Mariana Peixoto
Estado de Minas: 05/12/2012
Bonde da Juju não está no rádio, tampouco na televisão. Mas no YouTube, o clipe da música de Backdi e Bio G3 já foi visto 2,5 milhões de vezes. E Juju não é uma garota, apelido de Juliana ou Júlia. Faz referência a Juliet, um dos modelos mais conhecidos de óculos da Oakley (lentes coloridas, design futurista), marca esportiva norte-americana. É também o primeiro grande hit do chamado funk ostentação, versão paulista do batidão carioca, que ganhou na rede seu principal meio de divulgação.
Backdi e Bio G3, MC Dedê, MC Boy do Charmes e tantos outros são quase que uma resposta ao que os rappers americanos 50 Cent e Snoop Dogg vêm fazendo há uma década. Ainda que a sonoridade seja outra, os temas são basicamente aos mesmos: mulheres, carrões, baladas, marcas de roupas e ouro, muito ouro. O “uniforme” que os MCs usam nos clipes inclui pesados cordões e anéis, além bonés, óculos e tênis. Tudo “de marca”, como preza a cartilha. Mas ao contrário dos colegas cariocas, eles não falam palavrões, nem fazem referência ao crime organizado e ao tráfico de drogas, como preconiza o proibidão, uma das vertentes mais propagadas do funk.
O primeiro retrato dessa geração está em Funk O$tentação, documentário de 36 minutos que, desde que foi lançado na internet, há três semana, teve 220 mil visualizações. “Nossa ideia é de que o filme fosse visto também por pessoas que não conhecem os artistas. Eles, até então, só existiam a partir dos clipes, não tinham uma história construída. Queríamos mostrar como o funk chegou na Baixada Santista e de lá foi para a capital, onde tomou a característica de ostentação”, explica Renato Barreiros, que assina o média-metragem ao lado de Konrad Dantas.
A dupla está mais do que inserida neste cenário. Konrad é mais conhecido como KondZilla, dono da produtora homônima que já dirigiu 50 clipes dos MCs paulistas. Já Barreiros foi um dos responsáveis diretos para a propagação do gênero. Em 2005, como o documentário conta, o funk carioca chegou a Santos, migrando rapidamente para a periferia de São Paulo.
Três anos mais tarde, Barreiros foi nomeado subprefeito da Cidade Tiradentes, o último bairro da Zona Leste – hoje coordena quatro centros culturais da região e é pesquisador de texto do programa Esquenta, que Regina Casé apresenta na Globo. “Estava fazendo um trabalho com a juventude de lá. Promovíamos shows de rock e ninguém ia. Comecei a conversar com a galera para tentar entender porque não estavam indo. ‘Não gostamos de rock, gostamos de funk’”, foi o que ele mais ouviu. Decidiu, então, criar um festival de funk. Como o evento não podia fazer apologia às drogas e ao crime, a regra era: as letras tinham que ser conscientes, que falassem da realidade de onde viviam.
MC Dedê levou o primeiro lugar do festival, que naquela edição reuniu 25 mil pessoas. A música levava o nome de Jogar bola e estudar. Pouco depois, o Bonde da Juju estourou – “foi a música mais executada na periferia entre 2008 e 2009”, relembra Barreiros – inaugurando a vertente ostentação, cuja principal referência é o consumo. O tema vem de encontro com a chamada ascensão da classe C como atesta letras de Onde eu chego eu paro tudo, do MC Boy do Charmes, o maior hit do ostentação: “Não é imaginação/ É a realidade/ Já virou passado/ Miséria, necessidade.”
Os clipes, que ganharam um certo grau de profissionalismo desde que começaram a ser produzidos por KondZilla (até então os vídeos traziam não mais do que fotos em slide), expressam literalmente as letras. Os MCs, geralmente a bordo de carrões, cantam as letras em ambientes que trazem um pouco da vida na periferia misturada a outros cenários. As mulheres apareceram mais recentes. “Elas são exaltadas, como nas músicas As minas do camarote e Ela é top”, continuam
Para além da periferia, o ostentação vem ganhando outros cenários. Os MCs estão fazendo shows nas cidades do ABC paulista, em áreas nobres da capital e também em outros estados. Muitos já foram a Recife e Florianópolis. E o Rio de Janeiro reconhece o funk ostentação. A MC Pocahontas, carioca, que começou com letras com forte cunho sexual, mudou de temática e é um nome conhecido do gênero paulista. “Em São Paulo, ele só não chegou ainda à classe A, que ouve muito eletrônico”, continua Barreiros.
