Calendário Pirelli 2013 se volta para beleza interior
Publicação clicada no Rio deixa de lado a famosa nudez das modelos
O fotógrafo de guerra Steve McCurry, 62 anos, é o responsável pelas imagens que flertam com clichês brasileiros
A trinca não desaparece de todo na 40ª edição do tomo, lançada ontem no Rio. Mas há agora também um verniz de consciência social a cobrir as 34 imagens do calhamaço, feitas entre becos, favelas e parques da capital fluminense, em maio deste ano.
A ampliação conceitual é operada pelo fotógrafo norte-americano Steve McCurry, 62, conhecido por seus retratos em zonas de guerra, como o Camboja dos anos 1970 e o Afeganistão dos anos 1980.
É dele o clique da jovem afegã de burca e hipnotizantes olhos verdes estampada em capa da revista "National Geographic" que rodou o mundo.
"Nos dois, trata-se de estabelecer relações pessoais de confiança", diz ele, comparando o trabalho em áreas conflagradas ao de agora.
"As modelos são profissionais e querem ser respeitadas. Em zonas de guerra, é a mesma coisa. Se você trata as pessoas corretamente, elas ficam mais dispostas a cooperar."
Sucedendo a nomes-fetiche nas rodas fashion, como Patrick Demarchelier e Karl Lagerfeld, McCurry escalou apenas modelos que desenvolvessem trabalhos de inclusão social ou tivessem laços com ONGs. E, na contramão da tradição do calendário, deixou-as vestidas dos pés à cabeça.
"A nudez teria desviado o trabalho de seu ponto central. Parecia mais apropriado que elas estivessem como você as veria se as encontrasse na rua", explica. "Mas a sensualidade vêm à tona tanto quanto se elas estivessem nuas."
CLICHÊS
Os laivos de politicamente correto se estendem à escolha de locações como o morro Dona Marta, a favela "hype".
E o discurso subjacente reedita clichês recentes sobre o Brasil ascendente (na linha "cores vibrantes de um gigante que desperta") e antigos sobre virtudes (ao alardear a escolha de modelos dotadas de "beleza interior", para além da visível a olho nu).
Ao longo do calendário, o fotógrafo alterna ângulos fechados com panoramas em que modelos como Isabeli Fontana e Adriana Lima são um elemento a mais em cornucópias de composição que incluem transeuntes, grafiteiros, bondinhos de Santa Teresa e "pontas" de Marisa Monte e Sônia Braga.
E há ainda flagrantes da vida cotidiana carioca, do tal "mundo real" sem biquinhos ou poses: lá estão os capoeiristas em roda, a feirante vaidosa, a bela que se exercita. São as "situações achadas" pelas quais o americano se diz fascinado.
O jornalista viajou a convite da Pirelli
- "Hoje há nudez em todo lugar", diz atriz Sophia Loren
Madrinha do calendário Pirelli 2013, italiana fala que retratos são válidos se feitos com bom gosto e amor por mulher fotografada
Lex Van Lieshout/Efe | |
DO ENVIADO AO RIOAssociada, ao longo de mais de 60 anos de carreira, a personagens voluptuosas, de sensualidade destemida, a atriz italiana Sophia Loren, 78, mostra-se mais pudica longe de suas encarnações cinematográficas.
Ela veio ao Rio para o lançamento do calendário Pirelli 2013, do qual é madrinha. Na edição 2007, aos 72 anos, fez sua estreia na publicação dividindo o foco com as colegas Naomi Watts, Hillary Swank e Penélope Cruz, todas gerações mais novas.
"Quando me chamaram, pedi um ou dois dias para pensar", lembra, em entrevista da qual a Folha participou, anteontem. "Não é que estivesse temerosa, mas era fato que o calendário sempre tinha nus. E isso não me interessava nem um pouco, porque tenho família e dois filhos homens."
Após saber o que o casal holandês responsável pelos retratos tinha em mente (um ensaio com acenos de sensualidade, mas figurino completo), aceitou o convite, não sem insinuações de diva. "Você sempre pode se opor e dizer que está indo embora..."
Em tom de quase reprovação, Loren diz que hoje "há nudez em todo lugar" e que o expediente só é válido se for empregado "com bom gosto, amor pela mulher que se está fotografando e uma ideia, uma intenção".
As lentes do cineasta Vittorio De Sica (1901-1974) certamente tiveram por ela um enamoramento assim. Com o realizador de "Ladrões de Bicicleta" (1948), rodou "O Ouro de Nápoles" (1954) e "Duas Mulheres" (1960), que lhe valeu um Oscar de melhor atriz, entre outros.
"Estávamos sempre juntos, como um pai e uma filha. Confiava nele totalmente [...] Era um Deus", afirma ela, antes de saudar Marcello Mastroianni (1924-1996), com quem atuou em vários longas de De Sica. "Foi um grande companheiro. Nunca nos vimos fora de um set, mas torcíamos muito um pelo outro."
Após a partida dos baluartes da era de ouro do cinema italiano, Loren se recolheu. Nos últimos anos, tem se contentado com aparições em filmes para televisão. O papel mais notável foi em"Nine", de Rob Marshall, há três anos
Em 2002, deu um empurrão ao filho cineasta, Edoardo Ponti (sobrenome herdado do pai, o produtor Carlo Ponti), atuando em seu longa de estreia, "Desejo de Liberdade". "A primeira semana [no set] foi bem difícil. Ficava lembrando dele pequenininho, nos meus braços. Mas depois passou. Acho que fizemos um bom filme juntos", conta, camuflando em vão a corujice. (LN)
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