quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Dom de criar vida - Walter Sebastião‏


Cinco peças representativas do estilo e da expressividade de dona Izabel fazem parte da mostra no Sesc Palladium

Dona Izabel está no centro de mostra em cartaz na Galeria GTO do Sesc Palladium. Além de peças da artista, ceramistas fazem homenagem por meio de trabalhos contemporâneos 

Walter Sebastião


Estado de Minas: 02/01/2013 
Está em cartaz em Belo Horizonte bela exposição que reverencia, com elegância e inventividade, uma das maiores artistas em atividade em Minas Gerais: a ceramista Izabel Mendes da Cunha, mais conhecida como dona Izabel, criadora de bonecas celebradas no Brasil e no mundo. As cinco peças expostas na Galeria GTO do Sesc Palladium só confirmam o quanto as reverências são merecidas.

Dona Izabel e outros contemporâneos traz obras da artista do Vale do Jequitinhonha em diálogo com criações de nomes atuantes na cena das artes plásticas de BH: Erli Fantini, Yara Tupynambá, Bruno Amarante, Juliana Capibaribe, Lucas Dupin e Adel Souki. Todos reinventam motivos presentes no universo da homenageada.

O curador Jorge Cabrera diz que a mostra reafirma o perfil da Galeria GTO de trabalhar com arte popular e contemporânea. “Nessa homenagem, os artistas mergulham em dimensão poética, que dialoga com o mundo em torno de dona Izabel, inspirando-se nas paisagens e nas tradições do local onde ela mora”, explica.

Dona Izabel é precursora de uma escola. E tem pesquisa definida, ressalta Jorge Cabrera. “Suas bonecas vão muito além do decorativo e das formas tradicionais com que peças assim sempre foram feitas”, explica. Ele cita aspectos que acentuam a natureza artística da empreitada da mestra mineira – a começar do fato de a própria dona Izabel não gostar de ser chamada de artesã. O curador destaca a escolha minuciosa das cores e o cuidado da ceramista para que suas personagens manifestem sentimentos diferentes.

“Os olhos das bonecas de dona Izabel são modelados, não pintados como fazem os outros que se dedicam a esses personagens. Isso confere peculiar qualidade expressiva às peças”, ressalta Jorge Cabrera. As bonecas da mestra do Vale do Jequitinhonha apresentam semelhanças com peças sacras e santos com seus olhos de vidro. Para o curador, a poética da artista mineira se distingue daquela de obras criadas pelos surrealistas. Uma é suave e lírica; a outra, questionadora e agressiva. Cabrera lembra: em ambos os casos, o sistema de construção faz a síntese de várias realidades.

“Dona Izabel é artista especial, tem obra de grande qualidade. Isso fica muito evidente quando se presta atenção às peças feitas por ela”, destaca o curador. Cabrera sugere a quem for à Galeria GTO: “Observe atentamente as bonecas expostas”.

Equilíbrio 


Jorge Cabrera também chama a atenção para um aspecto importante da mostra em cartaz, que propõe o encontro entre a arte popular e a arte erudita, procurando o equilíbrio entre elas. Essa atitude veio da vontade de evidenciar que a essência de ambas é uma só: buscar expressão, sentimento, emotividade, conteúdo poético e sensibilidade. “Por mais que se tente afastar esses aspectos na arte, eles resistem. Seja artista popular ou erudito, ninguém parte para a criação tendo como fundamento bases intelectuais”, adverte o curador.

A diferença entre populares e contemporâneos está na linguagem e nos signos plásticos empregados, acrescenta o curador de Dona Izabel e outros contemporâneos. Entretanto, persiste o preconceito em relação à produção “do artista autodidata”, vista como menor. Cabrera avisa: há cada vez mais pesquisas comprovando a multiplicidade de fontes de onde se origina a arte.

DONA IZABEL E OUTROS CONTEMPORÂNEOS
Esculturas de barro de Izabel Mendes da Cunha. Peças de Erli Fantini, Yara Tupynambá, Bruno Amarante, Juliana Capibaribe, Lucas Dupin e Adel Souki. Galeria de Arte GTO, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro, (31) 3214-5350. De terça-feira a domingo, das 9h às 21h. Até 24 de fevereiro.

Artesãos merecem respeito

Entre as bonecas de dona Izabel expostas na Galeria GTO uma é especial. Ela vem da coleção do Centro de Arte Popular Mineira (Cenart), ponto de venda instalado no Sesc Palladium. Formado ao longo de mais de 40 anos, o acervo conta com cerca de 2 mil peças, calcula Jorge Cabrera. Trata-se de conjunto importante, com criadores donos de obra significativa. Vários deles já morreram.

O curador explica que o conjunto revela formas de artesanato que praticamente já não são mais praticadas. Há a ideia de se criar sala especial para a exposição permanente do acervo. Mostras com recortes temáticos da coleção Cenart estão em cartaz em cinco unidades do Sesc na Grande BH (veja roteiro ao lado). 

“O Cenart é mais que uma loja”, avisa Jorge Cabrera. “Trata-se de ação de assistência ao artesão e ao artista popular, que coloca à disposição do público trabalhos com preços acessíveis”, explica. No local também são promovidas oficinas, exposições e cursos.

“Muitas vezes, focamos no objeto artístico e nos esquecemos do artista. Temos de pensar no autor, em quem produz. Eles precisam de programas de assistência e de saúde”, defende o curador da mostra Dona Izabel e outros contemporâneos.

Em suas viagens pelo interior de Minas Gerais, Cabrera tem se assustado com a quantidade de artistas importantes vivendo com extrema dificuldade. “Há carência de coisas básicas”, denuncia. E dá um exemplo: “Noemisa Batista, cujas obras alcançam altos preços no mercado de arte, vive na pobreza”. Parte do problema se deve ao excesso de atravessadores no mundo da arte e do artesanato popular, garante o curador.

CENART
Exposição e venda de trabalhos realizados em diversas regiões de Minas Gerais. Cerâmica, tapeçaria, pedra-sabão e madeira. Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro,(31) 3214-5354. De segunda-feira a sábado, das 10h às 20h.


Pela cidade

Outras exposições de arte e artesanato em cartaz em unidades do Sesc 

Bichos inventados
Sesc Santa Quitéria. Rua Santa Quitéria, 566, Carlos Prates, (31) 3411-3232 e 3411-3425. De segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Entrada franca.

Cara feia para mim é carranca
Sesc Floresta. Rua Pouso Alegre, 1.647, Floresta, (31) 3279-1425 e 3279-1433. De segunda a sexta-feira, das 7h às 21h; sábado e domingo, das 7h às 18h. Entrada franca. 

Vamos recortar paisagens?
Sesc Tupinambás. Rua Tupinambás, 908, Centro, (31) 3279-1586. De segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. Entrada franca.

Cidades imaginárias
Sesc Venda Nova. Rua Maria Borboleta, s/nº (portaria principal), Bairro Letícia, (31) 3048-7458. Diariamente, das 9h às 17h. Entrada franca

Personagens
Sesc Contagem-Betim, Rua Padre José Maria Demam, 805, Novo Riacho, Contagem, (31) 2108-4511. Diariamente, das 8h às 17h. Entrada franca.

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