Como fenômeno de internet, o ostentação começa a entrar em outras frentes, mesmo que se maneira bem pontual. Alguns MCs fizeram pequenas participações em programas do Ratinho e da Luciana Gimenez. Os MCs Dedê e Guime gravaram, na última semana, para o programa Esquenta, em edição que irá ao ar no dia 30.
personagem
da notícia
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Bufunfa não é problema
Josley Caio Faria tem 23 anos. Mora na Cidade Tiradentes, o último bairro da Zona Leste de São Paulo, em apartamento com a mulher e a filha. A dois quarteirões de onde vive, moram sua mãe e cinco irmãos, todos mais novos que ele. Em casa, Josley também tem 30 pares de tênis, duas correntes de ouro, 12 anéis. Na garagem, dois carros: um Idea Adventure e uma Tucson, que vão ser trocados, ainda este ano, por uma Range Rover Evoque (um modelo zero custa entre R$ 400 mil e R$ 500 mil).
Quando sai pelo bairro para encontrar os amigos, ele tenta ser o mais discreto possível. “Porque tem muitas pessoas com problemas, molequinho de sapato furado. Todo mundo é mais simplezinho.” Só o carrão que ele não abre mão. Fora, não dá a mínima. MC Dedê quer mesmo é ostentar, ainda mais “quando vejo cara usando cordão, relógio.”
O dinheiro não está faltando. Trabalho também não. Somente no último fim de semana, Dedê fez nove shows (somando os todos os dias da semana, a média dá 14 apresentações). São mais aparições, pois ele não fica no palco mais do que 25 minutos. Canta os hits e parte logo para a próxima. “Em São Paulo os shows são em casas noturnas; no interior, em clubes.” Diz que toca em várias regiões da cidade. “Mas ainda não chegamos na Vila Olímpia (região nobre).” As letras versam sobre: “carro, ouro, moto, bebida, mulher bonita, roupa de marca, pular de asa delta, de paraquedas.”
Mas Dedê já viveu tudo isso. “Pular de paraquedas ainda não, tenho medo. Não ando nem de teleférico”, admite ele, que hoje tem sete funcionários. Como a vida anda boa, é hora de mudar. “Já tenho a bufunfa para comprar outra casa.” Pretende continuar na Zona Leste. Só que o Tatuapé, o primeiro bairro (e mais nobre) daquela região.
Febre no
YouTube
Onde eu chego
eu paro tudo
(MC Boy do Charmes)
21 milhões de visualizações
“Onde eu chego eu paro tudo
A mulherada entra em pane
Meu cordão é um absurdo
Meu perfume é da Armani”
Como é bom ser
vida loka
(MC Rodolfinho)
15 milhões de visualizações
“Traz bebida pras gatona
Deixa elas malucona
Camarote, área vip, baladinha monstra,
Ai meu deus como é bom ser vida loka”
Olha o kit
(MC Dedê)
2,5 milhões de visualizações
“Olha o kit, olha o kit, olha o kit
No estilo muleque top
Puma Disk, uma Ecko e a bombeta da Lacoste”
Bonde da Juju
(Backdi e Bio G3)
2,5 milhões de visualizações
“É o Bonde da Juju
Ó os mano só de Juju
Porque água de bandido
É whisky Red Bull”
YouTube
Onde eu chego
eu paro tudo
(MC Boy do Charmes)
21 milhões de visualizações
“Onde eu chego eu paro tudo
A mulherada entra em pane
Meu cordão é um absurdo
Meu perfume é da Armani”
Como é bom ser
vida loka
(MC Rodolfinho)
15 milhões de visualizações
“Traz bebida pras gatona
Deixa elas malucona
Camarote, área vip, baladinha monstra,
Ai meu deus como é bom ser vida loka”
Olha o kit
(MC Dedê)
2,5 milhões de visualizações
“Olha o kit, olha o kit, olha o kit
No estilo muleque top
Puma Disk, uma Ecko e a bombeta da Lacoste”
Bonde da Juju
(Backdi e Bio G3)
2,5 milhões de visualizações
“É o Bonde da Juju
Ó os mano só de Juju
Porque água de bandido
É whisky Red Bull”
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