtro 30 terá de apresentar uma proteção UVA de 10.
Os raios UVB causam queimaduras solares, câncer de pele e são mais fortes no verão. Já os UVA são constantes durante o ano e levam ao envelhecimento da pele e ao bronzeamento.
Cenoura&Bronze e Red Apple tiveram os piores resultados em proteção UVA.
A situação entre os produtos voltados ao público infantil é melhor, segundo o teste. Os cinco analisados tiveram boa avaliação na proteção UVB e dois foram reprovados quanto ao UVA.

    OUTRO LADO
    Produtos são aprovados e passam por testes rigorosos, dizem fabricantes
    DA EDITORA-ASSISTENTE DE “CIÊNCIA+SAÚDE”
    A Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos) afirmou, em nota, que "refuta mais uma vez os dados sensacionalistas divulgados pela Proteste". Em 2009, a entidade havia publicado um teste semelhante.
    Ainda segundo a nota, a avaliação é "pífia" e usa métodos não reconhecidos. Segundo a associação, a publicação é um ataque ao setor de cosméticos do Brasil.
    A Nivea afirma que seus produtos são testados na Alemanha seguindo protocolos internacionais de qualidade e que discorda dos resultados da Proteste. Em nota, a empresa informa que não teve acesso ao estudo na íntegra e por isso não pôde avaliar os métodos usados.
    A Energizer, que produz o Banana Boat, afirma que ainda vai revisar os dados enviados pela reportagem. "A empresa cumpre as normas de certificação da Anvisa."
    A La Roche-Posay diz que todos os dados contidos no rótulo de seu filtro solar foram comprovados em testes feitos com metodologias aprovadas pela Anvisa e que desconhece os métodos usados pela Proteste.
    Segundo a empresa, o filtro Anthelios Hélioblock já apresenta uma relação entre proteção UVA e UVB maior do que a exigida pelos padrões europeus, "embora essa recomendação entre em vigor no Brasil só a partir de 2014".
    O Boticário declarou cumprir todos os requisitos da legislação vigente.
    A Avon afirma que garante a segurança e a eficácia de todos os seus produtos, realizando os testes aprovados pelas entidades reguladoras.
    O laboratório Schering Plough, detentor da marca Coppertone no Brasil, declarou que todos os produtos são aprovados com rigor científico e obedecem a padrões nacionais e internacionais.
    Em nota, a Cenoura&Bronze afirma seguir os padrões exigidos pela Anvisa e que sua linha com FPS 30 foi submetida recentemente a testes que comprovaram a eficácia do produto.
    A Kimberly-Clark Brasil, que detém a marca Huggies Turma da Mônica, afirma que avalia seus produtos periodicamente, para manter seus padrões de qualidade e atender aos requisitos da Anvisa.
    A Sundown, da Johnson &Johnson, declarou que seus produtos passam por testes em instituições idôneas.
    A Red Apple e a L'Oreal foram procuradas, mas não se pronunciaram. (DM)

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