Estado de Minas: 05/12/2012
É enternecedor o carinho de nossa grande imprensa com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Sempre que o entrevistam, é uma conversa amena. Percebe-se a alegria dos jornalistas em estar na sua presença.
O tom é cordial, as perguntas são tranquilas. Tudo flui na camaradagem.
O que não chega a ser surpreendente. FHC é um boa prosa, que sabe agradar os interlocutores. Além de ser uma pessoa respeitável, seja pela trajetória de vida, seja por sua maturidade.
Natural que o tratem com consideração.
Estranho é constatar que a amabilidade com que é recebido não se estende a seu sucessor. A mesma imprensa que o compreende tão bem costuma ser intransigente com Lula. Para não dizer francamente hostil e deselegante.
Quem lê o que ela tem falado a respeito do petista nos últimos dias e o compara ao tratamento que recebe Fernando Henrique deve achar que um deixou a Presidência escorraçado e o outro sob aplauso. Que a população odeia Lula e adora o tucano.
Esta semana, tivemos mais um desses bate-papos. Saiu na Folha de S. Paulo.
FHC discorreu sobre o Brasil e o mundo. Falou do PSDB, de Aécio e Serra. Meditou sobre o julgamento do mensalão com a sabedoria de quem o vê a prudente distância. Opinou sobre Dilma e Lula. Contou de sua vida particular, a família e os amores.
Foi uma longa conversa, sóbria e comedida – embora com toques de emoção.
Mas foi frustrante. Acabou sendo mais uma oportunidade perdida para ouvir FHC sobre algumas questões que permanecem sem resposta a respeito de seu governo.
É pena. Não está na moda “passar o Brasil a limpo”? “Mudar o Brasil”? “Ser firmes e intransigentes com a verdade”?
Ninguém deseja que Fernando Henrique seja destratado, hostilizado com perguntas aborrecidas e impertinentes. Que o agridam.
Um dia, no entanto, bem que alguém poderia pedir, com toda a educação, que falasse.
Que contasse sua experiência como líder do governo Sarney no Congresso, quando viu (só viu?) mais de mil concessões de televisão e rádio fazer parte das negociações em troca de apoio parlamentar.
Que descrevesse o projeto de o PSDB permanecer no poder por 20 anos e como seria posto em prática, quais as alianças e como seria azeitado (sem esquecer a distribuição, sem licitação, de quase 400 concessões de TVs educativas a políticos de sua base).
Que relembrasse os entendimentos de seu operador com o baixo clero da Câmara para aprovar a emenda da reeleição. Quanto usou de argumentos. E o que teve que fazer para que nenhuma CPI sobre o assunto fosse instalada.
Que apontasse os critérios que adotou para indicar integrantes dos tribunais superiores e nomear o procurador-geral da República. Que explicasse como atravessou oito anos de relações com o Judiciário em céu de brigadeiro.
Que refletisse sobre o significado de seus principais assessores econômicos tornarem-se milionários imediatamente após sair do governo – coisa que, se acontecesse com um petista, seria razão para um terremoto.
Enfim, FHC poderia em muito ajudar os amigos. Esses que fingem ter nascido ontem e se dizem empenhados em “limpar” a política.
Bastaria que resolvesse falar com clareza.
No mínimo, diminuiria a taxa de hipocrisia no debate atual e reduziria o papo furado. O que é sempre bom.
Sempre que o entrevistam, é uma conversa amena. Percebe-se a alegria dos jornalistas em estar na sua presença.
O tom é cordial, as perguntas são tranquilas. Tudo flui na camaradagem.
O que não chega a ser surpreendente. FHC é um boa prosa, que sabe agradar os interlocutores. Além de ser uma pessoa respeitável, seja pela trajetória de vida, seja por sua maturidade.
Natural que o tratem com consideração.
Estranho é constatar que a amabilidade com que é recebido não se estende a seu sucessor. A mesma imprensa que o compreende tão bem costuma ser intransigente com Lula. Para não dizer francamente hostil e deselegante.
Quem lê o que ela tem falado a respeito do petista nos últimos dias e o compara ao tratamento que recebe Fernando Henrique deve achar que um deixou a Presidência escorraçado e o outro sob aplauso. Que a população odeia Lula e adora o tucano.
Esta semana, tivemos mais um desses bate-papos. Saiu na Folha de S. Paulo.
FHC discorreu sobre o Brasil e o mundo. Falou do PSDB, de Aécio e Serra. Meditou sobre o julgamento do mensalão com a sabedoria de quem o vê a prudente distância. Opinou sobre Dilma e Lula. Contou de sua vida particular, a família e os amores.
Foi uma longa conversa, sóbria e comedida – embora com toques de emoção.
Mas foi frustrante. Acabou sendo mais uma oportunidade perdida para ouvir FHC sobre algumas questões que permanecem sem resposta a respeito de seu governo.
É pena. Não está na moda “passar o Brasil a limpo”? “Mudar o Brasil”? “Ser firmes e intransigentes com a verdade”?
Ninguém deseja que Fernando Henrique seja destratado, hostilizado com perguntas aborrecidas e impertinentes. Que o agridam.
Um dia, no entanto, bem que alguém poderia pedir, com toda a educação, que falasse.
Que contasse sua experiência como líder do governo Sarney no Congresso, quando viu (só viu?) mais de mil concessões de televisão e rádio fazer parte das negociações em troca de apoio parlamentar.
Que descrevesse o projeto de o PSDB permanecer no poder por 20 anos e como seria posto em prática, quais as alianças e como seria azeitado (sem esquecer a distribuição, sem licitação, de quase 400 concessões de TVs educativas a políticos de sua base).
Que relembrasse os entendimentos de seu operador com o baixo clero da Câmara para aprovar a emenda da reeleição. Quanto usou de argumentos. E o que teve que fazer para que nenhuma CPI sobre o assunto fosse instalada.
Que apontasse os critérios que adotou para indicar integrantes dos tribunais superiores e nomear o procurador-geral da República. Que explicasse como atravessou oito anos de relações com o Judiciário em céu de brigadeiro.
Que refletisse sobre o significado de seus principais assessores econômicos tornarem-se milionários imediatamente após sair do governo – coisa que, se acontecesse com um petista, seria razão para um terremoto.
Enfim, FHC poderia em muito ajudar os amigos. Esses que fingem ter nascido ontem e se dizem empenhados em “limpar” a política.
Bastaria que resolvesse falar com clareza.
No mínimo, diminuiria a taxa de hipocrisia no debate atual e reduziria o papo furado. O que é sempre bom.
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