segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Editoriais FolhaSP

FOLHA DE SÃO PAULO

Brasil não competitivo
Entraves como carga tributária excessiva e mão de obra desqualificada fazem país perder na comparação com outros emergentes
Mais um ano termina sem que o Brasil consiga melhorar sua posição em matéria de competitividade internacional, como mostra uma classificação de países emergentes elaborada por iniciativa da Confederação Nacional da Indústria.
Entre as 14 nações consideradas, o Brasil aparece em 13º lugar, mesmo patamar que alcançara na pesquisa de 2010. A Argentina ficou com o último lugar em ambos os levantamentos.
O estudo mede o potencial competitivo de países com características semelhantes na disputa pelo mercado externo. Custo da mão de obra e do capital, infraestrutura e peso dos tributos estão entre os 16 aspectos avaliados.
O péssimo desempenho do Brasil no ranking e o fato de não ter avançado nenhuma posição nos últimos dois anos já são motivos suficientes para consternação. O cenário fica ainda mais decepcionante, contudo, quando se observa quais países obtiveram resultados melhores na pesquisa.
Não seria o caso, decerto, de frustrar-se com os líderes dessa classificação de competitividade. Canadá, Coreia do Sul, Austrália, China e Espanha, os cinco primeiros colocados, levam larga vantagem sobre o Brasil em itens cruciais como educação, infraestrutura e tecnologia. Não há como promover grandes progressos nesses pontos nevrálgicos em dois anos.
Mas o que dizer da Índia, que passou da 11ª para a sexta colocação de um levantamento para o outro? Por que o Brasil não consegue reproduzir, mesmo que em proporções menores, o salto de competitividade do país asiático?
Mesmo que, por seu caráter excepcional, a evolução da Índia seja desconsiderada, nem por isso a posição brasileira se mostra menos inquietante. À frente do Brasil ainda estão Chile, África do Sul, Polônia, Rússia, Colômbia e México, economias que dificilmente podem ser consideradas avançadas.
A rigor, a pesquisa da CNI não traz grandes novidades. Apenas reitera a percepção, difundida entre empresários e investidores brasileiros, de que o país não consegue desatar seus nós econômicos.
Desnecessário dizer, a carga tributária sufocante, a infraestrutura deficiente, a mão de obra cara e pouco qualificada e o alto custo do capital são as âncoras que mantêm o Brasil imóvel nesse tipo de comparação internacional.
Alterar essa situação leva mais que dois anos, é verdade. Seria injusto cobrar apenas o governo Dilma Rousseff pelo insucesso. A atual presidente, contudo, é responsável pelas medidas que, adotadas hoje, podem levar o Brasil a um novo patamar. Também quanto a isso, todavia, o futuro não se mostra animador.

    EDITORIAIS
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    Pílula dourada
    As tentativas de setores da indústria farmacêutica de favorecer seus produtos distorcendo resultados de estudos científicos não apenas configura uma maneira pouco ética de conquistar mercado como também compromete as fundações da pesquisa médica. A ciência, como se sabe, avança quando a informação circula livremente.
    Um artigo de revisão publicado pela rede Cochrane (organização especializada nessas investigações comparativas) reuniu 48 artigos que avaliavam resultados de milhares de estudos da indústria farmacêutica e concluiu que eles nem sempre merecem confiança.
    Os pesquisadores, ligados ao Hospital Nacional da Dinamarca, afirmam que artigos encomendados pelos laboratórios apresentam um viés favorável ao produto analisado com uma frequência significativamente maior do que trabalhos similares que não contam com o patrocínio da indústria.
    Uma das formas mais comuns de pintar um quadro favorável à droga testada é fazer afirmações sobre sua eficácia que não são amparadas pelos dados. Outros recorrem à via negativa, menosprezando os efeitos indesejáveis do fármaco.
    Por vezes, a intenção de manipular resultados pode ser observada até no desenho da pesquisa. Segundo o artigo de revisão, alguns trabalhos comparam o produto avaliado com uma droga antiga, que já não é o tratamento padrão, ou com subdoses do fármaco de referência, de modo a vitaminar o desempenho do produto novo.
    Outro truque é simplesmente não publicar os resultados desfavoráveis. Essa é uma prática comum no segmento dos antidepressivos.
    Não é demais insistir que essas atitudes configuram uma espécie de fraude, já que tanto médicos como pacientes são levados a acreditar num perfil de eficácia que não existe.
    E não se trata, nesses casos, de publicidade, onde dourar a pílula faz parte do jogo. São trabalhos científicos, nos quais, vale lembrar, cada afirmação teria de estar amplamente documentada.
    Como sustentam os autores da revisão, é preciso insistir em medidas que reduzam essa distorção. Em primeiro lugar, as autoridades reguladoras devem exigir que os laboratórios publiquem todas as pesquisas que patrocinam -inclusive aquelas que chegam a resultados desfavoráveis.
    Para melhorar a qualidade dos ensaios clínicos, o ideal seria que os estudos fossem, na medida do possível, conduzidos por pesquisadores independentes. Mais do que ações de empresas, é a saúde das pessoas que está em jogo.

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