Rebeca Ramos
Estado de Minas: 27/12/2012
A qualidade de vida de um adulto está intimamente ligada ao prazer. No campo da sexualidade, isso significa que as relações precisam ser saudáveis e agradáveis, independentemente do gênero. Problemas físicos e fisiológicos, no entanto, comprometem essa equação entre as mulheres. E muitas delas, por constrangimento ou desconhecimento, passam anos ou até mesmo a vida toda sem conseguir resolvê-los. Para prevenir os transtornos, os especialistas são enfáticos: é preciso estar sempre em dia com as consultas médicas e cuidar do bem-estar físico.“A relação sexual é uma atividade que demanda muita energia. Quando o organismo encontra-se abatido, ele tende a concentrar toda a sua força no combate ao que lhe causa mal. Sendo assim, sobra pouca energia para a atividade sexual”, explica a psicóloga e sexóloga Lorena Torres Noronha. De acordo com o ginecologista Paulo Henrique Cordeiro, as patologias ginecológicas que mais comprometem a resposta sexual são as leucorreias, as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), a doença inflamatória pélvica (DIP) e a endometriose. “O câncer do aparelho reprodutor feminino pode evoluir com lesões ulceradas, vegetantes, sangrantes, que vão prejudicar a atividade sexual”, descreve.
O diabetes também interfere à medida que a patologia avança, causando queda das defesas imunológicas e abrindo as portas para um quadro de infecções vaginais recorrentes, como a candidíase e a vaginose bacteriana. “É recomendável que a mulher vá ao ginecologista pelo menos uma vez ao ano, independentemente de ela ter uma vida sexual ativa. É importante lembrar que doenças sexualmente transmissíveis são muito mais agressivas no corpo da mulher”, alerta Lorena. Ela usa o papilomavírus humanos (HPV) como exemplo da complexidade dos efeitos das DSTs no organismo feminino. Embora não cause tanto transtorno no homem, na mulher o HPV pode gerar câncer do colo do útero. “Sendo assim, é indispensável fazer o controle anual para evitar que algo simples se transforme em uma doença grave”, ressalta.
Uma etapa natural do ciclo reprodutivo feminino, a menopausa também influencia no desempenho sexual. Nessa fase, explica Paulo Henrique, ocorre uma diminuição na produção ovariana dos hormônios esteroides, levando a uma perda da libido. Há também redução da produção estrogênica, que pode resultar em desconfortos que também comprometem a relação com o parceiro, como fogacho, sudorese, ressecamento vaginal e dispareunia (dor na relação). “Essas e outras consequências da menopausa podem ser tratadas com a reposição hormonal, que, devidamente instituída e acompanhada, levará a uma melhoria da qualidade de vida”, pondera o ginecologista.
Reação adversa A libido pode ser prejudicada ainda pela ingestão de remédios. De acordo com o ginecologista e sexólogo Gerson Lopes, a maioria dos antidepressivos é danosa à satisfação sexual. “Ele e os remédios para hipertensão, entre outras drogas, podem induzir à disfunção sexual, mas isso deve ser investigado”, observa. O efeito ocorre principalmente porque há uma diminuição do nível de testosterona no organismo da mulher. “A testosterona, que é um hormônio conhecidamente masculino, está altamente ligada à libido feminina. Quando ele está em baixa no organismo, a pessoa tende a apresentar um menor interesse sexual”, explica.
Os quimioterápicos também podem interferir negativamente no desempenho sexual, mas Gerson Lopes observa que os usuários desse tipo de medicamento geralmente estão em uma fase tão delicada da vida que dificilmente pensam em sexo. A hiperprolactina – aumento do hormônio prolactina, responsável, entre outras coisas, pela produção de leite – é outro problema comum que afeta a libido. Nesse caso, ela pode ser tratado com regulagem hormonal.
Para Gerson Lopes, quando o desejo sexual está insatisfatório, é preciso identificar onde está o foco do problema. “Se for doença, é preciso tratá-la, pois o sexo demanda um corpo saudável, mas às vezes não é uma enfermidade. É falta de interesse no parceiro e a mulher fica buscando culpados”, observa.
Estímulos por todo o corpo
“A nuca, o pescoço, os lóbulos da orelha, os mamilos, as coxas, as nádegas são alguns dos pontos”, pontua Lorena. Ela acrescenta que, de um modo geral, os órgãos sexuais são os pontos erógenos mais contundentes, ou seja, capazes de provocar maior excitação sexual. “Identificar quais são essas regiões nas mulheres é algo muito importante para uma relação sexual prazerosa. Contudo, é preciso lembrar que nem sempre o que excita uma mulher vai excitar outra”, pondera.
De acordo com o ginecologista e sexólogo Gerson Lopes, na entrada da vagina está posicionado um músculo chamado bulbo vestibular. Por ser muito sensível, ele promove prazer no início da penetração. “Quando manipulada a parede anterossuperior da vagina, que corresponde ao corpo interno do clitóris, a mulher sente muito prazer e acredita ter encontrado o ponto G, mas não é verdade. Ele não existe”, justifica. É comum, segundo Lopes, que mulheres percam tempo buscando formas de sentir orgasmo e, dessa forma, não aproveitem o prazer que o sexo pode proporcionar.
“O coito é uma das menores chances de a mulher sentir orgasmo. Entretanto, é possível ter muito prazer sem ter orgasmo. Acredito que a mulher tem o direito de buscar seus orgasmos, mas não é uma obrigação”, afirma Lopes. O foco, ele considera, deve estar na qualidade da vida e do sexo e não em uma única sensação. “A relação sexual pode ser muito prazerosa, mesmo não sendo orgástica”, garante. (RR)
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