PAULA CESARINO COSTA
Brasileiros d'além-mar
RIO DE JANEIRO - Difícil andar nas pedras portuguesas que calçam boa parte do Rio sem ouvir língua estrangeira. Inglês, francês, espanhol, italiano. E aquele português luso, que dá, por segundos, a dúvida sobre qual idioma está a ser falado.
Entre num elevador no centro e terá ao lado engravatados discutindo em norueguês. Suba a ladeira de uma favela e ao fim encontrará um casal elogiando a vista em francês. Num restaurante ouvirá mulheres a discutir o cenário das artes plásticas brasileiras, com sotaque lusitano.
Desde os degredados enviados para cá no século 16, recebemos nossos "colonizadores". Vieram ainda comerciantes, homens em busca de ouro, nobres que acompanharam a corte -portugueses de muitos perfis. Em várias épocas, motivados pela crise.
A história se repete, hoje. Em busca de dinheiro, de esperança ou só de alegria, estão aqui, de passagem ou de mudança. A situação lá é crítica.
Nesta semana, escritores portugueses atravessaram o oceano, subiram o morro dos Prazeres, em Santa Teresa, para falar de literatura no primeiro festival literário numa favela, lançaram seus livros no centro da cidade (onde o Rio é quase Lisboa) e debateram na universidade. A literatura, parece, não entrou em crise.
João Ricardo Pedro e Nuno Camarneiro são engenheiros que se apaixonaram pela literatura. Patrícia Portela parte do teatro e da multimídia. Sandro William Junqueira se divide entre a escrita e aulas de dramatização. Patrícia Reis começou no jornalismo e não se lembra de não escrever.
Não se surpreenderam com a cidade -já viram toda nas novelas. Perderam-se nas estantes com autores brasileiros que lá não chegaram.
Patrícia Reis, que lança "Por este Mundo Acima", resumiu: "Se colocarmos o mapa do Brasil em cima da Europa alargada, o Brasil é maior. É um continente". Todos que vieram, diz, têm um mesmo sentimento de pertença: também somos brasileiros.
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