É sempre a economia, estúpido?
Se a economia tem, de fato, um peso grande nos resultados das eleições, o PT deve começar a se preocupar seriamente com 2014. Certo?O mais notório indicador econômico, o PIB (Produto Interno Bruto), vai mal há dois anos. A indústria patina. O investimento não decola.
Eleições presidenciais são frequentemente citadas como referendos sobre o desempenho da economia.
O impacto da oscilação de indicadores econômicos sobre a decisão do eleitor é estudado há décadas pela academia.
Essa ligação se popularizou com o termo "a economia, estúpido", cunhado por James Carville, chefe da campanha bem-sucedida do democrata Bill Clinton à Presidência dos EUA em 1992.
A fraqueza da economia dos EUA motivou a virada no humor dos americanos, que, em março de 1991, conferiam 90% de aprovação ao então presidente George Bush, mas, no ano seguinte, não o reelegeram.
Mas o que explicaria a derrota de Al Gore, vice de Clinton, em 2000, quando o país crescia com vigor havia cinco anos?
A resposta de trabalho minucioso (que analisa pleitos em 18 nações desenvolvidas entre 1979 e 2002) dos pesquisadores Raymond Duch e Randolph Stevenson é simples: a economia tende, sim, a afetar as eleições, mas nem sempre.
Além disso, segundo os autores de "The Economic Vote: How Political and Economic Institutions Condition Election Results", o peso da economia não é tão grande quanto sugere o falatório sobre o tema.
Em média, calculam, avaliações sobre a economia têm impacto de 5% a 7% na votação no candidato da situação.
Claro que há pleitos apertados em que essa variação pode ser determinante. Mas a fórmula "economia mal (bem) = garantia de derrota (vitória)" parece não ser infalível.
Mesmo que fosse, há uma peculiaridade importante -e intrigante- na conjuntura brasileira: a economia vai mal, mas o mercado de trabalho está muito bem.
Acompanhando o noticiário sobre deterioração econômica, mas empregado e vendo seu salário aumentar, o eleitor tenderia a punir ou premiar o candidato da situação?
Há outro fator em jogo. Duch e Stevenson detectaram que a chance de o eleitor votar contra o partido incumbente por problemas na economia aumenta quando ele percebe um descolamento entre a situação do país e as condições externas.
Não é à toa que o governo brasileiro insiste que a desaceleração aqui é efeito da crise externa. Por quanto tempo a tese convencerá? O desemprego resistirá em patamar tão baixo e os salários continuarão subindo se a economia não se recuperar com mais vigor?
Essas questões irão definir o peso do voto econômico no Brasil em 2014.
ÉRICA FRAGA é repórter especial da Folha.
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