quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Rogério Gentile

FOLHA DE SÃO PAULO

Vacina política
SÃO PAULO - Ano Novo, falação nova. Prefeitos das principais cidades do país tomaram posse anteontem com discursos bem diferentes daqueles que os elegeram. No lugar do otimismo contagiante das campanhas, preocupação com a situação econômica. Em vez da metralhadora giratória de promessas, pedidos de ajuda e cortes de gastos.
Fernando Haddad (PT) é um dos principais exemplos. O petista arrojado da propaganda política, que, com passos firmes e mangas arregaçadas, olhava para a câmera e dizia coisas como "eu sei como fazer", "São Paulo precisa de mais em menos tempo" e a cidade necessita "de um prefeito com ideias novas", ficou lá no horário eleitoral.
Agora, ao assumir, Haddad declarou que as "tarefas não são simples" e que "não há a menor condição de levar à frente esse grande empreendimento que é a nossa cidade sem renegociar a dívida municipal". Como assim, não há a menor condição? O "homem novo para um tempo novo" vai deixar tudo para depois?
Vale notar que Haddad, ao dizer que "não há condição", repetiu Kassab, seu antecessor, aquele que o petista da campanha afirmava estar no "rumo errado". Kassab passou os últimos anos reclamando de que a dívida, "impagável", engessara a capacidade de investimento da prefeitura. E, por pelo menos quatro vezes, tentou renegociá-la com o governo Dilma. Sem sucesso algum.
Assim como Haddad, ACM Neto (DEM), em Salvador, é outro prefeito que mudou o tom da sua fala após a posse. Se, na campanha, dizia que havia chegado a "hora do povo" e que era "possível fazer muito mais", agora afirma que precisará "tomar medidas duras e até impopulares".
É claro que fazer campanha é uma coisa e governar é outra. Mas, como ninguém pode alegar que não sabia das dívidas das capitais e dos "pibinhos" dos anos Dilma, os discursos cautelosos servem de vacina para justificar as várias promessas que eles não vão cumprir.

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