quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Promessa de alívio para desconforto -Vanessa Jacinto‏

Técnica italiana para tratar hemorroidas é divulgada no Brasil. Mal atinge 50% da população mundial acima de 50 anos, diz OMS, e é considerado constrangedor por seus portadores 

Vanessa Jacinto
Estado de Minas: 05/12/2012 


Depois de conviver durante anos com os incômodos sintomas da doença hemorroidária (DH) e de adiar a intervenção cirúrgica por medo do desconforto no pós-operatório, o representante comercial Alberto Fontich finalmente encontrou um procedimento que atendia suas expectativas. Há pouco menos de três meses, ele se submeteu a uma técnica que ainda é novidade no Brasil, mas que, desde 2003, vem sendo amplamente usada em toda a Europa.
“Minha vida mudou, pois não tenho mais os inconvenientes relacionados à doença. Pude voltar a andar de bicicleta, o que faço três vezes por semana, e não tive mais nenhum episódio de sangramento ou de dor. Minha qualidade de vida melhorou muito”, diz.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a hemorroida acomete mais de 50% da população mundial acima dos 50 anos. Vista como uma doença constrangedora por seus portadores, ela se dá em função da dilatação das veias que se encontram na parte final do intestino. Com medo ou vergonha de procurar um médico e um tratamento, muitas pessoas acabam recorrendo a soluções caseiras de controle do problema. No entanto, segundo as especialistas, tal comportamento só piora o estado da doença e atrasa o tratamento. 
O procedimento ao qual o representante Alberto Fontich se submeteu consiste na introdução de um proctoscópio rotativo no canal anal do paciente, por meio do qual é feito um reposicionamento das hemorroidas pelo levantamento da mucosa anorretal, através de seis suturas em “z” nas posições dos seis ramos terminais da artéria hemorroidária superior. Ao ter esses seis ramos suturados, a artéria hemorroidária minimiza a pressão sanguínea, que não vai mais formar novas hemorroidas. “É interessante observar que as hemorróidas não são retiradas. Elas são levantadas e, com o tempo, absorvidas pelo organismo”, explica a médica Yaima Guerrero, que esteve recentemente no Brasil para difundir a técnica.
Segundo ela, para os portadores da doença, de fato, o maior temor dos tratamentos convencionais é a dor, tanto na cirurgia como no pós-operatório. É o que impede muita gente de procurar o médico e resolver o problema, exatamente como ocorreu com Alberto. Entre as várias vantagens do uso da nova técnica estão a minimização da dor, a anestesia local, o tempo mais curto do procedimento (entre 15 e 20 minutos), que, na maioria dos casos, ainda pode ser realizado em ambulatório (exceto em situações nas quais existe alguma contraindicação), o rápido retorno às atividades e o baixo índice de complicações. 
Yaima conta que, em estudo realizado com 1.112 pessoas entre 2003 e 2006, na Itália, 96% dos pacientes tiveram alta seis horas depois da cirurgia e 82% tiveram suas atividades fisiológicas normalizadas 24 horas depois do procedimento. “Houve apenas 6,4% de recorrência, índice não superior ao descrito na literatura médica para as outras técnicas”, afirma. 
O procedimento trata principalmente as hemorroidas de grau três, mas pode abranger também as de grau dois que não respondam ao tratamento médico conservador, conforme destaca a coloproctologista Beatriz Deoti, professora-adjunta do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A doença hemorroidária não tem causa definida. Muitas vezes, ela está associada a constipação e aos maus hábitos ao defecar (ficar muito tempo sentado no banheiro, fazer muita pressão etc.). Hereditariedade e gravidez também são comumente associadas ao problema, no último caso devido à pressão constante pelo peso da gestação e o esforço de dar à luz. Outras possíveis causas são a hipertensão portal, devido ao aumento da pressão venosa; ficar muito tempo em pé ou carregar muito peso, o que pode favorecer ou agravar os sintomas; excesso de peso, por causar aumento da pressão abdominal sobre o assoalho pélvico, além de maus hábitos alimentares e uma vida sedentária. Porém, nenhum desses fatores de risco explicam adequadamente a causa do processo, como afirma a professora Beatriz Deoti. Para se prevenir do problema, ela recomenda dieta rica em frutas e fibras, ingestão de grande quantidade de água, e hábito regular de ir ao banheiro.

Tratamentos

 Para hemorroidas de primeiro e segundo graus, o tratamento pode ser feito apenas com dieta rica em fibras e muita ingestão de água. Em algumas situações, pode-se recorrer ao tratamento tópico ou local, com pomadas e supositórios.
 O tratamento cirúrgico de hemorroidas é geralmente indicado para hemorroidas de graus três 
e quatro, ou até mesmo as de grau dois que não respondam ao tratamento médico conservador. 
 As opções cirúrgicas atuais variam de técnicas minimamente invasivas até a hemorroidectomia clássica. Entre as opções cirúrgicas estão:
1. Ligadura com faixa elástica (banding hemorroidal): Coloca-se uma faixa elástica ao redor da base da hemorroida para impedir o fluxo sanguíneo. Posteriormente, o tecido cai por si só.
 
2. Esclerose hemorroidária: Injeta-se um agente esclerosante na base da hemorroida, o que resulta na degeneração do tecido hemorroidal.
 
3. Hemorroidectomia: É cirurgia efetuada em hemorroidas de graus três e quatro, envolvendo a retirada dos principais mamilos hemorroidários. As duas técnicas mais utilizadas são a aberta de Milligan-Morgan (a ferida da cirurgia fica aberta e cicatriza-se espontaneamente) e a fechada de Ferguson, quando as feridas são suturadas ao final do procedimento.
 
4. Hemorroidopexia e mucopexia: Essas técnicas recolocam os mamilos hemorroidários em suas localizações de origem, e podem ser feitas por meio  
de grampos, sonda doppler, laser ou de um anuscópio rotatório.

Hemorroida é uma estrutura anatômica normal. É o conjunto de plexos venosos do ânus, responsáveis por proteger o canal anal, ajudar a manter a continência fecal e realizar drenagem venosa da região. Este nome é popularmente usado para definir Doença hemorroidária (DH) dessas veias, acompanhadas ou não de inflamação, sangramento, incômodo ou trombose. 

 
Sintomas

Dor, sangramento e prolapso retal (parte do reto que se exterioriza), durante e após a defecação, são alguns dos principais sintomas da doença. As hemorroidas podem ser internas (que ficam acima, entre 2cm e 2,5cm do ânus, e são recobertas pela mucosa intestinal), ou externas (se formam no canal anal e são recobertas por uma pele bem sensível). 

 
Tipos

Elas também podem variar quanto ao grau de gravidade:
 
 1º grau - São pequenas e, geralmente, assintomáticas. Bastante comuns, elas podem crescer ao longo do tempo;
 2º grau - Um pouco maiores e podem se exteriorizar 
na hora da evacuação. Contudo, tendem a diminuir espontaneamente;
 3º grau - Se exteriorizam com esforço ao defecar e é necessário reintroduzi-las manualmente;
 4º grau - Ficam permanentemente fora do ânus. 
É impossível reintroduzi-las.

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