Estado de Minas: 03/01/2013
O novo ano já começou e não fiz nenhuma lista de bons propósitos. Tenho porém algumas certezas acerca do meu comportamento em 2013. Sei que não deixarei de fumar, nem começarei a fazê-lo – inutilmente meu pai tentou seduzir para o fumo a adolescente que eu era, dando-me cigarreiras antigas e cigarros turcos ovais, coloridos e de biqueira dourada. Não farei regime, nem o da sopa, nem o das calorias, nem o troglodita – sem suspeitar que fosse um regime, desde bebê me alimento na linha mediterrânea. Não farei escova progressiva, os cachos que tanto desejei na infância nunca se concretizaram. Não colocarei silicone, não farei lipo, não farei plástica.
Sei, também com certeza, que cortarei as unhas, me olharei no espelho vendo a velhice avançar, olharei o mar demoradamente, agradecerei a vida e pensarei na morte.
Um novo ano é como um enorme novelo que no dia primeiro a gente começa a tricotar. Um ponto por dia. Todo dia uma laçada, um entrecruzar, uma malha que se fecha e que desliza de uma agulha para a outra, um avanço, o dia que vai para a noite, o hoje que se faz ontem. E a malha do amanhã já posta à espera.
Seria tão bom, arreando as agulhas antes de dormir, pensar: hoje tricotei melhor do que ontem. Mas a onça, ah!, a onça bebe água. Posso desmanchar a manga inteira de uma suéter, porém não me é permitido refazer uma única malha do novelo gigante. Só se pode ir em frente, em sequência, embora nossa alma avance por vezes aos saltos ou em ziguezague. A melhora de hoje não ajeita a malha errada de ontem. O tecido, visto de perto, é sempre irregular.
Só faço listas que possa cumprir. Lista de supermercado ou de feira, lista de farmácia, lista de tarefas da semana, ir ao dermatologista, cortar o cabelo, essa coisas. Faço mais pelo gosto vitorioso de ir riscando cada tarefa cumprida do que por necessidade de memória. E pelo prazer de encontrá-las depois, até anos depois, esquecidas no bolso de um casaco ou no fundo de uma bolsa, testemunhas palpáveis da minha eficiência.
Mas listas de bons propósitos, faço não. Nos anos tantos em que trabalhei como editora de comportamento de uma revista, convivi com o sistema de listas comportamentais do sistema behaviorista americano. O princípio é elementar: você faz uma lista dos seus bons propósitos, por ordem de importância. Só deverá se preocupar com o primeiro item da lista, centralizar nele todas as energias. Resolvido esse, um bom risco de caneta em cima, e o segundo item é promovido a primeiro. Assim, para se livrar de um amor que não resulta, para brilhar com os amigos ou apenas para ser mais pontual.
O sistema é simples só na aparência. Há pessoas que ficam presas no primeiro item como se tivessem caído em areia movediça. Outras veem um item já riscado reerguer a cabeça voraz como uma hidra. Muitas se tornam viciadas na lista, acrescentando novos itens só para não ter que abrir mão dela. E a absoluta maioria acaba voltando para o terreno conhecido e acolhedor do seu antigo comportamento.
No início do ano, todos se propõem ser melhores, mesmo tendo apenas uma ideia vaga de como seria essa melhoria e uma ideia mais vaga ainda de quais seriam as exigências para alcançá-la. Mas, para aplacar consciências, é sabido que o início do ano logo passa.
Sei, também com certeza, que cortarei as unhas, me olharei no espelho vendo a velhice avançar, olharei o mar demoradamente, agradecerei a vida e pensarei na morte.
Um novo ano é como um enorme novelo que no dia primeiro a gente começa a tricotar. Um ponto por dia. Todo dia uma laçada, um entrecruzar, uma malha que se fecha e que desliza de uma agulha para a outra, um avanço, o dia que vai para a noite, o hoje que se faz ontem. E a malha do amanhã já posta à espera.
Seria tão bom, arreando as agulhas antes de dormir, pensar: hoje tricotei melhor do que ontem. Mas a onça, ah!, a onça bebe água. Posso desmanchar a manga inteira de uma suéter, porém não me é permitido refazer uma única malha do novelo gigante. Só se pode ir em frente, em sequência, embora nossa alma avance por vezes aos saltos ou em ziguezague. A melhora de hoje não ajeita a malha errada de ontem. O tecido, visto de perto, é sempre irregular.
Só faço listas que possa cumprir. Lista de supermercado ou de feira, lista de farmácia, lista de tarefas da semana, ir ao dermatologista, cortar o cabelo, essa coisas. Faço mais pelo gosto vitorioso de ir riscando cada tarefa cumprida do que por necessidade de memória. E pelo prazer de encontrá-las depois, até anos depois, esquecidas no bolso de um casaco ou no fundo de uma bolsa, testemunhas palpáveis da minha eficiência.
Mas listas de bons propósitos, faço não. Nos anos tantos em que trabalhei como editora de comportamento de uma revista, convivi com o sistema de listas comportamentais do sistema behaviorista americano. O princípio é elementar: você faz uma lista dos seus bons propósitos, por ordem de importância. Só deverá se preocupar com o primeiro item da lista, centralizar nele todas as energias. Resolvido esse, um bom risco de caneta em cima, e o segundo item é promovido a primeiro. Assim, para se livrar de um amor que não resulta, para brilhar com os amigos ou apenas para ser mais pontual.
O sistema é simples só na aparência. Há pessoas que ficam presas no primeiro item como se tivessem caído em areia movediça. Outras veem um item já riscado reerguer a cabeça voraz como uma hidra. Muitas se tornam viciadas na lista, acrescentando novos itens só para não ter que abrir mão dela. E a absoluta maioria acaba voltando para o terreno conhecido e acolhedor do seu antigo comportamento.
No início do ano, todos se propõem ser melhores, mesmo tendo apenas uma ideia vaga de como seria essa melhoria e uma ideia mais vaga ainda de quais seriam as exigências para alcançá-la. Mas, para aplacar consciências, é sabido que o início do ano logo passa.
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